Obsessão: levar o trem ao Rio Paraná

O Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel foi criado em 1936 pelo já governador Manuel Ribas e seu secretário Othon Mäder, ex-prefeito de Foz do Iguaçu. Mäder prometeu a Jeca Silvério criar a cidade, na época só com meia dúzia de casas

Na metade da década de 1930, o Paraná apressa a recuperação das terras que havia cedido para frustrados projetos de colonização. Além de fornecer a concessão aos irmãos Matte, anula a doação de 300 hectares feita a Antônio Alves Almeida, no Norte do Estado, e reverte ao patrimônio público 240 mil hectares concedidos à colonizadora Meyer, Annes e Cia Ltda (antiga Petry, Meier & Azambuja), depois Companhia de Colonização Espéria junto ao Porto de Santa Helena.

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O governo do Estado pretende nessa época uma ferrovia que, partindo de Guarapuava, teria como objetivo fazer o aproveitamento e posterior escoamento das riquezas do Terceiro Planalto.

Entretanto, o ambicioso projeto paranaense de ligar por via férrea o Porto de Paranaguá, que acabara de ser concluído, e com a fronteira, passando pelo centro distribuidor de Guarapuava, foi atropelado por estudos feitos pela Inspetoria Federal das Estradas de Ferro.

Com base neles, a União assumiu a Estrada de Ferro de Guarapuava, incorporada à Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. O Estado do Paraná, dócil, baixou o decreto 967, de 23 de abril de 1934, “transferindo para a União, sem nenhum ônus, todo o acervo da estrada em construção” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).

 

Norte avança, Oeste empaca

O governo Federal homologou a transferência se comprometendo a concluir as obras e contratou a empresa Braco S.A. para a construção dessa estrada de ferro, que só alcançou Guarapuava em 1951 e jamais chegaria a Foz do Iguaçu.

Ao Norte, a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná transpunha o Rio Tibagi para estender seus trilhos até Londrina, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana.

É pelos trilhos que chegam milhares de compradores de terras ao Norte do Paraná: em 1935, lotes da região de Londrina já terão sido adquiridos por 2.133 proprietários estrangeiros e 1.266 colonos brasileiros, segundo relatório da Companhia de Terras do Estado.

A nova Constituição ampliou para 100 km o limite da Faixa de Fronteira, afastando o governo do Paraná das principais atividades que desenvolvia para induzir a ocupação do extremo-Oeste.

Com isso, avançava ainda mais o projeto de retirar dos estados do Paraná e Santa Catarina suas porções oestinas. Mesmo assim, é o governo do Estado que envia à fronteira o primeiro médico de Foz do Iguaçu.

Dirceu Lopes pagava com a montagem de um posto de saúde em Foz do Iguaçu o crédito que recebeu por um ano de estudos na Universidade do Paraná.

 

Paraná, um pigmeu agrícola

Manuel Ribas deixa de ser interventor em janeiro de 1935 para ser oficializado como governador do Paraná. A partir de agora o Paraná nunca mais terá um presidente, como nos tempos imperiais e na República Velha.

O já governador Ribas, no entanto, voltará a ser interventor quando Vargas golpear novamente os próprios compromissos e implantar uma ditadura sem máscaras, em 1937.

Ribas assumiu, com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a tarefa de promover a colonização com “proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos agrícolas”.

A lei pretendia privilegiar os interessados que já viviam no Paraná, mas o governo federal queria espaços para a penetração de colonos vindos do Sul.

“As empresas particulares, principalmente aquelas organizadas no Rio Grande do Sul, ficaram incumbidas de colonizar tendo como elemento humano os descendentes de imigrantes que estavam se deslocando da região colonial do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina para as regiões Sudoeste e Oeste paranaense” (Antonio Marcos Myskiw, Titulação de terras no Oeste Paranaense: Uma análise documental).

A pauta básica de exportações paranaenses se limita à erva-mate, café e madeira. É, porém, uma produção irrisória: em 1935, toda a safra paranaense de café não chega a meio por cento da produção nacional. O Paraná estava ainda longe de ser um “celeiro” para o Brasil.

 

Ribas apoia formação de Cascavel

O projeto de povoamento do Médio-Oeste avança em 16 de abril 1936, quando o governador Manuel Ribas expede o título de domínio pleno das terras do primeiro perímetro urbano de Cascavel.

Em favor de Foz do Iguaçu, o título abrangia uma área de 1.001 hectares. Surgia o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel, nome quilométrico pelo qual o governador tentava harmonizar os religiosos e os políticos do lugar, empenhados numa queda de braço para definir o nome da cidade.

Foz do Iguaçu, na época, tem cinco edifícios federais, dois estaduais e 244 particulares, com uma população de 1.500 habitantes na sede e 6 mil no município, abrangendo de Guaíra a Cascavel. Toledo só começaria a se formar dez anos depois.

A frota de veículos de Foz do Iguaçu é constituída por nove automóveis, 19 caminhões e 206 carroças com quatro rodas feitas de tocos secos de madeira. Há seis ferrarias, uma das quais em Guaíra, que presta serviços ao transporte com carroças, cavalos e bois.

 

Assim era o Oeste nos anos 1930

A indústria fronteiriça é composta por seis serrarias, uma fundição localizada no distrito de Guaíra, quatro fábricas de rapadura, nove engenhos de aguardente, uma fábrica de móveis, duas de gelo, duas de beneficiar arroz e duas olarias, uma delas em Guaíra.

Há três usinas de eletricidade – na sede, em Guaíra e Porto Mendes. São sete carpintarias, duas delas em Guaíra.

Um estaleiro completo constrói pequenas lanchas e embarcações miúdas. A navegação fluvial continua a ser controlada por estrangeiros: as companhias argentinas Milvanovich e Nuñes fazem despachos semanais.

O vasto Município de Foz do Iguaçu tem ainda dois grupos escolares, um deles em Guaíra, e seis escolas estaduais isoladas, uma das quais em Cascavel .

Esse retrato da fronteira em meados da década de 1930 se completa com anotações sobre o rebanho regional: lanígero, cem cabeças; caprino, trinta; equino, 250; cavalar, 400; suíno, 2 mil; bovino, 1.500.

O Paraná se molda na força dos imigrantes e sertanejos, pelo braço do paraguaio das obrages, dos paulistas e mineiros que chegam pelo trem, dos catarinenses e gaúchos que se deslocam em carroças, cavalos e por embarcações argentinas no Rio Paraná.

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