Já sem a necessidade de se impor à frente da comunidade de Cascavel, que passava a ter um corpo oficial de lideranças – o prefeito José Neves Formighieri e nove vereadores –, padre Luiz Luíse insistiu em dirigir os rumos da cidade, mas enfrentou os interesses de madeireiros, comerciantes e políticos, cujas ideias de progresso eram laicas, diferentes da vontade do religioso de submeter as decisões ao crivo católico.
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Os desentendimentos e a insistência de Luiz Luíse em continuar comandando a cidade o fizeram ser chamado de volta por seus superiores a Erechim, para onde retornou em março de 1953.
Dez anos depois, em de março de 1963, quando já nem se pensava mais no padre e em sua proverbial teimosia e voz de comando, Luiz Luíse voltava para Cascavel.
Desta vez, não mais para chefiar a paróquia, entregue aos cuidados do padre Santo Pelizzer. Cercado pelo carinho dos cascavelenses, recebeu cumprimentos pelo 50º aniversário em 2 de maio de 1963, quando já sabia que seu novo destino seria chefiar a paróquia do Distrito de Cafelândia do Oeste, que ele assumiu em seguida.
Lá, voltou a ser um padre-prefeito e criou a cooperativa à qual deu o nome de sua ordem religiosa: Consolata.
Mais dez anos depois e estava de volta a Cascavel, assumindo a igreja e paróquia do Parque São Paulo. Nessa função, morreu em 2 de novembro de 1987, em acidente automobilístico.
Mais paranaense que catarinense
Cafelândia só viria a ter um prefeito de fato e de direito duas décadas depois de receber o padre Luiz. Em 1983, Agenor Pasquali assumia a Prefeitura de Cafelândia, seguindo o fio histórico da cooperativa.
Pasquali se projetou para a vida pública pela habilidade administrativa adquirida a serviço justamente da Copacol. Nascido em Criciúma (SC) em agosto de 1945, é mais paranaense que catarinense, pois aos dois anos, em 1947, a família se mudou para Pato Branco.
Em busca de terras amplas e férteis, os Pasquali migraram para Cafelândia em 1958, quando Agenor estava com apenas 13 anos. Havia muita confiança em que o café traria a sonhada riqueza, antecipada pela beleza branca da floração da rubiácea, mas acabou arruinada pela indesejável brancura da geada de 1963.
Depois, veio a seca e, com ela, o maior incêndio já visto no Estado, que inundou as cidades de fumaça. Em todo o caso, o ano de 1963 trouxe a nova confiança de que o cooperativismo, a partir da eletrificação, traria o progresso para Cafelândia.
A confiança era depositada tanto no padre Luiz Luíse e em sua liderança quando na força de trabalho da população que chegava do Sul. Mas o esforço cooperativista era pressionado de várias formas, primeiro pelos atravessadores, depois pela forma de organização cooperativista engendrada pelo governo ditatorial, que planejava liquidar a cooperativa de Cafelândia.
Problemas e frustrações
Em 1969 a cooperativa de Cafelândia estava nas cordas. O presidente Severino Squizatto adoeceu e o vice Jacob Berkembrock não queria assumir o comando, mas foi empurrado à liderança pelo padre Luiz Luíse.
Nesse interim, a família Pasquali sofria sua segunda tragédia, depois da frustração do café. Muitos colonos da região aviam optado pela cultura da hortelã, também logo inviabilizada.
Em mais uma tentativa, os Pasquali também não tiveram o sucesso esperado embarcando na cultura da cidreira (capim limão), apanhados por embaraços burocráticos.
Foi lidando com eles que a capacidade administrativa de Agenor começou a se destacar, mas logo a cultura da cidreira também se mostrou inviável economicamente e Agenor pôs fim à experiência promovendo uma espetacular fogueira com os restos da cultura.
“Queimou tudo, levantou uma parede de fumaça branca que todos da cidade ficaram assustados”, disse ele a Gabriella Tiscoski (GiroOeste).
A virada na Copacol
Pasquali, porém, avançava na compreensão da realidade local e acompanhou toda a tensa situação em que as autoridades do setor tentavam impor a incorporação da cooperativa pioneira de Cafelândia à Coopavel, criada em 1970.
Com padre Luíse à frente da resistência, a Copacol se impôs e retomou sua trajetória. Passou o setor de energia à Copel e se voltou estritamente ao setor produtivo rural.
Um fato extraordinário que deu projeção a Pasquali se deu quando era presidente da Associação de Pais e Professores da única escola de Cafelândia. Em ruínas, escorada por cepos de madeira para não cair, “quando chovia, muitos pais nem mandavam os filhos para a escola, tinham medo de que tudo caísse”.
