Faltavam ainda 60 quilômetros para acabar, mas os militares da Engenharia Militar consideraram cumprida ainda em 1944 a missão de construir a então BR-35, depois BR-277, com a entrega ao tráfego de 40 km da rodovia entre Imbituva e Prudentópolis.
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Em seu livro “Rodovias Paranaenses Construídas pelo Exército”, o major Oscar Ramos Pereira descreveu a rodovia de cuja construção participou:
“Saindo de Ponta Grossa com a altitude de 949.890 metros no marco zero, na direção de Periquitos e Conchas, atravessa-se o grande Rio Tibagi (ponte de concreto com 128 metros de vão) e toma-se a direção de Imbituva, onde se chega com 60 km”, descreve Ramos Pereira.
“Daqui toma-se o rumo dos lugarejos Natal e Manduri, para atravessar, em seguida, o rio dos Patos (ponte General Lúcio Esteves, com 92 metros de vão) e atingir a cidade de Prudentópolis com o km 100. Prossegue-se ao encalço do rio Barra Grande e de Bracatinga, passando-se depois pelo banhadão formado pelos rios Relógio e Areia e que vai até ao sopé da Serra da Esperança (Km 125). Aqui se começa a escalada suave rumo ao cimo da serra (1.200m de altitude) e segue-se pelo chapadão, na direção de Guarapuava, onde se chega ao Km 179 após ter atravessado os rios Xaxim, Pedras e das Mortes”.
Um militar excepcional
A Ponte General [Emílio] Lúcio Esteves foi assim denominada em homenagem ao militar que em 1939 passou por uma encolhida vila do remoto sertão paranaense e profetizou que o lugar seria um importante centro urbano no futuro.
A caminho da Companhia Isolada de Foz do Iguaçu, durante a viagem o general completava seus estudos sobre a região sob seu aspecto estratégico, iniciados com a malograda revolução de 1924 que ele combateu desde o início.
Esteves se convenceu de que era necessário de imediato pensar em construir uma estrutura militar, então ausente no interior do Paraná entre Guarapuava e Foz do Iguaçu.
Na fronteira havia o quartel da Companhia Isolada, mas para Esteves aquele entroncamento de antigas trilhas ervateiras seria o lugar ideal para a instalação de uma unidade militar do Exército. Os viajantes chamavam o lugar de “Encruzilhada dos Gomes”, os religiosos o designavam com “Aparecida dos Portos” mas os mapas já o assinalavam como “Cascavel”.
E assim o general Emílio Esteves determinou a realização de estudos acerca das possibilidades estratégicas de Cascavel no sentido de ali ser implantada uma unidade do Exército Nacional.
A II Guerra Mundial adiou os planos: fortalecer o quartel de Foz do Iguaçu passou a ser prioritário, inclusive pela simpatia da Argentina com o nazismo e as pretensões expansionistas daquele país sobre áreas do Brasil e do Paraguai.
A procura interminável
Nascido em Taquara (RS) em 23 de dezembro de 1883, Emílio Lúcio Esteves recebeu em 1924 o comando do batalhão da Brigada Militar gaúcha e foi posto à disposição do governo federal para combater em São Paulo a revolta tenentista de 5 de julho.
Nessa data, os rebeldes comandados por Isidoro Dias Lopes ocuparam a capital paulista por três semanas, abandonando então a cidade e deslocando-se para o interior, vindo a ocupar o Oeste do Paraná por sete meses.
Esteves foi mandado em perseguição a Luís Carlos Prestes, o ousado capitão que para apoiar os rebeldes paulistas sublevou os militares em Santo Ângelo, no oeste gaúcho. Prestes driblou os perseguidores com grande habilidade e nunca foi apanhado em sua marcha pelo Brasil.
Esteves foi novamente mandado a persegui-lo em Goiás, em 1925, já durante a marcha da Coluna Miguel Costa-Prestes, que percorreu grande parte do Brasil até 1927, mas jamais pôs as mãos nos comandantes revolucionários.
