Até as eleições municipais de 1952, o Oeste do Paraná era um só Município: Foz do Iguaçu. Havia então apenas dez autoridades locais em toda a região: o prefeito Alfredo Guaraná de Menezes (o vice-prefeito era o presidente da Câmara) e os vereadores Domingos Zardo, Carlos Mathias Becker, Sady Vidal, Antônio Almeida, Heleno Schimmelpfeng e Jacob Munhak (Partido Republicano); Moacyr Pereira e Júlio Pasa (UDN); e Emílio Henrique Gomez (Partido Social Progressista), todos eleitos nas eleições especiais de 1951.
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Em 9 de novembro de 1952, os dois distritos de Foz do Iguaçu – Cascavel e Guaíra, já transformados em Municípios – tiveram suas primeiras eleições. Toledo, que sequer era oficialmente um distrito, também se emancipou, por conta da força política da Companhia Maripá, e se tornou Município independente.
Em lugar dos distritos que perdia, Foz do Iguaçu criou três outros importantes distritos, configurando a chamada Rota Oeste: São Miguel do Iguaçu, Medianeira e Matelândia.
Assim, após as eleições de 1952 o Oeste deixava de ter apenas dez autoridades locais, passando a contar com 40. Os distritos que viriam a ser criados a partir daí resultariam, por sua vez, em dezenas de novos municípios e centenas de novas autoridades locais.
Quatro, mas quase nenhum
Nas eleições em Cascavel (https://x.gd/2LV9L), o prefeito eleito, José Neves Formighieri, viu-se às voltas com um problema essencial: não contava com maioria na Câmara para impor suas iniciativas, e havia tudo por fazer. Seu partido, o PTB, elegeu 4 dos 9 vereadores e em consequência o presidente da Câmara seria da legenda majoritária, o Partido Republicano.
Um dos vereadores eleitos pelo PTB, Helberto Schwarz, nem era petebista: concorreu pela sigla trabalhista porque seu partido, o PSD, atrapalhou-se no encaminhamento da documentação para criar o diretório local.
Antônio Massaneiro, contrariado pelo desvirtuamento do PTB como defensor dos trabalhadores, logo se afastou para criar na região o Partido Social Trabalhista (PST).
Jacob Munhak já havia sido eleito vereador pelo Município de Foz do Iguaçu nas eleições extraordinárias de 1951, representando mais a comunidade de São João que propriamente a sede Cascavel. Ao ter que decidir se seria vereador de Cascavel ou de Foz do Iguaçu optou pelo Município da fronteira, por conta de seus negócios por lá.
Carroceiro, a exemplo de Munhak, o vereador Francisco Stocker demorava duas semanas para ir e voltar de Foz do Iguaçu, onde também foi vereador e vendia os produtos da região de Colônia Esperança.
A estratégia de governabilidade adotada pelo prefeito de Cascavel foi designar seu secretário, Celso Formighieri Sperança, para fazer a ponte entre a Prefeitura e a Câmara dominada pelo Partido Republicano. O modus operandi do acordo entre o PTB e o PR era simples: só aprovar e sancionar matérias consensuais.
Grandes desafios
Neves tinha dois problemas adicionais: logo de início, a impossibilidade orçamentária de contratar os servidores que precisaria, no primeiro ano; segundo, a grande extensão do Município, com 5.864 km². Aliás, mesmo perdendo amplos territórios, Cascavel ainda é um dos municípios mais extensos do Estado.
Na época fazia divisa com Guaíra e Campo Mourão ao Norte; Capanema ao Sul; Guaraniaçu ao Leste e Foz do Iguaçu e Toledo a Oeste. Com Guaíra, o limite seguia “do espigão divisor dos rios Paraná e Piquiri, na linha que liga as cabeceiras dos arroios Lopeí e Silvestre, seguindo até a cabeceira do rio Silvestre e por este abaixo até sua foz no Piquiri”.
Seus limites ao Norte e ao Sul, portanto, eram os rios Piquiri e Iguaçu. Com uma população majoritariamente rural, a Prefeitura de Cascavel precisava contar com o apoio de lideranças da comunidade para se desdobrar em atender a todos os pedidos de providências.
O secretário da Educação, Celso Sperança, convenceu um jovem ligado à família Galafassi, que depois iria criar o PSD, para trabalhar como voluntário para a Prefeitura.
Era Lyrio Bertoli, que no futuro viria a ser o primeiro deputado federal pela região. As tarefas que ele deveria cumprir eram múltiplas: desde ajudar na construção de escolas até documentar as necessidades verificadas em toda a extensão do Município para repartir as reclamações com o governo do Estado
Bertoli aceitou, fazendo uma exigência: “Eu vou, mas com uma condição. Eu trabalho de graça. Não trabalho o dia inteiro, mas trabalho de graça”. Quando Celso Sperança deixou a Prefeitura para criar o jornal Correio d’Oeste e chamou Lyrio para ser seu redator, Neves nomeou em seu lugar um burocrata com bom trânsito no governo estadual: Algacyr Biazetto.