Pressionando a Prefeitura de Cascavel para providenciar a reforma, chamou a imprensa a mostrar por inteiro a situação do estabelecimento de ensino. Já eram os traços do gestor de força e iniciativa que viria a ser no futuro.
35º entre os 399 municípios
Nas difíceis lutas para a Copacol virar o jogo a seu favor, embora Agenor Pasquali tenha dito não saber como isso aconteceu, foi chamado para assumir a função de diretor-secretário da Copacol.
Ele supôs que a convocação se deveu à sua escolaridade. Mãos à obra, logo fez toda a diferença, determinando a exclusão de quem não cooperava e impondo o foco nos resultados.
Os resultados vieram, foram administrativamente corretos e produtivamente esplêndidos. Um dos bons resultados, aliás, foi político: nas eleições de 1982 Pasquali se elegeu para comandar a Prefeitura do novo Município de Cafelândia.
Depois dos fracassos com o café, a hortelã e a cidreira, sua gestão na Copacol foi de muito sucesso, mas ao assumir a Prefeitura Pasquali encontrou Cafelândia na última colocação entre os municípios do Estado, reduzido de tamanho e às voltas com as severas inundações de 1983.
A força da água arrastou pontes e criou um caos no interior. “O que a água não havia levado, estava podre”, disse.
Diante da necessidade de construir 240 obras de bueiros e pontes, instalou uma fábrica de tubos e lajotas para agilizar os consertos (Gabriella Tiscoski).
O Município que em 1983 teve o território mutilado, estava debaixo de água e em último lugar no Estado hoje é o 35º entre os 399 municípios do Paraná em IDH.
O curioso caso de Pato Bragado
Um animal é bragado quando o pelo das pernas é de cor diferente do corpo. Já o pato bragado (variedade da espécie Cairina moschata) se caracteriza por ter mancha branca na asa. É um grande pato selvagem, que deixou herdeiros menores ao se misturar com outras espécies.
A população desse pato, que os Guaranis conheciam como ype guasu, reduziu-se drasticamente com a caça descontrolada e pelo cruzamento com patos domésticos. Na época ainda bem distribuído pela região das águas, o pato bragado deu nome a uma igualmente grande embarcação argentina que navegava no Rio Paraná fazendo o transporte de passageiros, erva-mate e madeira.
A admiração causada pela passagem do imponente navio Pato Bragado, considerada a maior embarcação que fazia o trajeto entre os portos do Alto Paraná e Buenos Aires, foi a origem da atual cidade e Município de Pato Bragado.
Um dos marcos da colonização empreendida na região da antiga Fazenda Britânia pela empresa Maripá, até a admiração pelo navio se sobrepor o local era conhecido apenas como “Km 10”, marca feita em um mapa para indicar a localização da primeira olaria criada pela Maripá, situada a dez quilômetros a partir do Porto Britânia e gerenciada por Arthur João Thober.
Como o gerente não sabia falar Português, a empresa contratou o professor Hugo Frank para ser seu intérprete. Frank, gaúcho de Ijuí, chegou ao lugar em 24 de junho de 1952, trazendo a esposa Nair. Iracema Luiza, sua filha, foi a primeira criança a nascer na localidade.
Churrascada e sino badalando
Outros pioneiros memoráveis da área foram Reinold Bais, Luiz Underberg e Conrad Klínger, segundo o historiador Ondy Hélio Niederauer (1923–2012) em sua obra Toledo no Paraná (1992).
A origem da localidade foi um dos destaques do minucioso relato feito por Niederauer, comentando que os primeiros moradores do Km 10 foram teuto-gaúchos que a partir da agricultura de subsistência também se dedicaram à criação de bovinos e suínos.
“Era previsto que estrada de Foz do Iguaçu a Guaira deveria cruzar a estrada de Toledo a Porto Britânia, naquele ponto”, narra o historiador. “Daí a necessidade de a Maripá construir ali uma nova vila”.
“A planta já estava pronta e as primeiras casas, inclusive o hotel, já estavam prontos. Faltava dar-lhe um nome. Eis que atracou em Porto Britânia um enorme barco. Quando os maiores que conseguiam chegar tinham capacidade de carga até 300.000 p2, neste foram embarcados 400.000 p2” (Ondy Hélio Niederauer, Toledo no Paraná).
A admiração quanto ao tamanho da embarcação aumentou ao verificar o insólito nome do navio: Pato Bragado.
“Willy Barth teve então a ideia de batizar a nova vila com este nome. Mandou preparar uma churrascada para a tripulação do barco, convidando também o pessoal da administração do Porto Britânia, da ervateira, e dos moradores da vila. O batismo foi feito com muitos discursos e cervejas. No dia seguinte, passada a ressaca, o Pato Bragado, com apito e badalar do seu sino, partiu galhardo rumo a Buenos Aires” (Niederauer).
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