O rigoroso inverno de 1952 foi compensado pela afirmação das comunidades que compunham a Rota Oeste, qualificação que se deu ao trecho da atual BR-277 entre Cascavel e Foz do Iguaçu.
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Embora mais próxima a Cascavel, que se tornara Município em novembro do ano anterior, o jovem povoado de Matelândia e o território de sua colonização não foram integrados ao território cascavelense.
Se isso acontecesse, o território do Município de Cascavel ficaria excessivamente grande para os parcos recursos da Prefeitura que só seria instalada em dezembro, após a eleição do primeiro prefeito, marcada para novembro.
Por isso Matelândia, em 21 de julho, passou à categoria de Distrito Administrativo de Foz do Iguaçu. O mesmo aconteceu dez dias depois com Medianeira. Uma espécie de irmã de Matelândia, a colonização de Medianeira foi empreendida pela Companhia Industrial Agrícola Bento Gonçalves, de Alberto e Luiz Dalcanale.
Os dois estavam associados a Alfredo Paschoal Ruaro, todos também participantes da formação de Toledo e da colonização da Fazenda Britânia, promovida pela Companhia Maripá.
Os três também fundaram a colonizadora a Pinho e Terras para administrar uma ampla área outrora pertencente à família Matte que se estendia no entorno de Foz do Iguaçu.
O núcleo urbano de Medianeira, nome definido como homenagem à santa padroeira, consolidou-se rapidamente. Matelândia, por sua vez, teceu ligações essenciais com a comunidade de Cascavel, por conta da proximidade.
Milholândia ou Sojalândia?
Por essa época, às vésperas de se tornar Município de fato e de direito, que aconteceria com a eleição e posse de primeiro prefeito, Cascavel recebe um grupo de famílias atraídas pela oferta de riqueza, que viria ao adquirir terras para plantar café na região de Cafelândia.
O nome de Cafelândia é uma herança do atraso na estrutura de extensão rural e da ânsia dos colonizadores para atrair compradores, oferecendo a garantia de ótimas safras de café, cultura que fazia o Norte do Estado progredir.
Os compradores ignoravam duas coisas, pelo menos, ao se entusiasmar com a perspectiva de enriquecer em poucos anos.
Primeiro, a região sofria o crescimento da luta pela terra, sobretudo entre posseiros já com anos de presença na região e colonizadores privados, tendo como pano de fundo a disputa judicial sobre questões dominais de terras entre a União e o Estado do Paraná na faixa de fronteira.
Segundo, os compradores de terras não estavam informados de que grande parte das áreas oferecidas pelos corretores alternavam safras razoáveis de café com quebras enormes por conta das geadas.
Por conta disso, sem assessoria imobiliária e legal, os colonos do Sul ansiosos para trabalhar com o café chegavam sem saber que a lábia dos corretores, legais ou ilegais, omitia as frequentes geadas.
As famílias que vieram e não foram expulsas pelos jagunços nem pelas geadas precisaram migrar logo do café para hortelã e em seguida para outras culturas favorecidas pelo mercado internacional – em breve, com seu território agrícola amplamente coberto de soja, milho e trigo, do café só restou o nome Cafelândia.
O sonho negado pela insegurança agrária
O gaúcho Ítelo Webber, nascido em 1919 em uma localidade chamada Estação Erechim, decidiu vir ao Paraná confiando na qualidade da terra vermelha. Estação Erechim, situada no Noroeste do RS, mudou de nome para Getúlio Vargas em 1934, ao se tornar Município.
Já casado com Rosa Webber, com quem teve os filhos Dimer José, Valdir Antônio e Mirtes Maria, Ítelo se transferiu para Videira (SC), onde trabalhou até vir para a região de Cafelândia.
Ítelo Webber partiu da região central catarinense sem informações sobre o agravamento da guerra no campo, que confrontava posseiros e jagunços.
A propriedade em que os Webber iriam se instalar não estava regularizada e a família perdeu tudo o que investiu na transferência ao Paraná. De resto, o tumulto criado pelos conflitos forçou o governo do Paraná a suspender o registro de novas posses de terras devolutas.
Webber, assim, viu-se desamparado naquele frio julho de 1952, com a família à espera de uma definição e a mudança que trouxe ainda em cima de um caminhão que transportava cereais.
O condutor do caminhão avisou:
“Seu Ítelo, eu preciso carregar o milho e voltar logo pra Videira. O senhor dê um jeito de encontrar um local para descarregar a sua mudança ou me obrigarei a derrubá-la em qualquer lugar por aí”.
A tática de segurar viajantes
A cidade de Cascavel então se limitava às quadras mais próximas da Avenida Brasil entre a Igreja de Santo Antônio, então sede da recém-criada Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, e a Rua Moysés Lupion (atual Sete de Setembro).
