O Paraná se constrói ao Norte e Oeste

Carroções se projetando ao Oeste e Sudoeste, o trem chegando a Nova Dantzig (Cambé) e se distribuindo para o Sul

Com a chegada do trem a Nova Dantzig (Cambé) e em seguida a Rolândia, em 1936, mais dois passos importantes são dados para a colonização do Norte. Os colonos já começam a povoar o centro do Paraná. Partindo do Leste para o Oeste, eles avançam de Guarapuava para o Noroeste e para o Sudoeste.

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Por iniciativa da Prefeitura de Foz do Iguaçu, organiza-se ao comando de Jeca Silvério a vila de Cascavel. É o Paraná que se estrutura com o trem avançando a partir de Ourinhos na formação do Norte Novo e a expansão das colônias do Sul e Sudoeste.

Com mais gente em busca das terras propícias à produção agrícola e havendo enormes latifúndios não explorados em posse das velhas oligarquias estaduais que enriqueceram no Império e na Primeira República, uma expressão começa a se incorporar aos discursos e às preocupações dos planejadores: reforma agrária.

Tema sempre explosivo, ela encontra no governador Manuel Ribas um importante defensor: “Talvez seja esse programa – tornar cada brasileiro do sertão um proprietário rural – um dos melhores elementos de combate às ideias e campanhas subversivas à ordem social e política da nossa pátria”.

Ribas, com habilidade, defende a tese de que a pregação comunista por uma rebelião rural seria silenciada se o poder público concedesse a generosa oportunidade de que toda família de sertanejo fosse dona de um pedaço de terra.

As boas intenções de Ribas esbarram, porém, em obstáculos fortíssimos, a começar pela resistência dos latifundiários a se desfazer das terras que usam como estoque de riqueza.

Sabotando o desenvolvimento

Os grandes proprietários de terras se contentam em deixar a erva-mate brotar, derrubar árvores e criar algum gado, porque já é fácil trazê-lo do Mato Grosso. Na agricultura, evitam lavouras além do café.

O milho é produzido sobretudo para combiná-lo com a suinocultura – o safrismo. A estrutura de escoamento é sofrível e eles não possuem capitais suficientes para aplicar na exploração agrícola nem mão-de-obra, além da familiar, que aceite ser assalariada em regime de semiescravidão.

Os posseiros rejeitam trabalhar nos latifúndios apenas por teto e comida, como escravos. Têm notícia de que o governador quer que todos tenham terra e trabalhem. A boa nova se espalha e eles marcham para ocupar as melhores terras.

Com os migrantes apoiados pelo Estado, os grandes proprietários não têm para quem vender as terras a preços de mercado de modo a fazer capital e colocá-lo a serviço de seus empreendimentos. Os sertanejos preferem tomar terras do Estado e trabalhar para si mesmos, utilizando a mão-de-obra familiar.

Estímulo concreto à colonização

Favorecendo a migração ao interior, em 1936 “o governo isentou de impostos a bagagem, móveis, utensílios, veículos e animais dos colonos que procuravam se fixar nas regiões rurais do Estado” (Ana Yara Dania Paulino Lopes, Pioneiros do Capital: A Colonização do Norte Novo do Paraná).

Ribas simpatizava com a ideia de distribuir terras aos sertanejos, portanto, mas tinha ordens de reprimir os comunistas, que pregavam o mesmo. Para combatê-los, o governador cria, em 5 de março de 1937, a Delegacia de Ordem Política Social, polícia política instituída com a lei 177.

O mundo fervilha. Em 26 de abril de 1937, em plena Guerra Civil Espanhola, a aviação aérea nazista bombardeia Guernica, provocando um horrendo massacre que só teria depois paralelo na explosão das bombas atômicas pelos EUA no Japão.

Este, por sua vez, em 7 de julho invade a China, recebendo em troca a resistência de uma guerrilha que se transforma em Guerra de Libertação Nacional. Desenha-se o contorno de uma II Guerra Mundial.

Transporte: da terra ao céu

O Paraná atrai nessa época uma importante leva de colonos eslavos que ou chegam de uma Europa conturbada ou aproveitam as facilidades concedidas pelo governo Ribas para se transferir das regiões escarpadas de Santa Catarina para as terras planas do Paraná.

Os migrantes se entusiasmam com as terras mas se queixam da precariedade das estradas, impedindo o transporte de cargas mais pesadas. Os agentes dos Correios também reclamam. Mesmo com a estrada periclitante, já havia em serviço, além dos estafetas a cavalo, uma jardineira – micro-ônibus que se deslocava da fronteira até a capital.

Para compensar as demoradas viagens do serviço postal por terra, o Correio Aéreo Nacional em agosto de 1937 começa uma escala de voos que integra até a diminuta vila de “Encruzilhada de Aparecida dos Portos de Cascavel”:

“O CAN realiza no Paraná um percurso que se inicia em Curitiba, seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso. Nas tardes de quarta-feira, a preocupação de toda a pequena população do povoado é presenciar o pouso do monomotor da Aeronáutica” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).

Começa o Estado Novo

Somando-se à ofensiva nazista na Europa e à expansão do militarismo japonês na Ásia, em novembro de 1937 o Brasil também ingressa na era do predomínio fascista.

Getúlio Vargas rasga a Constituição que ele próprio elaborou em 1934 e desfecha um golpe de Estado com o apoio das elites econômicas que viam com simpatia seu controle rígido sobre os trabalhadores.

Por força da Carta Magna, Vargas teria que deixar o poder em 1938. Com o apoio dos integralistas, forja-se o Plano Cohen, com base em documento grosseiramente falsificado pelo capitão Mourão Filho, responsável depois também por começar a ditadura do 1º de abril de 1964.

Divulgado à nação para semear o medo em torno de um perigo inexistente, o “Plano Cohen” serviu de pretexto para Vargas convencer o Congresso a liquidar a Constituição e os poucos direitos que ela concedia.

Depois de impor o Estado de Sítio em todo o País, Vargas fechou o próprio Congresso Nacional e elaborou uma nova Constituição, de inspiração fascista e imposta por sua autoridade pessoal.

Com o golpe, Manoel Ribas, acusado de simpatia com os comunistas por apoiar a entrega de terras aos sertanejos paranaenses, deixa de ser governador em 10 de dezembro de 1937, mas como é fiel a Vargas volta a ser designado como interventor.

Bandeira já queimada

O novamente interventor Manoel Ribas foi poupado, em 1937, de engolir um dos absurdos impostos pela ditadura fascista de Getúlio Vargas: a queima das bandeiras estaduais em praça pública.

O regime instaurado em 1937, batizado de “Estado Novo”, embora nada tivesse de novidade, recuperava os maus costumes autoritários do Império e da Velha República e exigia apenas uma bandeira nacional, banindo as estaduais.

O Paraná é o único Estado a escapar dessa humilhação porque o ex-governador Caetano Munhoz da Rocha havia decretado já em 1923 a extinção da bandeira paranaense, que só voltará a tremular nos prédios públicos e escolas com a redemocratização do País, em 1947.

Todos os direitos e garantias individuais são suspensos. No livro Falta Alguém em Nuremberg, David Nasser elenca as formas de torturas praticadas: esmagamento de testículos com alicates, extração de unhas e dentes, queima de seios com cigarros, introdução de arame nos ouvidos, aquecimento de órgãos genitais com maçarico e outros maus-tratos cruéis.

Além de já não ter mais bandeira, o Paraná estava ameaçado de perder território, como já havia acontecido na derrota para Santa Catarina no episódio do Contestado. Perderia justamente seu Oeste e o grande rio com seu nome.

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