Na década de 1940 o impressionante progresso da região Oeste estava ligado claramente à exploração da madeira. Já se sabia que o ciclo iria acabar – durou ainda três décadas –, mas a colonização vinha para ficar.
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Nesse contexto, qualquer iniciativa governamental na região, com ou sem o frustrado território Federal do Iguaçu, passava pelo sucesso dos empreendimentos colonizadores das companhias Maripá e Pinho e Terra, filhas da mesma parceria que resultou na compra da antiga Fazenda Britânia.
Sob as vistas dos planejadores federais integrados ao Ponto IV, criado pelo presidente Harry Truman para atrelar a América do Sul aos EUA em tempos de Guerra Fria, ocorreu um movimento duplo: o habilidoso Alberto Dalcanale manobrava com os interesses políticos em Curitiba e os técnicos federais ligados ao Ponto IV vinham ao interior para manipular a região em desenvolvimento.
“O Ponto IV foi considerado por muitos políticos, educadores e intelectuais como um instrumento de controle político e ideológico dos Estados Unidos sobre o Brasil. (…) Chamavam também atenção para as exigências descabidas dos norte-americanos, como a de controle fiscal e de acesso a informações e documentos oficiais” (Alzira Alves de Abreu, Fundação Getúlio Vargas).
A surpresa dos técnicos
Dois itens devem ser destacados sobre a atuação do Ponto IV no Oeste do Paraná. Primeiro, seus técnicos chegaram, omitindo os EUA e se anunciando ligados à ONU, pensando que iriam achar terra inculta, mas encontraram agricultores descendentes de imigrantes já desenvolvendo importantes experiências para melhorar o cultivo.
Segundo, por mais que de fato os técnicos ligados ao programa estivessem a serviço do modelo estadunidense de cultura e economia, eles estiveram efetivamente na base do desenvolvimento da assistência técnica e da extensão rural na região.
Com caminhão, a viagem rápida
Apesar das geadas intensas, a expansão das lavouras cafeeiras foi tão ampla que em 1946 o Paraná já figurava como o sétimo produtor no Brasil.
Finda a guerra e iniciada a hesitante redemocratização do Brasil, os caminhões passam a dominar o cenário na grande estrada que viria a ser a BR-277, substituindo progressivamente as onipresentes carroças dos pioneiros.
Vereador do distrito cascavelense de Foz do Iguaçu, batizado como “Guairacá” durante os meses que restarem do Iguaçu, o filho de eslavos Jacob Munhak, acostumado por muitos anos a viajar com seus carroções até a fronteira, comemorou o feito de viajar em um caminhão de Cascavel a Ponta Grossa em “apenas cinco dias”.
Com tempo bom, isso já era possível. Com chuva, a estrada de terra não permitiria.
Assim, o Médio-Oeste vai conhecer na segunda metade dos anos 1940 seu grande e bem-sucedido projeto de colonização, mas Foz do Iguaçu, ao contrário, sofrerá um rude golpe no fim de abril de 1946.
Conservadorismo moralista antijogo
O presidente Dutra, em sua escalada moralista, proibiu o jogo de azar no Brasil e com essa imposição abalou fortemente a economia do extremo-Oeste do Território do Iguaçu, que tinha no Cassino um de seus mais promissores elementos de sustentação e base para a estruturação do turismo regional.
A ruína pairou sobre o Hotel Cassino a partir do Decreto-Lei nº 9215, de 30 de abril de 1946, que proibiu o jogo no país.
O Cassino começou a se formar por uma iniciativa do prefeito de Foz do Iguaçu, Jorge Schimmelpfeng, que pretendia explorar o turismo a partir do apelo Cataratas-jogo-lazer, e assim a construção do hotel começou em 1918.
“O hotel ocupa um vasto edifício, especialmente construído para este fim, tendo de frente 30 metros e 10 de fundo, com dois pavilhões laterais de 30 metros por 6. Constará de sala para baile, salão de jantar, sala para jogo, quartos para hospedes, banheiros instalações sanitárias. E iluminado à luz elétrica e servido de água encanada” (Jaime Ballão, A Fóz do Iguassu e as Cataratas do Iguassu e do Paraná)..
