Depois de ter negado o domicílio eleitoral em São Paulo, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) passou a percorrer o Estado do Paraná visando consolidar sua pré-candidatura. Só falta decidir para qual cargo: senador, governador ou deputado federal.
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Esta semana ele cumpriu agenda de dois dias em Cascavel, a convite do vice-presidente do seu partido no Paraná, Nelsinho Padovani, pré-candidato a deputado federal. Em entrevista, Moro disse que possivelmente na próxima semana deve anunciar o cargo que disputará em outubro, afirmando que as pesquisas apontam para um quadro confortável para o Senado.
Veja o vídeo da entrevista e mais abaixo uma resenha dos principais trechos da entrevista.
O senhor criou fama como juiz especialmente pela Operação Lava Jato. Mas o que gerou depois esse seu interesse pela política?
Sergio Moro – Eu tinha uma percepção em 2018 que haveria uma reação do sistema político quanto aos avanços no combate à corrupção. E de fato houve. Eu vi ali uma oportunidade de ir a Brasília como Ministro da Justiça e me posicionar como uma barreira a estas reações. Claro que além disso, você tem uma série de outras expectativas de mudança. Por exemplo, poderia implantar uma política pública que reduzisse os assassinatos no Brasil, como aconteceu em 2019 em comparação com 2018. Isso foi algo gratificante. Houve uma queda do número de assassinatos de 22% em 2019 em relação a 2018. Programas que a gente criou contribuíram para isso. Depois que eu sair do ministério eu não desisti disso, eu sou um lutador, eu quero levantar essas bandeiras novamente.
A princípio o senhor seria candidato por São Paulo e depois teve que optar pelo Paraná por causa da questão do domicílio eleitoral. Como assimilou isso e por que originalmente escolheu São Paulo?
Sergio Moro – São Paulo é o maior colégio eleitoral do Brasil e a minha candidatura pelo estado era uma questão de estratégia para o partido. Mas quando saiu a decisão, eu fiquei particularmente muito feliz em retornar ao Paraná. A palavra correta é que eu fiquei radiante, porque aqui eu nasci, cresci, constituí a minha família, fiz o trabalho mais relevante da minha carreira profissional, que foi a Operação Lava Jato.
Como o senhor vê a política hoje, participando diretamente dela?
Sergio Moro – Eu sempre vou defender a mesma coisa, ou seja, a integridade na política. Que a política seja para melhorar a vida das pessoas e não a vida dos políticos. Acima de tudo o que nós precisamos na política é de integridade e honestidade, caso contrário não chegaremos a lugar algum.
O senhor inicialmente se filiou ao Podemos do senador Álvaro Dias e repentinamente trocou de partido, filiando-se ao União Brasil. O que motivou essa mudança partidária tão precoce?
Sergio Moro – Eu ingressei no Podemos com o objetivo de tentar romper a polarização com uma candidatura presidencial. Mas a percepção foi de que a estrutura do partido isolada não seria capaz de vencer essa polarização. Além disso, houve outros problemas. Fui para o União Brasil, que é o maior partido do país. Isso é importante para a gente construir um projeto político que vise um projeto nacional. O União Brasil tem hoje um candidato à presidência que é o Luciano Bivar e, além disso, está se estruturando para atuar de uma maneira responsável nos próximos anos.
O União Brasil Surgiu da fusão do Democratas com o PSL, partido anterior do presidente Bolsonaro e ainda tem nas suas fileiras muitos bolsonaristas. Isso não lhe gera algum desconforto dentro do partido?
Sergio Moro – Não, de forma alguma. Eu já venho tendo uma postura de certa forma independente. Quando eu fui juiz, fiz o meu trabalho, não fechei os olhos para a corrupção e fui firme. Depois, como ministro da Justiça, a gente desenvolveu uma série de políticas públicas importantes na área de segurança contra o crime organizado e contra a criminalidade violenta. Mas não tendo espaço no combate à corrupção eu preferi sair e manter a minha coerência. A mesma coisa eu vou fazer em qualquer partido que esteja. No União Brasil eu mantenho a minha coerência e a minha integridade. Claro que tem muita gente que compartilha dos mesmos ideais e têm pessoas que divergem em alguns outros pontos e nós temos que respeitar as divergências.
As pesquisas apontam que a eleição presidencial será decidida entre dois extremos. Lula ou Bolsonaro polarizam a disputa e um dos dois deverá ser o próximo presidente. Como será o seu comportamento diante disso?
