Os territórios permitidos aos reinos de Espanha e Portugal teriam que ser comprovados por pessoal especializado (“astrólogos e marinheiros e quaisquer outras pessoas que convenham”). Com a morte do rei português João II em outubro de 1495, as comprovações das “descobertas” portuguesas foram apresentadas à Santa Sé pelo novo rei, d. Manuel I.
O papa Júlio II confirmou o Brasil como português em 1506, mas vinte anos ainda se passariam até que algum europeu pisasse em território oestino para fazer o registro escrito da passagem.
As ações nesse sentido começaram quando o navegador lusitano João Dias de Sólis matou a esposa em seu país. Também acusado pelo roubo de uma caravela, fugiu para a Espanha e se refugiou em Castela, onde havia grande procura por marinheiros experientes.
O uxoricídio cometido por Sólis e o roubo da embarcação lhe deram o prêmio de servir como piloto-maior na poderosa Armada espanhola. Foi assim que ele passou à história mundial em 1512 por descobrir o estuário do Rio da Prata, que supunha ser uma passagem para o Oceano Pacífico. Começava nesse momento a formação da América espanhola.
Canibalismo e dúvidas históricas
João Sólis não chegou a receber vantagens pelo feito. Após ancorar no Porto dos Patos (Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis) para reabastecer a frota de lenha e água, é morto em fevereiro de 1516 pelos índios Charruas e devorado em ritual canibalesco.
Os marinheiros de Sólis ali ficaram. Dentre eles se destacou Aleixo Garcia. Casado ali com uma índia, Garcia teve um filho com ela e soube da existência de uma “serra da prata” localizada a Oeste. Planeja uma longa exploração, que o levaria até o Oeste do Paraná, ao Chaco e ao Potosi.
Em novembro de 1519, Hernán Cortéz entra com 500 homens em Tenochtitlán, capital do México, dando início à destruição do Império Asteca. O avanço espanhol na América provocou novas conversações sobre limites com Portugal. A primeira foi em Badajoz (1521), sem sucesso.
Dívida obriga a buscar riquezas
O rei Manuel I morre em Lisboa, em dezembro de 1521. Célebre por seu reinado ter “descoberto” o Brasil, até o fim da vida o monarca priorizou as Índias. O Brasil, para ele, era apenas uma prisão onde despejava degredados, criminosos e prostitutas. Seu filho João III, também filho da princesa espanhola Maria de Aragão, assume o trono, aos 19 anos. Foi ele quem decidiu aproveitar o Brasil conquistado em benefício da economia portuguesa.
João III encontrou a terra portuguesa esturricada por tremenda seca que mirrou as colheitas, trazendo a miséria e a peste. Obrigou-se a fazer empréstimos externos e logo perceberá que o Brasil seria a salvação. Ao criar as Capitanias Hereditárias, em 1532, passou à história com o cognome “O Colonizador”.
Por ora, entretanto, a iniciativa era privada: Aleixo Garcia, informado de que a Oeste havia um “serra de pura prata” onde vivia um povo que usava objetos de ouro e prata como enfeites e utensílios, organizou com mais quatro companheiros um grupo que chegaria a 400 “índios flecheiros”, sobretudo Carijós. Incluindo mulheres e crianças, cerca de dois mil integrantes.
Teriam a percorrer um longo caminho de Porto dos Patos aos Andes e no meio da viagem encontrariam o desconhecido Oeste do atual Paraná. Iniciada no verão de 1524, a expedição de Aleixo Garcia foi a primeira empreendida por europeus à região, sem conhecimento dos reis ibéricos ou da Santa Sé.
Esta, porém, é uma história cercada de sombras. Aleixo Garcia, tido como o primeiro português a desbravar o Paraná, teve sua origem lusa contestada pelo historiador Efraím Cardozo, para quem o aventureiro na verdade seria espanhol.
Assalto ao voltar para casa
Garcia partiu do litoral de Santa Catarina para uma jornada que lhe tomaria cerca de três anos, passando pelos territórios dos Guaranis – Campos Gerais, Piquiri e Iguaçu no atual Paraná, Paraguai e Bolívia – devassando o sertão até alcançar a fronteira do império Inca. Uma “cidade” em movimento rumo ao paraíso prateado, portanto, faz a primeira viagem terrestre que se tem notícia de europeus pelo interior do Sul brasileiro.
No itinerário de maravilhas e desafios, a expedição conheceu as Sete Quedas e as Cataratas do Iguaçu. Seis anos antes do conquistador Pizarro, Garcia e seus Carijós haviam conhecido o império inca e percorrido uma grande extensão do futuro domínio espanhol.
Foi uma jornada de muitas lutas com os índios que viviam no trajeto, mas Garcia conseguiu ir e recolher muita prata. Ao retornar em 1525, porém, no centro do atual Paraguai, já a caminho da foz do Rio Iguaçu, sofre um ataque noturno, morre e é devorado pelos agressores.

Na próxima semana:
Extinção, o duro castigo de quem devorou os exploradores ibéricos
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