A obra demorou tanto que os argentinos ironizavam: “A construção mais demorada do mundo não foi a Muralha da China. É o Hotel Cassino de Foz do Iguaçu”.
Sua forma final veio de projeto do engenheiro Raul de Mesquita, em 1936, com a obra a cargo da Companhia Construtora Nacional, do Rio de Janeiro.
O jogo nunca foi esquecido
A precária democracia brasileira virou o Oeste pelo avesso. O Território Federal do Iguaçu estava a um passo da extinção, mas o Paraná ainda não podia interferir na região e em Foz do Iguaçu houve muita reclamação pela proibição do jogo.
O Hotel Cassino era gerenciado por um casal de argentinos, substituídos após o fim do jogo pelo major José Acylino e esposa Rosa Cirilo de Castro, que levaram à frente o empreendimento como hotel apenas para acomodações e a instalação de serviços diversos, como sua emissora de rádio.
Com uma área construída de 1.075 m2, o antigo Hotel Cassino por muitos anos serviu com méritos ao turismo de Foz do Iguaçu, hospedando personalidades ilustres como Moisés Lupion, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
Invariavelmente, sempre que uma autoridade se hospedava ali, alguém da Prefeitura e da sociedade chegava para cumprir uma dupla tarefa: saudar a honrosa visita e sugerir que se houvesse também a opção do jogo a estadia em Foz do Iguaçu seria ainda melhor.
No futuro, a jogatina que horrorizava os conservadores passou a ser bancada pelo próprio governo. Recente concurso da Mega Sena registrou quase 70 milhões de apostadores.
A inviabilidade do Território Federal do Iguaçu saltava aos olhos desde o fim da ditadura Vargas. Fora do poder e sem o apoio dos estados do Paraná e de Santa Catarina, os getulistas viram ruir seu projeto.
A queda final começa em 23 de maio de 1946, quando o deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha Neto (1905–1973) vai ao plenário da Assembleia Nacional Constituinte propor a extinção do Território.
Recuperar a porção Oeste/Sudoeste seria uma consagradora compensação pela perda do Contestado, que só voltaria a ser objeto de disputa no final da década de 1960, com o movimento pelo Estado do Iguaçu.
A essa altura, seguia em Curitiba em franco a andamento a batalha para governar um Paraná que logo teria sua área ampliada. Desencadeia-se uma aguerrida competição entre líderes que ambicionavam entrar para a história como o primeiro governador da era democrática.
Na capital paranaense, o influente deputado federal João Teófilo Gomy Júnior rompeu com o governador Brasil Pinheiro Machado, a quem antes apoiou para assumir as funções de interventor do Estado, acirrando a competição.
O fim do Território Federal
O Iguaçu tentou resistir à ofensiva de Bento Munhoz em maio de 1946 enviando o novo governador, Frederico Trotta, para conhecer Foz do Iguaçu, cidade sobre a qual ele só ouvira falar.
“Ainda, agora, em visita àquela cidade o atual governador do Território o ilustre oficial do Exército major dr. Frederico Trotta determinou a execução de várias e vultuosas obras como sejam uma estrada de rodagem para o Distrito de Santa-Helena, a ser criado por sugestão minha, o qual constitui a mais importante zona agrícola do município; a construção de um hospital como já o merece Foz do Iguassu; melhoria nos serviços de Saúde Pública; fundação e instalação de novas escolas; instalação da iluminação pública e a urbanização da cidade” (Juiz Teodoro Vaz de Assunção, carta de 31 de maio de 1946).
Obtendo amplo apoio para a proposta, Bento Munhoz apresentou oficialmente o texto da emenda constitucional no dia 10 de junho de 1946. Um mês depois, quando voltou a discursar na Assembleia Constituinte em defesa do projeto, já estava assegurada a derrubada do Iguaçu.
A partir daí, o fim do Iguaçu passou a ser mera questão burocrática.
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