Autorizado a montar acampamento precariamente no campo de aviação, junto ao um poço, Ítelo foi procurado por Sabino, administrador de um dos hotéis:
“Seu Webber, eu não posso deixá-lo expor a sua família, assim, em uma barraca. Quero que fiquem no meu hotel”.
Webber recusou, porque não teria como pagar pela hospedagem nem onde colocar a mudança. Seguiu-se um diálogo (transcrito por Valdir Pacini no livro O Sonho de um Pioneiro) somente possível naqueles dias de pioneirismo, em que os cascavelenses seguravam na cidade quem pudesse contribuir para a afirmação do local como centro-polo da região:
– Não se preocupe. Tenho uma pequena casa nos fundos do hotel onde o senhor poderá amontoar a sua mudança e ficar com a sua família.
– Mas e o aluguel? Quanto o senhor vai me cobrar?
– Não se preocupe com isso também. O senhor não deve ter dinheiro, mas certamente sabe fazer alguma coisa…
– Eu vinha trabalhando de vendedor, mas já trabalhei de alfaiate.
Como a cidade não tinha alfaiate, Ítelo aproveitou a oportunidade aberta e começou a trabalhar de imediato
A tática de segurar viajantes para povoar Cascavel vinha desde que Jeca Silvério conseguiu a posse das terras ao redor da Encruzilhada, em 1930, formando a cidade e oferecendo oportunidades aos viajantes.
Atividades rurais e urbanas
Com a família trabalhando, o filho mais velho, Dimer José, 14 anos, já em atividade e o do meio, Valdir Antônio, 13, vindo no fim do ano após terminar estudos em Videira, Ítelo tratou de distribuir os negócios da família entre a cidade e o campo.
Na esquina da Avenida Brasil com a Rua Osvaldo Cruz, em sociedade com o futuro vereador e prefeito Helberto Schwarz, iniciou-se no comércio de calçados. A esposa Rosa completava os serviços da alfaiataria como costureira de calças
No campo, Webber foi o pioneiro da avicultura cascavelense com uma granja de poedeiras. Logo em janeiro de 1953 ele se associou a Tarquínio Joslin dos Santos na fundação da Associação Rural de Cascavel.
Ítelo foi muito ativo na ARC, entidade que ditava os rumos da economia cascavelense antes de ser forçada pelo governo ditatorial de 1964 a se transformar em sindicato.
Em 1965, o presidente da ARC, Antônio Simões de Araújo, tendo Webber como seu vice, retardava a formação do sindicato, procurando centrar esforços na preparação técnica dos agricultores.
Focado no aprimoramento da agropecuária, Webber encomendou naquele mesmo ano uma análise do solo cascavelense ao Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas do Estado com amostras de terra para saber a viabilidade da produção de leguminosas e de cereais.
Os técnicos concluíram que as amostras indicavam elevada acidez e deficiência em fósforo na terra, recomendando atenuar a acidez com calcário e adubar com fosfatos no plantio.
Renúncia honrou a família
Acima de tudo, a intenção de Simões e Webber era transformar a ARC em cooperativa independente e não um instrumento do governo, mas havia uma intensa propaganda dos atravessadores contra o cooperativismo.
Simões não suportava as pressões que por todos os meios bloqueavam o cooperativismo, sistema acusado de ser “comunista”. Adoeceu e se licenciou da presidência para tratamento de saúde, passando o comando da ARC ao vice-presidente Ítelo Webber.
Eram tempos de ditadura. A máscara do regime caiu em 1968, com a imposição do famigerado AI-5, completando o controle sobre as entidades da sociedade civil.
Simões, recuperado, voltou às atividades e Webber à vice-presidência, mas depois de longa resistência decidiu não aceitar mais as pressões que limitavam a atuação da ARC. Em fevereiro de 1972 ele apresentou a renúncia à vice-presidência em caráter irrevogável.
Embora se confessando surpreso com a atitude, Simões agradeceu a Webber, substituído na função por Antônio Cassol, jovem pecuarista nascido em Ijuí (RS) e estabelecido no Espigão Azul, ligado à família Tombini.
Nessa época, a ARC já havia se transformado em sindicato e o cooperativismo havia vencido, com a criação da Coopavel em 1970. Webber abria mão de participar do centro de decisões da vida cascavelense, mas os filhos Dimer e Valdir já começavam a influir nos rumos da cidade.
Dimer se tornou um importante líder empresarial paranaense. O advogado Valdir foi secretário municipal de Cascavel. E Mirtes (casada com José Heitor Dotto, com quem se transferiu para Foz do Iguaçu), contabilista e administradora, é, a exemplo da mãe Rosa, referência importante da força da mulher na sociedade oestina.
Avô do reitor da Unioeste, Alexandre Webber, por sua vez filho de Valdir Webber, Ítelo morreu em 24 de dezembro de 1991. Para homenagear a memória de Webber o Município emprestou seu nome à avenida que leva ao Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva.
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