A briga dos churrascos
Assim, com bom jogo de cintura e articulações inteligentes, Neves Formighieri levou os quatro anos de mandato sem brigas nem confusões, a não ser a festa promovida para festejar a vinda da aviação comercial – o Caso dos Dois Churrascos em Um.
O severo e meticuloso vereador Victorino Sartori, substituto do assassinado titular Donato Matheus Antônio, do Partido Republicano, recusou-se a aprovar as contas do prefeito Neves Formighieri por supor que a Prefeitura iria pagar muito caro pelo churrasco encomendado para homenagear o governador Bento Munhoz, as autoridades e empresários do setor aéreo convidados.
Neves se indignou com a suspeita de que teria cometido uma imoralidade e denunciou Sartori à polícia por divulgar uma fake news (ou inverdade, como se dizia na época). Com a mesma ira se indignou Sartori: queixou-se de que além de não ganhar nada para trabalhar pelo Município, teve que dar explicações à polícia por cumprir o dever de fiscalizar as contas da Prefeitura.
Apurados os fatos, soube-se que houve um serviço de churrasco à parte para as autoridades convidadas, dentre as quais o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, e outro para os populares presentes à inauguração do serviço aéreo, mas a conta paga se referia a apenas um churrasco.
“Procurei o açougueiro, o único da época, o [Francisco] Gabana, e pedi a ele explicações. Ele me disse que realmente o valor era alto, mas que era referente a dois churrascos e não a um só, como constava na nota. Os dois foram embutidos em uma só nota”.
No fim, considerando que foram dois churrascos e não só o serviço oferecido ao governador, a denúncia foi retirada e o delegado Sandálio dos Santos rasgou a ocorrência, mas depois desse atrito Sartori não quis mais voltar à Câmara.
Médico logo foi cassado
A eleição em Toledo, com menos território e eleitores (1.032 inscritos) que Cascavel (1.239), foi facilmente resolvida porque a colonizadora e madeireira Maripá controlava também a política e havia trazido das tradições gaúchas uma agremiação política inexpressiva no Paraná, mas de grande influência no Sul.
Era o Partido Libertador, cujo DNA vinha da tradição revolucionária de Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857–1938) e da luta pró-parlamentarismo de Raul Pilla (1892–1973).
Assim, com uma abstenção menor que a de Cascavel (19,9% contra 24,8%) o médico Ernesto Dall’Oglio, candidato único, concorrendo pelo PTB de Vargas e apoiado pelo PL, elegeu-se com 737 votos, cabendo ao PL eleger 8 dos 9 vereadores: Waldi Winter, Rubens Stresser, Clecio Zeni, Ondy Niederauer, Wilibaldo Finkler, Guerino Viccari, Leopoldo Schmidt e Alcebíades Formighieri (ver mais em https://x.gd/gICdc).
Winter, representando a comunidade da futura Marechal Cândido Rondon, foi o mais votado e mostrava desde logo a importância que a colonização alemã conquistara no projeto da Maripá. O PTB, surpreendentemente, não conseguiu legenda para eleger sequer um vereador.
Stresser, engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhava para a Maripá, na qual Leopoldo Schmidt era motorista. Ondy Niederauer, também ligado à Maripá, escreveu o livro Toledo no Paraná, importante referência bibliográfica sobre a região da antiga Fazenda Britânia.
Guerino Viccari, presidente da Câmara, assumiu a Prefeitura substituindo o prefeito Dall’Oglio, cassado por se ausentar por longo tempo do Município sem transmitir o cargo ao substituto legal. Formighieri era primo do prefeito eleito de Cascavel.
Décadas antes de Itaipu
As eleições em Guaíra também apresentaram a vitória de um prefeito ligado ao PTB do presidente Getúlio Vargas, mas em situação bem diversa da bancada zero de Toledo e minoritária em Cascavel: o PTB guairense elegeu 8 dos 9 vereadores, restando apenas um ao Partido Republicano, do governador Bento Munhoz.
Eram eles Vicente Augusto Brilhante, que trabalhou na ervateira Mate Laranjeira e no futuro seria também eleito para a Prefeitura, Virgílio Goes de Oliveira, Fernando Maciel Foster, Arnaldo Bachi, Sebastião Fenelon Costa, Joaquim Vargas Dorneles, Gody Werner e Osíris Soley (PTB). O Partido Republicano elegeu Otacílio Amaral dos Santos.
Com uma abstenção de 47,5% dos escassos 318 eleitores inscritos, elegeu-se para a Prefeitura o dentista Gabriel Fialho Gurgel, que havia sido um dos fundadores e diretor do Tuiuti Esporte Clube, em Cascavel, onde residia desde 1949.
Além de propor a criação de uma usina hidrelétrica em Guaíra duas décadas antes do início das obras de Itaipu, que seria construída no Rio Tatuí em sociedade entre o município, o governo do Estado e particulares, Gurgel marcou sua gestão pela criação dos distritos de Palotina, Maripá e Terra Roxa, futuros municípios da região.
Fonte: Alceu Sperança
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