Criado em setembro de 1943, o Território Federal do Iguaçu teve um primeiro ano desafiador. As famílias de imigrantes chegavam em busca do Eldorado que os salvaria da minifundiarização resultante do retalhamento das propriedades das famílias numerosas no Sul.
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A família numerosa era uma necessidade para os diversos trabalhos da economia rural, mas duas gerações, muitas crises nacionais e a Guerra Mundial semearam inseguranças no interior brasileiro.
Sendo a novidade do ano, o Território Federal do Iguaçu daria ânimo às famílias de migrantes/filhos de imigrantes. Circulava no Sul a noticia de que bastava a família chegar e tomar posse das terras que conseguisse ocupar.
A Lei de Terras, que obrigava a aquisição de terras somente mediante compra, de fato liberou as áreas de terras devolutas para os posseiros, mas antes que a corrida ao Oeste começasse as terras mais propícias já estavam griladas em cartórios e ocupadas por empresas colonizadoras.
Para complicar, havia a dupla ou tripla titulação, fruto de uma interminável guerra judicial entre a União e o Estado. Com isso, quem trazia algum dinheiro se dava melhor, adquirindo áreas sem contestação.
No entanto, quem precisou tomar posse das terras que o Estado do Paraná havia liberado em seus projetos de colonização teve que enfrentar as manobras federais, grileiros e jagunços armados.
Garcez: sob pressão e sem apoio
As tratativas, a burocracia e o ditador Getúlio Vargas demoraram, erraram e não planejaram com cuidado, criando o Território Federal do nada, apenas com algumas escassas instalações estaduais ex-paranaenses e o quartel do 1.º Batalhão de Fronteira em Foz do Iguaçu.
O primeiro governador territorial, João Garcez do Nascimento, só foi nomeado em 6 de janeiro de 1944. Velho conhecido de Vargas, Garcez se desdobrou para tomar as primeiras providências para instalar o Território e receber o presidente em Foz do Iguaçu, em 27 de janeiro.
Vargas, que também visitaria as Sete Quedas, em Guaíra, veio e participou de ato no 1º Batalhão de Fronteira, em Foz do Iguaçu.
O escritor Euclides da Cunha, ao estudar a Amazônia, em 1909, escreveu que “A geografia prefigura a história”. Vargas pôde sentir isso ao ser agraciado com uma de recepção solene, com baile, em um clube que tinha o nome do Estado mutilado: “Oeste Paraná Clube”.
O Iguaçu tentava sair do Paraná, mas o Paraná não saía do Iguaçu. Ficava sem sentido O estado do Paraná ter quase todo o Rio Iguaçu em seu território e não ter mais o Rio Paraná, que lhe justificava o nome.
Algo não estava funcionando, desde o início, mas na mídia tudo funcionava bem. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura fazia uma intensa divulgação do programa “Marcha para o Oeste” como realização atual, embora fosse ação já em curso desde os bandeirantes, melhorada nem depois por Cândido Rondon.
Primeira promessa: 90 milhões. Segunda: 5 milhões
Percorrendo longos trechos de estradas que notou em péssimo estado, o Iguaçu que o chefe da Nação encontrou foi um apelo dramático por infraestrutura, ao qual respondeu com uma promessa:
“O presidente Vargas, indo de automóvel até a ponte do Rio Tibagi, a todos cativou, prometendo 90 milhões de cruzeiros para terminar com a construção [da atual BR-277] até o fim de 1946” (Oscar Ramos Pereira, Rodovias Paranaenses Construídas Pelo Exército).
O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que veio suceder à antiga Comissão de Estradas de Rodagem Federais, de fato elaborou o Plano Rodoviário Nacional, com o Decreto 15.093, de 20 de março de 1944, mas fixou para a obra investimentos de apenas cinco milhões de cruzeiros.
Os recursos restantes prometidos por Vargas até o final de 1946 esbarraram na marcha da história: ele não terminaria nem a obra nem seu governo. Seria derrubado antes disso.
O Plano Rodoviário previa a construção de 27 linhas principais em todo o país. Uma delas, a rodovia “Paranaguá–Iguaçu”, com a extensão aproximada prevista de 878 quilômetros, que jamais chegou a ser chamada de “Estrada XVIII”, como constava no Plano Rodoviário original.