Sergio Moro – A depender do resultado das eleições e esse resultado pode ser ruim para o país se depender desses extremos, eu devo me posicionar conforme os meus valores e sendo assim eu serei de oposição. Não estou almejando um cargo público, um mandato, para simplesmente aderir ao governo do momento. O meu interesse é defender a população que hoje, por exemplo, está sofrendo muito com a inflação, vendo diminuir o seu poder aquisitivo.
Como o senhor, que não está em nenhum destes lados extremos, pretende construir a viabilidade de uma candidatura?
Sergio Moro – Penso que os eleitores paranaenses procuram em primeiro lugar bons candidatos, além de boas ideias e bons projetos. Nós estamos circulando pelo Paraná apresentando projetos e propostas e também para ouvir sugestões. No fundo, o que as pessoas querem são soluções para os problemas reais delas. As pesquisas apontam que existe um caminho alternativo. Inclusive, uma que saiu na semana passada me aponta na liderança se o Senador for o meu caminho a percorrer. Por isso estou bem tranquilo quanto a minha relação com a população paranaense.
O senhor citou uma pesquisa da semana passada, mas outra pesquisa divulgada essa semana mostra a liderança de Alvaro Dias para o Senado. É isso que coloca a decisão de qual cargo concorrer em dúvida?
Sergio Moro – Não, de forma alguma. Tenho acesso a pesquisas que me deixam numa situação confortável para qualquer cargo que eu queira concorrer no Paraná. Em relação a resultados diferentes, precisa ser analisado qual é o instituto que fez, qual a sua credibilidade e qual é a legitimidade. A gente tem confiança, mas precisa tratar isso com humildade. Afinal de contas, quem decide é o eleitor. A minha decisão deve ser anunciada em breve, na próxima semana ou no mais tardar na semana seguinte.
Existe a possibilidade de vir a concorrer para deputado federal, vindo a ser um adversário do Nelsinho Padovani, por exemplo?
Sergio Moro – Dificilmente nós seremos adversários. Se eventualmente houver uma disputa para a Câmara, há espaço para muita gente ali. Mas isso vai ser definido em breve. Existem essas pesquisas em que me posiciono bem para o Senado e isso gera evidentemente uma tentação. Mas o anúncio vai ser feito um pouco mais adiante.
O senhor deixou o Ministério da Justiça alegando interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal. Agora, no caso do Ministério da Educação, novamente surgem rumores de interferência. O que o senhor pensa sobre isso?
Sergio Moro – Minha convicção sempre foi de qualquer caso suspeito de corrupção ou de qualquer espécie de crime praticado por quem quer que seja precisa ser rigorosamente investigado. Este sempre foi o meu posicionamento. Eu deixei o Ministério da Justiça porque tinha o entendimento que aquela interferência na Polícia Federal com a qual eu não concordava iria tirar a autonomia da Polícia Federal. Apesar de ser uma instituição que eu respeito, a Polícia Federal não tem funcionado como, por exemplo, na época da Lava Jato. Esse fato novo envolvendo o presidente precisa ser apurado, mas eu não faria qualquer juízo antecipado sobre isso.
O Moro foi a principal figura de combate à corrupção no governo do PT e agora no governo Bolsonaro ele comenta que acabou a corrupção. E aí?
Sergio Moro – A gente não pode ser ingênuo e achar que acabou a corrupção no Brasil seja no governo federal, nos estados, nos municípios, nas empresas públicas, em todo lugar. O preço da integridade precisa ser a eterna vigilância. A gente precisa ter instrumentos e controles, precisa ter uma política independente. Um dos nossos projetos é uma lei de proteção à investigação, porque hoje, apesar do grande respeito com a Polícia Federal, eu não vejo mais ela com a mesma autonomia que teve no passado. Isso é válido também para as polícias estaduais. Quando eu era Ministro da Justiça não raramente eu era informado de estados nos quais teria havido interferência em departamento de polícia, especialmente envolvidos em investigações contra a corrupção e que delegados eram afastados. Por isso a gente tem que trabalhar de uma forma para dar ao policial, ao Ministério Público, a autoridade necessária. Quando ele for mexer com interesses poderosos que não vá ser punido, não vá sofrer retaliação, para que ele possa desenvolver o seu trabalho. Temos que olhar para o futuro em relação a isso.
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