O final da II Guerra e a Companhia Melhoramentos

Entre o Paraná e o Iguaçu, o gafanhoto. Enquanto a região colonizada pela Companhia Melhoramentos era um sucesso, o Território Federal penava com má gestão e problemas sociais

Embora distante do teatro de operações, o Oeste do Paraná sofreu influências indiretas da II Guerra Mundial. Tais influências também se deram porque a Argentina de Perón era mais simpatizante e ligada ao nazismo que o núcleo duro estado-novista de Getúlio Vargas, mais próxima do fascismo italiano.

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O alcance maior das consequências históricas veio do fato de que, sendo tempos restritivos de guerra, a Inglaterra buscava repatriar seus capitais. Além das urgências internas na Europa, os proprietários estrangeiros sentiam o crescimento do nacionalismo getulista e crescentes restrições para manter a posse de grandes latifúndios no Brasil.

Foi com esse pano de fundo derivado da guerra que a companhia inglesa Paraná Plantations Limited, no Brasil representada pela Companhia de Terras Norte do Paraná, foi vendida em 1944 a um grupo de capitalistas de São Paulo.

Surge então no cenário paranaense a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Idealizadas pela companhia inglesa e completadas pela paulista, surgem e progridem cidades como Londrina, Cambé, Arapongas, Mandaguari, Apucarana e Jandaia do Sul.

No Norte, colonização acelerada

A rigor, o empreendimento permanecia o mesmo da iniciativa britânica. “(…) ainda em 1944, fundou-se Maringá e prosseguiram as vendas das glebas Ivaí e Cruzeiro, que hoje têm por cidades principais Cianorte e Umuarama, respectivamente, no Norte Novíssimo” (Ana Yara Dania Paulino Lopes, Pioneiros do capital: a colonização do Norte novo do Paraná).

“De Maringá, a expansão partiu em direção ao noroeste, sobre a área arenosa entre os rios Paraná, Paranapanema e Ivaí. E, ainda, rumo ao sudoeste, para Cianorte, ao longo da ferrovia, até Cruzeiro do Oeste e Guaíra” (Noel Nascimento, A Revolução do Brasil).

De onde a paulista Melhoramentos parou, logo partiriam as ações dos gaúchos da colonizadora Maripá.

É de notar que a Companhia Melhoramentos estava fora do Território Federal do Iguaçu. Tinha motor paulista e incentivo paranaense. O Oeste paranaense, sem o primeiro e fora da gestão paranaense, trocada por centenas de burocratas trazidos de fora pelos chefes federais, sofrerá imposições que por não ter base popular não conseguirão perdurar.

Um governador desconhecido

Em 1944, por decisão do Território, a atual Avenida Brasil tinha dois nomes em diferentes trechos de seu percurso.

A partir do antigo aeroporto, na região do atual Terminal Rodoviário Helenise Pereira Tolentino, o trecho foi redefinido pelas autoridades do Iguaçu como “Rua Frederico Trotta” até a Rua Moysés Lupion (atualmente Rua Sete de Setembro). A partir daí, na direção do bairro São Cristóvão, sua denominação passava a ser Avenida Iguaçu. Em suma, não havia uma Avenida Brasil.

O Território do Iguaçu se caracterizou por erros de formação, ineficiência frente às demandas e carências da área e imposições descabidas, como o culto à personalidade do governador Trotta, que a população regional sequer chegou a conhecer e só permaneceu em Laranjeiras do Sul por breve período.

No entanto, as falhas de gestão – dentre as quais a concentração de seus chefes em escritórios especiais no Distrito Federal (RJ) e em Curitiba – tiveram inimigos poderosos.

Os principais foram os governos do Paraná e de Santa Catarina, inconformados com a perda de áreas a Oeste. Além disso, o corte brusco às ações de colonização do Paraná foi seguido de uma atração de colonos sulistas sem planejamento e à intensificação das disputas judiciais entre Estado, União e empresas colonizadoras.

*Frederico Trotta foi um coronel designado pelo ditador Getúlio Vargas para ser o governador do Território do Iguaçu.

As armas de cada um

Em tempo de guerra, conflitos pela posse da terra e armas na cintura para se defender das feras das matas, os colonos entravam com suas foices, o Estado com sua polícia e a União nem sempre podia contar com os militares. Oficiais e soldados rebeldes ou inconvenientes eram remanejados para Foz do Iguaçu como se esta fosse uma espécie de “Sibéria” brasileira.

Com o fim do segredo sobre os documentos da fronteira ficou ainda mais saliente a disputa existente entre o comando do 1.º Batalhão de Fronteira e os prefeitos nomeados pela ditadura.

Por sua vez, as colonizadoras contavam com os préstimos dos famigerados jagunços, como eram chamadas as pessoas que portavam armas ostensivamente fora das tropas regulares e forças policiais. Para as empresas, eles eram seu corpo de segurança para se defender da revolta dos posseiros.

Para piorar o caos, havia a decadência da ditadura, que se esfarelava na ineficiência da gestão e incompetência na administração dos recursos, como na frustrada rodovia bancada pelo Brasil entre Assunção e a fronteira.

Completava o caos a queda brusca na produção agrícola. Como já havia sido registrado pelos colonos de Guarapuava em 1909, em 1944 o interior sofreu com uma nova praga de gafanhotos (Valdenir Gonçalves, Saga e Colendas, História de São João do Oeste).

Pracinhas vão à guerra

Na reta final da II Guerra Mundial, depois de muita pressão popular, em 2 de julho de 1944 o primeiro contingente de pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) partiu do Rio de Janeiro rumo à Itália.

Até instantes antes da partida eles estavam convictos de que iriam lutar na África. Só embarcados souberam que seu destino era a Itália, onde os primeiros soldados brasileiros aportam em 16 de julho.

O batismo de fogo da FEB se dá em Vada-Ospedaletto, dois meses depois. Todo o contingente brasileiro mobilizado na guerra somou 25 mil soldados.

Ainda sob o estímulo do incentivo dado aos posseiros no interior do Paraná, no interior do futuro Município de Cascavel, sem se importar que a que a área agora fazia parte do Território Federal do Iguaçu, chegava para se fixar na região da atual São Salvador, a Sudeste da atual cidade de Cascavel, a família do catarinense Domingos Manoel dos Santos, o Dominguinhos.

Nascido em Rio do Sul (SC), onde as oportunidades se estreitavam, Dominguinhos e a carroça da família se deslocaram até Guarapuava, de onde partiram para o Oeste até encontrar uma área de mato fechado na qual estabeleceram a posse.

Carroça trocada por milho

Os colonos que tentavam se estabelecer na região do antigo Território federal não tinham apoio para nada, apenas a promessa do governo do Paraná de que poderiam se apossar de terras desocupadas no interior.

Em São Salvador, chegando sem nada, a família de Dominguinhos se viu na necessidade de trocar a carroça por uma roça de milho. “Sobrevivíamos de carne de caça” (Revista SindiRural, ed. 43).

Contornando os terríveis gafanhotos, era preciso repor o milho e espalhar roças de mandioca e feijão, lançando as bases da pecuária, de modo particular a suinocultura, paralela ao milho.

A guerra, de fato, estava muito longe, mas alguns efeitos perniciosos da crise que causou chegavam até ao isolado interior em 1945, o ano em que a II Guerra Mundial iria acabar e o Território Federal do Iguaçu tentava finalmente começar a ser uma região autônoma.

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