Surge o primeiro prefeito de Cascavel
Também feito sem cuidado, o Plano Rodoviário Nacional teve que sofrer uma revisão. Nela, a rodovia “transversal” ligando Paranaguá, Curitiba, Prudentópolis, Relógio, Guarapuava, Laranjeiras do Sul, Guaraniaçu, Cascavel e Foz do Iguaçu teria o número 35, com uma extensão de 773 quilômetros. Sua numeração definitiva viria a ser “BR-277”.
Habituado a construir estradas em Santa Catarina, para participar dessa construção José Neves Formighieri se mudou para Curitiba. Futuro prefeito de Cascavel, na época com 27 anos e trabalhando com o pai, Virgílio Formighieri, Jose Neves assumiu a empreitada de trechos da atual BR-277 na Serra do Cavernoso e da estrada Laranjeiras–Pato Branco.
O resultado das pesquisas sobre as necessidades da região feitas às pressas pelo major João Garcez do Nascimento chegou ao Rio de Janeiro, então a capital federal, em abril de 1944.
Foi dirigido ao ministro Alexandre Marcondes Filho (1892–1974), da Justiça e Negócios Interiores, que se mostrou inoperante frente às necessidades apontadas.
O curioso caso de Marcondes
Inimigo de Vargas nas eleições de 1930, o paulista Marcondes Filho também o atacou na Revolução Constitucionalista (1932), mas foi cooptado e se tornou um superministro na ditadura do Estado Novo.
Foi Alexandre Marcondes quem montou a estrutura fascista de controle dos trabalhadores durante o regime do Estado Novo e preparou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que a esquerda via como cópia da Carta del Lavoro de Mussolini (1927) e os liberais criticavam por aumentar o Custo Brasil.
Em seu relatório, o major Garcez do Nascimento fez ver ao superministro que havia extrema necessidade de instalar energia elétrica no Iguaçu por meio de geradores movidos a motores.
Sugeriu, nesse caso, a destinação de recursos para montar a estrutura de fornecimento de energia elétrica para as principais cidades da região, que teria o custo de 60 milhões de cruzeiros, mas o governo ignorou o assunto até o fim da ditadura.
O quartel da antiga colônia Militar do Iguaçu chegou a ter energia elétrica a diesel, mas só em 1942 Foz do Iguaçu ganhou a Usina de São João. Mas até Laranjeiras, a nova capital, estava às escuras.
Cascavel, a chave rodoviária
O governador nomeado para o Território também sugeriu abrir uma rodovia entre Cascavel e o Porto Britânia, com 80 km, outra de Cascavel a Central Santa Cruz e dali ao Piquiri, também com total de 80 km. Garcez compreendeu que era fácil pedir, mas difícil ser atendido.
Como reflexo das trapalhadas que envolveram a criação do Território, a escolha da capital também foi um parto: os militares do 1.º Batalhão esperavam que fosse Foz do Iguaçu e o engenheiro Luiz Carlos Tourinho, que estudou profundamente a região, sugeriu Cascavel por sua localização geográfica invulgar. “A geografia prefigura a história”…
Com isso, a definição da capital só foi resolvida pelo decreto 6.550, em 31 de maio de 1944, oito meses depois da criação. Aliás, mal resolvida, pois determinou a cidade de Laranjeiras do Sul como a capital, sem perceber que esta cidade continuava pertencendo ao Paraná.
No fim, um ano perdido
Para contornar mais esse lance de comédia pastelão, os burocratas da ditadura tiraram da cartola em 21 de setembro de 1944, um ano depois de criado o TFI, o decreto federal 6.887, que tomava Laranjeiras do Paraná e lhe dava o novo nome de “Iguaçu”.
O decreto se referia à organização judiciária do Território Federal, determinando que ele seria dividido em quatro comarcas judiciárias, com sedes nas cidades de Iguaçu (ex-Laranjeiras do Sul), Foz do Iguaçu, Chapecó e Clevelândia.
Também resultado das confusões da época entre os militares do 1.º Batalhão de Fronteira e os prefeitos nomeados pela ditadura, em 1944 o Município de Foz do Iguaçu teve dois prefeitos: Emílio Correia de Oliveira, nomeado em outubro, mas sem qualquer registro de ações, substituído em dezembro pelo professor Acácio Pedroso. O ano foi praticamente nulo.
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