Embora o governo do Paraná estivesse impedido de agir na região de fronteira, uma das razões pelas quais em 1940 a matriz Pinho & Terra criou a Colonizadora Gaúcha, que daria origem a São Miguel do Iguaçu, foi a orientação estadual de aproveitar os recursos florestais da região, antecipando-se aos madeireiros argentinos apanhados roubando madeira pelos militares que chefiavam a Prefeitura de Foz do Iguaçu.
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Com a Colonizadora Gaúcha, entram para a história do Paraná os ítalo-gaúchos Alfredo Paschoal Ruaro, Luiz Dalcanale, Arlindo Mosé Cavalca e Benvenuto Verona. O desmatamento que eles trarão será considerado patriótico. Até o corte da primeira árvore pela empresa foi festejado como feito histórico.
Além da atenção especial que a guerra obrigava o Exército a ter no patrulhamento da fronteira, a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, criada em 1924, deixa de ser uma representação estadual: era promovida a Capitania Fluvial dos Portos do Rio Paraná, aos cuidados da Marinha.
A II Guerra continua
Enquanto o governo brasileiro aprimorava a fiscalização nas fronteiras, Benito Mussolini, em 10 de junho de 1940, declarava guerra à França e Inglaterra.
Empolgado, no dia seguinte o ditador Getúlio Vargas faz um discurso pró-fascismo, a bordo do encouraçado Minas Gerais. Não ficaria só no discurso: em setembro, a Marinha inglesa aprisiona em Lisboa o navio brasileiro Siqueira Campos, que trazia armas alemãs para o Brasil.
Se as bases para as informações históricas sobre o Médio-Oeste do Paraná foram as memórias de Sandálio dos Santos (1902–1964) e Alípio de Souza Leal (1889–1974), a base dos cenários regionais dos anos 1940 veio dos prefeitos militares de Foz do Iguaçu e de Oscar Ramos Pereira (1911–1982).
A importância dos relatos começa já pela biografia de Ramos Pereira, cearense de Fortaleza nascido em 11 de abril de 1911. Primeiro da turma ao se formar no Colégio Militar da cidade natal, era aspirante a oficial da Engenharia, em dezembro de 1932, quando se integrou ao 12º Batalhão Rodoviário do Paraná.
Oscar, um trunfo para Cascavel
É desde essa época, portanto, que Ramos Pereira passa a anotar observações sobre os trechos de estradas que ajudou a construir.
Chamado a participar da construção da Escola Militar de Rezende (RJ), atual Academia das Agulhas Negras, depois da obra, em 1940, que Oscar foi lotado na Comissão de Estradas de Rodagem (CER) Paraná-Santa Catarina, encarregada de construir a futura BR-277, oficializada em 1941.
Nessa tarefa ele conheceu Cascavel, em 1952: vinha substituir o capitão Dalmo Lemos Pragana (1919–2004) na chefia da 5ª Seção da CER-1, setor regional da Engenharia do Exército criado em 1945.
Logo Oscar se apaixonou pela cidade. Para ele, era como se uma criança estivesse nascendo e precisasse de cuidados para começar a andar. Foi pensando assim que aceitou convite do prefeito José Neves Formighieri para dirigir os serviços topográficos do novo Município.
“Piquiriguaçu”
É com o apoio dessa história de íntima relação com o interior do Paraná que Oscar Pereira resumiu o que encontrou na região nessa época. Ele no início se alinhava à ótica dos representantes de Vargas no apoio à Marcha para Oeste mas também viu distorções e passou a se alinhar aos paranistas.
Em depoimento para a memória histórica de Cascavel, Oscar escreveu:
– Em 1940, como nos anos anteriores, os governos estaduais muito pouco faziam para o desenvolvimento daquela portentosa região mediterrânea, que poder-se-ia chamar, em suave e eufônica toponímia composta, Piquiriguacu, por se situar entre os grandes cursos d’água, o Rio Piquiri e o Rio Iguaçu, com assinalados destaques na História paranaense.
– Ante essa condição, o governo federal, atendendo à ótica de então, criou o Território Federal do Iguaçu, com área desmembrada dos Estados do Paraná e Santa Catarina, e sediando a capital do Território na cidade de Laranjeiras do Sul, semeando, assim, descontentamento no seio da tradicionalidade paranaense, que nunca aceitou como justo o ato do governo federal, ao estabelecer essa verdadeira capitis diminutio em relação à capacidade realizadora das administrações do Paraná, mas que feria, profundamente, todo um passado de iniciativas desbravadoras dos paranaenses, que, se melhor não puderam realizar na região territorializada, foi porque não se estendiam, nessa região, as programações administrativas governamentais.
– Bem por isto e acolhendo o desagrado dos paranaenses é que foi incentivado por parlamentares paranaenses postulando no Congresso Nacional a reintegração da área federalizada, finalmente restabelecida em 1946 com a extinção do Território do Iguaçu, que salvo a experiência de mais um grande erro no período ditatorial, nada produziu, senão que acarretou enorme dessoramento de verbas federais, inocuamente dissipadas na pretendida nova unidade territorial.
Os prefeitos militares
Foz do Iguaçu teve dois prefeitos em 1940. O tenente Abílio Rodrigues e o capitão Miguel Balsi administram então um município correspondente a um oitavo do território paranaense, exercendo cumulativamente as funções de delegados regionais de polícia.
Eles vigiam tanto a ofensiva dos argentinos no contrabando de madeira quanto a crescente chegada de colonos gaúchos que já somam nessa época ao redor de 15 mil pessoas na região (Jean Roche, A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul).
Os prefeitos militares de Foz do Iguaçu serem também chefes policiais se explica pelo decreto-lei 2.262, de 3 de junho de 1940. Com ele, o presidente Getúlio Vargas determinava que cidades de interesse estratégico passavam a ser “consideradas guarnições especiais, em virtude de estarem situadas em locais de condições de vida precária”.
Além de Foz do Iguaçu, figuravam no decreto, dentre outras, as cidades de Cáceres, Porto Velho, Macapá, Rio Branco e Oiapoque.
A estratégia do governo estadual para intervir na faixa de fronteira se baseou, assim, no incentivo à colonização por empresas imobiliárias e, nas áreas devolutas, como no Sudoeste, a ocupação da terra pela posse.
Bate-cabeça entre Estado e União
“A partir destes fatos, intensificou-se o fluxo migratório na região com famílias se estabelecendo e, dando início a uma povoação partir de 1940, o governo federal estimulou a política de ocupação de espaços vazios. Desta forma intensificou-se a colonização, com mais levas de gaúchos e catarinenses e paranaenses de outras regiões do Estado” (João Carlos Vicente Ferreira, Municípios Paranaenses, Origens e Significados de seus Nomes).
Já em 1930 uma vasta porção de terras antes entregue pelo governo brasileiro ao magnata norte-americano Percival Farquhar e sua falida empresa Brazil Railway havia retornado ao domínio do Paraná por um decreto estadual que anulou a concessão.
Dez anos depois, ignorando a medida paranaense, a União tomou para si as glebas Missões e Chopim a pretexto de se ressarcir de uma dívida da Brazil Railway junto ao Tesouro Nacional.
A incorporação foi contestada pelo Paraná com o argumento de que a empresa estadunidense não era mais detentora dos títulos de posse havia dez anos. Estará aí uma das principais causas dos conflitos de terras na região.
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