Escolta de Vargas, assessor de Aranha
Em fevereiro de 1929, Esteves foi promovido a tenente-coronel. No Rio de Janeiro, servia no Departamento de Guerra em outubro de 1930 quando foi mandado a Ponta Grossa (PR) encontrar Getúlio Vargas, líder da revolução, para acompanhá-lo até o Rio de Janeiro, onde completaria a derrubada do presidente Washington Luís.
Em novembro foi assessorar o ministro da Justiça, Osvaldo Aranha. General-de-brigada em 1932, presidente do Clube Militar entre 1934 e 1935, nessa função foi acusado pelo interventor no Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, de conspirar contra o governo.
Em abril de 1936, quando comandava a 3ª Região Militar, em Porto Alegre, o governo federal determinou o desarmamento das forças estaduais gaúchas, tirou do governador Flores da Cunha o direito de executar o estado de guerra e o passou ao general Lúcio Esteves.
Esteves não gostou da ideia de desarmar as polícias. Quando o ministro da Guerra, Eurico Dutra, ordenou que ele ocupasse militarmente a cidade gaúcha de Marcelino Ramos, Esteves desacatou a ordem, seguido também pelo general Guedes da Fontoura, comandante da 5ª RM, sediada em Curitiba.
Desacatando ordens, visitando o interior
Em agosto de 1937, por conta de suas interferências, compromissos e influência no Sul, Lúcio Esteves perdeu o comando da 3ª RM e foi mandado para a 4ª RM, em Juiz de Fora (MG). Promovido a general-de-divisão em maio de 1939, foi mandado a Curitiba, para comandar a 5ª RM. Causando resistência no poder, só foi promovido a general de Exército depois de sua morte.
Foi na posição de comando no Paraná que passou pela vila de Cascavel em 1939 e definiu o local como adequado para sediar uma unidade militar, mas aí o Brasil parou por causa da II Guerra Mundial. Antes de conseguir concretizar o objetivo, o general morreu em acidente de automóvel, em 10 de dezembro de 1943.
A determinação de considerar Cascavel como sede de unidade militar só começou a ser cumprida em 1972, quando o 2° Grupamento de Fronteira, então inexplicavelmente instalado em Guarapuava, foi transferido para Cascavel, dando origem à 15ª Brigada de Infantaria Motorizada, em 1980.
Os dois rios chamados “Cascavel”
Em sua viagem literária pelo trecho da BR-35 entregue em 1944, prossegue o relato de Oscar Ramos Pereira:
“A subida da serra da Esperança é um verdadeiro espetáculo de beleza e técnica. O panorama descortinado é simplesmente deslumbrante, convidando à demorada contemplação. A altitude de Guarapuava é 1.087,691m. Desta importante cidade continua-se, pelos seus admiráveis campos de pastagem, em direção aos rios Cascavel*, Coutinho, Cachoeirinha e Campo Real até atingir Lagoa Seca (Km 230) e, logo após, Três Pinheiros (Km 235)”.
De Três Pinheiros, à direita de Retiro e à esquerda da povoação Fachinal de Santo Antônio, em terreno acidentado, chega-se ao Rio Cavernoso, continua a descrição do militar: “É um vale relativamente profundo, cujo nome batismal bem fala e muito caracteriza as suas cavernosas profundezas. O Rio Cavernoso tem numerosas corredeiras que dão passagem a vau e as dos Campos de Candói que podem muito bem ser aproveitadas, como fontes de energia pelos fazendeiros da região”.
Os demais 60 km ainda permaneciam em obras, mas foi dada uma nova missão aos militares: construir estrada no Paraguai. Tarefa polêmica e difícil, que não lhes traria a satisfação de construir a infraestrutura de seu próprio país. Foi espinhosa e desgastante, redundando em fracasso que contribuiu para apressar a queda de Vargas.
* Rio Cascavel localizado em Guarapuava. É habitual haver confusão entre o rio guarapuavano e o riacho que dá nome à grande cidade-polo do Médio-Oeste, mas são muito distantes entre si.
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