O padre-prefeito

Padre Luiz Luíse, em três imagens: padre vigário, dirigente de cooperativa e com aviadores no aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, hoje o Terminal Rodoviário Helenise Tolentino

Em 1951, três líderes da comunidade cascavelense – Helberto Schwarz, Álvaro Lemos e Ernesto Farina –, foram a Laranjeiras do Sul pedir ao bispo Manoel Koenner (https://x.gd/UhVyd) a criação da Paróquia de Cascavel e a designação de um padre para conduzi-la. Obtendo a anuência de Koenner, começaram imediatamente os preparativos para a criação da nova Paróquia, já sonhando com uma futura catedral.

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Por essa época, a família Biazus, que colonizava Matelândia, pediu ao padre Domingos Fiorina, superior dos padres missionários de Nossa Senhora Consoladora, em Erechim (RS), que enviasse um padre para assistir espiritualmente aos colonos. No início de 1952, Fiorina designou para a missão o padre italiano Luiz Luíse, já com ampla experiência em cidades do interior. 

Nascido em Martellago (Veneza) em maio de 1913, filho de agricultores, Luíse se formou em 1938 na Congregação dos Padres Missionários de Nossa Senhora Consolata (Consoladora), de Turim.

Ordenado sacerdote ainda em 1938, Luíse permaneceu por alguns anos em missões pastorais na Europa antes de ser enviado às regiões pioneiras colonizadas por imigrantes do Norte italiano na América do Sul.

Cascavel não despertou atenção

Chegando ao Brasil em 1º de dezembro de 1946, Luíz Luíse assumiu a Paróquia de Aparecida em São Manoel (SP). Em 1949 foi transferido ao Norte do Rio Grande do Sul, em Erechim, de onde viria ao desconhecido Oeste paranaense já demonstrando grande espírito de liderança comunitária.

Orientado para conhecer Matelândia e em seguida se apresentar ao bispo de Laranjeiras do Sul, d. Manoel Koenner, Luíse voou até Foz do Iguaçu, pois em Cascavel não havia campo de pouso para aviões de carreira.

Viajando de Foz do Iguaçu a Matelândia por automóvel, conheceu a Rota Oeste e depois passou brevemente pela pequena cidade de Cascavel, à qual sequer prestou atenção, a caminho de Laranjeiras do Sul, onde se entrevistaria com o bispo. 

“Dom Manoel aceitou a presença do missionário de Nossa Senhora Consoladora na sua prelazia, mas determinou que padre Luiz fosse trabalhar em Cascavel, atendendo a insistentes pedidos da comunidade local” (Alceu A. Sperança, Cascavel, A História).

Eleição marcada para a Prefeitura  

De volta a Erechim para reportar suas observações, Luíse embarcou novamente em 3 de maio de 1952 para Foz do Iguaçu, de onde partiu para Cascavel no dia seguinte, conduzido pelo madeireiro Florêncio Galafassi, em cuja residência o religioso se hospedou até completar as instalações paroquiais.

Como vigário da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, Luíse a instalou no local em que hoje se encontra a Igreja de Santo Antônio, local histórico da primeira capela da vila.

No rural Cascavel Velho, a matriarca Laurentina Lopes Schiels, muito religiosa, tinha desde os anos 1920 uma capela também frequentada pelos vizinhos até a família se transferir para a sede urbana, na década seguinte. 

Com o Município criado em novembro de 1951, Cascavel ainda era sede distrital quando Luíse chegou à cidade, em maio de 1952. Entre a pequena população urbana e o enorme interior do distrito, o assunto mais comentado era a campanha eleitoral. 

A eleição estava marcada para o dia 9 de novembro de 1952. Assim, entre maio de 1952, ao chegar, até a eleição para a escolha do primeiro prefeito, padre Luiz assumiu a liderança na cidade.

Divergência: onde construir a catedral?

Instalando a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida em reunião solene com a comunidade em 1º de junho de 1952, o padre se surpreendeu com o tamanho do Município que estava para se emancipar de Foz do Iguaçu. 

“O novo Município era grande como um território. Como pequenos populados tinha Capela São João, Capela São Pedro, Colônia Esperança, Sapucaia, São Domingos, Centralito, Serraria Piquiri, Cafelândia, Iguaçuzinho, Roda de Carro, Memória, Santa Tereza, Bela Vista [Céu Azul], Melissa e Santa Cruz” (padre Luiz Luíse, depoimento ao livro Cascavel, a História).

A reunião solene de instalação da Paróquia se transformou em debate acalorado sobre se a Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida seria construída no Patrimônio Velho, a cidade existente na época, ou em área doada para esse fim pelo Departamento Geográfico de Terras e Colonização, órgão do Governo do Estado, situada no ainda desabitado Patrimônio Novo.

