Se você prestar bem atenção, o Jornalismo tradicional tem uma parcela grande de previsibilidade, principalmente devido às pautas sazonais e à forma de abordagem dos temas.
Todos os anos você vai ler, ouvir ou assistir a matérias jornalísticas sobre as vendas do comércio para ao Natal, o Réveillon, o pagamento do 13º salário, os destinos de férias, etc. São temas factuais recorrentes, que refletem o momento de vida da audiência.
Nos programas jornalísticos de TV ainda existem os assuntos de frequência diária, tais como previsão do tempo e fluxo instantâneo de veículos nas rodovias.
A previsibilidade segue também nos modelos de perguntas-padrão feitas aos entrevistados: Qual o objetivo? Qual a expectativa? Qual sua opinião?
Esse comportamento da mídia parece fugir à premissa que diz que: notícia não é quando um cachorro morde uma pessoa, mas sim quando uma pessoa morde um cachorro.
Ainda bem que o previsível sempre está sujeito a ser surpreendido pelo inusitado!
Em vídeo que circula na internet, a repórter pergunta ao entrevistado:
-Qual o segredo para chegar aos 100 anos de idade?
Ele responde:
– O segredo é não morrer.
A resposta do idoso provoca risos e o vídeo está sendo considerado uma comédia, justamente em razão do seu caráter inusitado.
O senhor centenário foi bem-humorado na sua colocação, mas ao mesmo tempo, sua resposta revelou que nem todas as perguntas possuem resposta previsível. Possivelmente, ele não tenha nenhum “segredo” que seguiu para chegar àquela idade. Assim, a pergunta-padrão (feita a todos os centenários) ficou sem resposta-padrão (que varia entre levar uma vida saudável e tomar uma taça de vinho ao dia).
Também viralizou, há mais tempo, o vídeo da entrevista a uma criança que estava conhecendo uma feira de animais e ordenhando uma vaca, ao que a repórter pergunta:
– O que está achando?
E o menino responde:
– Leite.
Apesar de óbvia, a resposta do garoto foi surpreendente e expressou a espontaneidade infantil.
Portanto, mesmo conservando uma parcela de previsibilidade, o segmento de comunicação coleciona um vasto conjunto de situações inusitadas, sejam elas cômicas (interrupções, tombos, respostas inesperadas) ou arriscadas (acidentes, explosões, quedas, tiroteios).
Acredito que a previsibilidade do Jornalismo atende a quesitos como a busca pela universalidade dos assuntos, acesso a informações de interesse público, abrangência de pessoas e facilidade de compreensão pela audiência.
Por outro lado, não podemos desconsiderar que o Jornalismo precisa se reinventar cada vez mais, seja em razão do turbilhão de informações que competem pela atenção do público, seja pela possibilidade de robôs substituírem os repórteres no trabalho de produção de matérias – se antes esse fato era inusitado, agora já é previsível.
Por enquanto, o componente emocional ainda é nossa vantagem sobre as máquinas. Porém não sabemos até quando teremos essa primazia, tendo em vista os avanços da inteligência artificial. Até lá, coloquemos em prática nossas melhores habilidades subjetivas (soft skills).
Sendo assim, no exercício do Jornalismo cabe usufruir mais das características humanas do entusiasmo, carisma, criatividade, intuição, persuasão, solidariedade, empatia, espontaneidade, cooperação, capacidade de mobilização e integração, etc.
Também vale explorar mais o jornalismo literário e a contação de histórias (storytelling) que envolvem e emocionam o público, pois são formas mais consistentes de fazer parte do seu cotidiano, do seu ideário e da sua constituição como humanos plenos.
Sucesso a todos!
* Carina Walker é jornalista e investidora.
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