Criar nos prisioneiros e escravos o interesse em trabalhar sem fugir mata adentro era o desafio colocado aos novos fazendeiros – os militares que ao ganhar terras nas frentes de ocupação também viravam latifundiários.
RECEBA AS PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS. ENTRE NO GRUPO
A administração portuguesa pretendia convencer fazendeiros já estruturados na região de Curitiba a deslocar familiares e escravos para as frentes de colonização. Entretanto, eles só teriam interesse se recebessem uma generosa oferta de amplas posses territoriais e a garantia de defesa contra a resistência indígena.
Mas as autoridades de Curitiba, Campos Gerais e o litoral não estavam dispostas a perder seus homens de iniciativa, comerciantes e escravos, para os núcleos abertos no interior, entre Guarapuava e o Noroeste do atual Rio Grande do Sul, mesmo em troca vantagens convincentes.
A região já havia cedido muitos homens para a formidável força de oito mil soldados que o príncipe João mandou em socorro ao vice-rei platino, Francisco Javier Elio, sufocado em Montevidéu pela agressividade do revolucionário Artigas.
Curitiba administrava a conquista
Continuava ainda muito difícil atrair interessados em viver no Oeste paranaense porque os mais capazes seguiam ao esforço de guerra. Os delinquentes e menos capazes eram enviados à força ao interior, mas fugiam na mata.
O trabalho era em geral escravo, mas o número de cativos já declinava, depois de tantos homens válidos deslocados para a defesa das fronteiras.
O início da segunda década do século XIX se caracteriza pela consolidação de Curitiba como centro de comércio resultante da movimentação de tropas de gado entre o Sul e Minas Gerais.
A futura capital paranaense também colhe os louros pela conquista dos Campos de Guarapuava. São os curitibanos que persistem na região após a progressiva retirada dos militares, chamados ao esforço pela expansão do Reino na indefinida situação das Províncias Unidas do Prata.
Mascarenhas, o Conde de Palma
Na metade da segunda década do século XIX, a construção do interior do Paraná se dava com esse empreendedorismo curitibano apoiado no aproveitamento da mão de obra escrava e na ação de catequese para “domar” a rebeldia dos índios e integrá-los à “civilização”.
Em agosto de 1813 há troca de comando na Capitania de São Paulo. Luiz Telles da Silva, o Marquês de Alegrete, encerra seu período de gestão e mais tarde assumirá o governo do Rio Grande do Sul.
Em seu lugar, depois de um governo-tampão exercido por um ano e quatro meses pelo triunvirato Mateus de Abreu, Nuno de Lossio e Miguel de Oliveira Pinto, virá Francisco de Assis Mascarenhas (1779–1843), o Conde de Palma, que toma posse em dezembro de 1814.
Para ganhar sua simpatia às causas da região, os Campos de Palmas receberam esse nome em sua homenagem. Mascarenhas havia tido uma experiência traumática em seu primeiro contato com o que é o Paraná de hoje.
O “gaúcho” Atanagildo
Mascarenhas ainda governava Goiás quando enviou uma expedição para explorar as vias fluviais. Seus homens, “varando de noite a barra do Rio Tietê, desceram pelo Paraná, e se precipitaram no Salto de Guairá, ou Sete Quedas escapando só dois homens”.
O episódio foi lembrado por Manoel de Sousa Chichorro, secretário do governador, em minucioso relato no qual a situação do Paraná dessa época foi exposta ao Conde de Palma desde suas origens.
Nessa mesma ocasião, o capitão, depois major Atanagildo Pinto Martins, natural de Castro, foi designado para estabelecer a ligação entre Atalaia (atual Guarapuava), o Noroeste e Oeste do atual Rio Grande do Sul.
No comando de um grupo militar também acompanhado por paisanos, os tropeiros, o povoador paranaense do Noroeste rio-grandense será no futuro considerado um herói “gaúcho”.
Yongong e suas esposas
Martins será sempre lembrado, ao contrário de quem o levou até lá: o líder indígena Yongong, “descrito como grande conhecedor da região chamada pelos povos nativos de Bituruna ou Ibituruna – Terra Alta das Palmeiras” (Roberto Pocai, Além da “Boca do Sertão”: Pay-bangs e sertanistas nos Campos de Palmas [1809-1869]).
A rota entre Guarapuava e a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi designada inicialmente pelos cronistas como “Vereda Missioneira”. O estabelecimento dessa via teve como personagem central o cacique Yongong (ou Pã’íIongong).
Seu papel nesse pioneirismo se deu amplamente pela grande utilidade das tarefas que cumpriu na missão, oferecendo os préstimos essenciais de vaqueano (guia) e linguará (intérprete).
A presença desse importante cacique na história foi ignorada porque o padre Chagas Lima o considerava rebelde. Insistia em manter quatro esposas e ao pretender mais uma, de onze anos, chegou a ser preso a mando do religioso.
Desencontros e escolhas
Rebelde, de fato, Yongong era. Na marcha ao Sul, ele não seguiu a rota pretendida pelo comandante da expedição. Advertindo que seria arriscado percorrer um território controlado por índios bravios – os Kaingangues, “(…) guiou-se mais ao Oriente, e passando pela ponta ocidental dos campos de Palmas, saiu nos da Vacaria” (Joaquim José Pinto Bandeira, Notícia da descoberta dos Campos de Palmas).
Atanagildo Martins não ficou satisfeito com o roteiro escolhido pelo chefe índio e determinou que ele retornasse até o ponto em que a trilha idealizada pelo comandante deveria ser seguida e retomasse o trajeto com um pequeno grupo.
O cacique indígena relutou, mas contra vontade se obrigou a seguir o caminho desejado pelo comandante com alguns homens de confiança. Nenhum deles jamais voltou. Se desertaram ou foram atacados, nunca se soube.
A Vereda das Missões
A conquista dos Campos de Palmas começa de fato quando o tenente Manoel Soares do Vale (1763–1824) completa o levantamento da margem esquerda do Rio Iguaçu em junho de 1815.
“Foi aí que atingiu o Rio Chopim, abrindo uma picada de dez léguas de fácil trânsito, de onde retrocedeu, por se acabarem os mantimentos” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul).
Levar adiante a abertura da “Vereda das Missões” era essencial para o Sul do Brasil. As autoridades reais e o governo de São Paulo não estavam satisfeitos com os resultados obtidos em Atalaia/Guarapuava porque o alvo maior era obter o controle do Noroeste e Oeste do Rio Grande do Sul e partir para dominar a região do Prata.
Em agosto de 1815, o comandante da expedição de conquista dos Campos de Guarapuava, Diogo Azevedo Portugal, recebe ordens para regressar a Atalaia e promover cortes de despesas.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

Fonte: Fonte não encontrada
Deixe um comentário