Os pioneiros queriam a futura catedral no Patrimônio Velho, onde morava quase toda a população urbana, mas o padre insistiu que a nova igreja fosse edificada no Patrimônio Novo, de acordo com a planta do governo estadual.

Um arranjo político e imobiliário 

O Estado não enviou a verba necessária para a instalação do Município e com isso o primeiro prefeito precisaria vender os lotes do Patrimônio Novo para viabilizar as atividades municipais.

Ter a igreja nova no Patrimônio Novo facilitaria a venda dos imóveis, puxando a ampliação da cidade para o Leste.

Contrariando as lideranças tradicionais da cidade, o padre insistiu nisso. Havendo o impasse, formou-se uma comissão composta por Adelino Cattani, Ernesto Farina e Helberto Schwarz para seguir a Laranjeiras do Sul, sede da Prelazia (bispado), para consultar o bispo. 

Manoel Koenner pesou os prós e contras, determinando que o novo templo fosse construído de acordo com a planta do Estado, que acrescentava o Patrimônio Novo ao perímetro urbano da cidade, a Leste da Rua Moysés Lupion (atual Rua Sete de Setembro).

Decisão tomada, o movimento para a edificação da nova igreja foi liderado por Florêncio Galafassi, Victorino Sartori, Helberto Schwarz e Itasyr Luchesa, entre outros. A Industrial Madeireira do Paraná cedeu o material de construção.

Luíse deu estrutura a Cafelândia

Enquanto a comissão cascavelense tratava com o bispo, padre Luiz conhecia o interior do novo Município, rezando missas nas comunidades do interior. 

Em 20 de junho de 1952 ele rezava a primeira missa no povoado de Caixão, futura Cafelândia do Oeste, que ele também iria comandar. Ali promoveu seus grandes feitos: enfrentar a corrupção instalada no Banco do Brasil e criar o cooperativismo na região. 

Por conta dessa conquista, Cascavel foi o único Município brasileiro a ter duas cooperativas: a pioneira cooperativa Consolata (Copacol), de Cafelândia, desde 1963, e a Coopavel, iniciada no contexto do Projeto Iguaçu de Cooperativismo, sete anos depois.  

Sempre apoiado por Florêncio Galafassi, o primeiro grande feito do religioso como “prefeito” tampão em Cascavel foi coordenar o movimento para a conquista de uma linha regular de aviação.

Começou em setembro de 1952, dois meses antes da eleição do primeiro prefeito, quando houve uma perseguição policial motorizada pela BR-35, então em obras, que viria a ser a futura BR-277.

Sofrimento de bandidos motivou aeroporto 

Um grupo de contrabandistas foragidos de Foz do Iguaçu dirigia-se apressadamente para Cascavel, caçado pela Polícia Militar, e o caminhão em que fugiam tombou, com vários feridos. 

Diante do sofrimento dos bandidos, alguns em estado grave, sem recursos suficientes para o médico Wilson Joffre atender a todos, o padre perguntou por que Cascavel ainda não tinha um aeroporto com linhas regulares, para facilitar os negócios na região e ter a opção rápida de transporte aos doentes graves.

“Naquela noite, não dormi, mas fiquei pensando sobre o caso e como formular um plano para conseguir o serviço aéreo civil. (…) Com a Diretoria de Tráfego Aéreo da Real estudei o plano de voos que ligassem Cascavel a São Paulo. Foi determinado que Cascavel fosse servida com quatro voos por semana” (padre Luiz Luíse).

A linha regular de aviação, cujo voo inaugural se deu em 11 de janeiro de 1953, era feita por um avião Douglas DC-3, “com seus dois motores radiais que expeliam fogo e fumaça quando eram acionados” (Elcio Zanato, Cascavel, A Grande Conquista).

Quem será o primeiro prefeito?

Um mês antes da primeira eleição municipal, em 10 de outubro de 1952, o padre Luiz levou a estátua de Nossa Senhora Aparecida em procissão até a atual localização da Catedral de Nossa Senhora Aparecida e ali declarou fundada “a nova cidade de Cascavel”.

Ele considerava “nova cidade” o Patrimônio Novo, cujos lotes o primeiro prefeito iria vender para custear os serviços municipais. Em 9 de novembro de 1952, finalmente, Cascavel elegeria o prefeito e a igreja localizada no Patrimônio Novo facilitaria à Prefeitura vender terrenos para custear os serviços municipais. 

A campanha eleitoral se desenvolveu em clima de grande emoção. O farmacêutico Tarquínio Joslin Santos tinha visível maioria na cidade, onde era mais fácil votar, e o agropecuarista Neves Formighieri se destacava no interior. Parecia uma eleição já resolvida em favor do estimadíssimo farmacêutico.

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