Os governos imperial e provincial paulista não correspondiam às demandas das lideranças paranaenses, que se viam forçadas a usar seus próprios meios para compensar as deficiências de infraestrutura, segurança e apoio à colonização.
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Em geral, o descaso do governo era tão amplo que no inverno de 1831 o capitão Antônio da Rocha Loures, comandante da frente colonizadora de Guarapuava, informava ao governo que não tinha mais recursos sequer para pagar os soldados em dia.
Com as instalações precárias e em desgaste, dificuldades para arrecadar tributos, rebeliões de índios inconformados com os massacres sofridos, falta de animais para transporte e escassez de alimentos, Guarapuava não tinha mais como se manter.
A crise econômica, política e militar favorecia a pregação liberal contra a centralização de poder exercida pelos conservadores. Crescia o temor, risco já concreto, de que a força armada aderisse em massa à pregação “subversiva”, colocando em risco o centro do poder imperial, no Rio de Janeiro.
Lei antiescravidão é ignorada
No início da década de 1830, período de tantos antagonismos, até uma lei benéfica, que abolia em definitivo a escravidão indígena, datada de 27 de outubro de 1831, foi simplesmente ignorada pelas autoridades e seus apoiadores.
Só mais tarde vai prevalecer a norma de considerar os indígenas como órfãos e, assim, sujeitos à tutela. Aliás, a descentralização do governo foi pior para os índios, submetidos assim à vontade dos coronéis locais.
Desde a expulsão do padre curitibano Francisco das Chagas Lima da vanguarda colonizadora de Guarapuava a tarefa de “civilizar” os índios na região ficou prejudicada.
Patrocinados pelos coronéis ávidos por mão de obra escrava para trabalhar nas fazendas, cujos territórios ganharam em pagamento por serviços prestados nas bandeiras de ocupação, os índios catequizados atacavam as tribos inimigas – as “selvagens” – com três resultados possíveis: massacres, sequestro de mulheres e crianças e expulsão dos remanescentes.
Região abandonada pelo Império
O fracasso do aldeamento de Atalaia foi comunicado ao governo paulista em março de 1832 pelo fiel do almoxarife e escrivão da Expedição de Guarapuava, Francisco Manuel de Assis França. Denunciava que a aldeia “não passava de um barracão onde os índios viviam amontoados e sujeitos a enfermidades”.
Ficou só na denúncia. As autoridades imperiais estavam mais preocupadas com as rebeldias de escravos africanos e “liberais exaltados” nas grandes cidades, relaxando os cuidados com as frentes de colonização, como Guarapuava e Rio Negro.
Na desassistida frente de vanguarda de Guarapuava, o comandante Rocha Loures comunicava ao governo que a degradação do aldeamento de índios na região acontecia por motivos diversos.
Listava “as perdas pelas moléstias e epidemias, pelo deslocamento para outras fazendas, as saídas e fugas para o mato, as péssimas condições em que eram alojados, a falta de mantimentos como roupa e comida”.
Com isso, o número de indígenas diminuía, os salários dos militares e demais trabalhadores não eram pagos havia meses e “a falta de mantimentos para os índios era constante” (ofício ao presidente provincial Rafael Tobias de Aguiar, 1º de junho de 1832).
5ª Comarca, ilusão de autonomia
Antes inimaginável, passível de prisão sob as ordens de Portugal, a queixa do chefe militar já sinalizava para a ousadia dos líderes locais em manifestar desagrado frente às condições de quase indigência em que se encontravam.
É o início de um crescendo de insatisfação que acompanhava o sentimento geral das manifestações mais aguerridas nas regiões em que as oligarquias locais já contavam com força militar suficiente para desafiar o regime monárquico centralizador.
Para acalmar o ímpeto reivindicativo dos paranaenses, no final de novembro o governo paulista cria a 5ª Comarca da Província de São Paulo, com sede em Curitiba.
A Comarca era constituída do Paraná de hoje mais a atual porção Oeste de Santa Catarina. Deveria ser um elemento de descentralização, mas não passou de formalidade.
Moléstias e epidemias
Em 1833, a Freguesia de Nossa Senhora de Belém, vanguarda de colonização nos Campos de Guarapuava, era habitada por 465 pessoas, das quais 87 eram índios e 56 escravos.
Todos viviam em 98 casas: 24 no setor urbano, 29 nas áreas de lavoura ao redor da vila, 29 taperas dos pobres que viviam em pequenos quinhões de terra próximos à mata e mais 16 moradas de “fazendeiros que possuíam as melhores e maiores glebas de terra e eram os donos dos grandes rebanhos de animais”, informava o comandante Rocha Loures.
“As agruras da terra não eram só o perigo dos índios, mas também o perigo das moléstias e epidemias que dizimavam as pessoas do povoado, e, principalmente, atingiam os indígenas. Eles eram os que mais morriam em contato com essas epidemias, por sua maior fragilidade em relação a essas doenças. As péssimas condições em que eram alojados estes índios também eram determinantes da proliferação de doenças, bem como a ausência de uma enfermaria e de um médico” (Almir Antonio de Souza, Armas, Pólvora e Chumbo: A Expansão Luso-Brasileira e os Indígenas do Planalto Meridional na Primeira Metade do Século XIX).
Sem gado nem farinha
Segundo o relato do escrivão Francisco Manuel de Assis França, os índios estavam mal alojados em uma casa pouco espaçosa, doentes e sem cuidados. “Viviam dentro de um único barracão, com suas esteiras amontoadas, e com toda a sorte de enfermidades, onde não havia médico, e nem enfermaria”.
Também faltava comida, prejudicando inclusive o abastecimento do contingente militar, no qual as reclamações com relação aos atrasos do pagamento de soldo eram constantes. Até o comandante da expedição, Antônio da Rocha Loures, reclamava dos salários, cujo atraso em janeiro de 1833 já chegava a 18 meses.
O comandante Rocha Loures já estava “matando o ultimo gado para sustento da tropa” e a insatisfação era geral, pois os soldos eram o único recurso dos militares.
“(…) sem eles não podiam sobreviver, sequer para comprar farinha, que já tinha acabado” (Benjamin José Gonçalves, alferes do destacamento de Guarapuava, ofício ao presidente da Província de São Paulo).
Eleições retardam a revolução
Conspirando contra os grupos conservadores, os liberais tiveram ampla maioria nas eleições de 13 de março de 1833. Sempre à espreita para desfechar um golpe e assumir o poder, agora venciam pelo voto. “As urnas tornaram desnecessária a revolução”, dizia-se, na época.
Mas o clima que antecedeu às eleições era de uma política radical, praticada com extrema violência entre liberais e conservadores.
As notícias sobre a eclosão de um golpe militar em Ouro Preto, então a capital mineira, em 22 de março de 1833, chegaram oficialmente ao Paraná em 7 de abril, quando a Câmara da Vila Antonina acusou o recebimento de ofício do governo paulista relatando os “funestos acontecimentos”.
A conspiração liberal não iria parar e os líderes do futuro Paraná teriam que escolher um lado.
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