O ano de 1800 fecha o século XVIII, no qual a burguesia conquista o poder político, abalando o absolutismo e instaurando seu sistema: o capitalismo, que vai se impor em escala global durante o século XIX, período em que também o Paraná se completará como província autônoma.
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Em 1800, o mundo alcançava seu primeiro bilhão de pessoas. A eletricidade começa a ser domada por Ritter. A Companhia das Índias Orientais desenvolve crescentes atividades na China, para onde os ingleses contrabandeiam ópio, oferecido em troca dos preciosos produtos orientais.
A Guerra do Ópio seguirá até meados do século, apresentando consequências duradouras. Caracteriza, por seu impacto sobre o Oriente, a ofensiva global da Inglaterra para expandir sua influência, pela força do comércio, do dinheiro e das armas. Em breve o Brasil e o Paraná também estarão sob o domínio britânico.
Os bárbaros Tupis
Por enquanto, no interior do futuro Paraná, só os campos de criação progridem, até onde é possível haver proteção militar. Além dela está a imensa extensão das terras ainda sob domínio indígena.
Sair para as matas não controladas pela força militar, bancada pelos latifundiários (sesmeiros) que exploram a economia tropeira (pecuária), significa, portanto, enfrentar a resistência dos índios.
O espanhol Miguel Lastarría, secretário do vice-rei do Prata, Juan José de Vértiz y Salcedo (1719–1799), enviou relatório à Europa informando que “os bárbaros Tupis vagam pelos grandes e espessos bosques (…) e muito no interior dos domínios portugueses, desde as cabeceiras do Piratini para o Rio Curitiba ou Iguaçu” .
Muitos europeus ainda chamavam o Rio Iguaçu de “Rio da [Comarca de] Curitiba”.
O treinamento de padre Chagas
A preparação para a conquista da vastidão interiorana do Paraná começa longe daqui, com a designação do padre curitibano Francisco das Chagas Lima (1757–1832) para aldear e catequizar índios nômades dos sertões de Mantiqueira, na divisa da Capitania de São Paulo com Minas Gerais.
Era um treinamento para a missão que lhe seria confiada no interior do futuro Paraná. Lima se saiu bem na missão de formar a Aldeia de São João de Queluz, à qual impôs um padrão modelar.
Sobre o futuro do interior ainda despovoado, padre Aires de Casal supunha que “depois de subjugados os selvagens de Guarapuava, ela deve crescer; e seus extensos contornos passarão a ser semeados de grande número de aldeias, cujos moradores, livres deste flagelo, poderão criar muito gado, e fazer florescer a agricultura”.
Por ora, Portugal, no olho do furacão da disputa entre França e Inglaterra pelo controle da Europa, pretendia evitar que os “ideais franceses” (republicanos) se alastrassem por sua grande colônia sul-americana.
Lisboa autorizou no outono de 1800 o envio ao Brasil da força naval do almirante Donald Campbell para aumentar a força militar lusa na região.
O papel da Fazenda Fortaleza
O vice-rei José Luís de Castro (1744–1819), Conde de Resende, via dificuldades para o sustento de um grande efetivo militar, mas reforçou a defesa de Santa Catarina com um regimento da Infantaria e pôs em alerta as forças disponíveis no Rio Grande e Mato Grosso.
Viu que era urgente ocupar o interior. Portugal precisava ir além do que era o Paraná no início de século XIX – Litoral, Curitiba e Castro. Assim, em 22 de outubro de 1800 ocorre uma transação que influirá decisivamente no desbravamento e ocupação do então remoto interior do Paraná.
O coronel Joaquim Aranha de Camargo, influente personalidade da Justiça e da política em São Paulo, amigo da família real e descendente do rei Afonso Henriques, formalizava a transferência de sua sesmaria ao sargento-mor José Felix da Silva Passos, “com todo o gado e animais”, fazendo com que o enorme latifúndio do adquirente chegasse a 86 mil alqueires.
O padre e o militar
Acumular essa grande propriedade teria sido um prêmio a José Félix pela matança de índios Kaingangues, único obstáculo para a plena ocupação das terras requeridas. Os nativos eram acusados de invadir plantações, matar animais e atrapalhar a passagem dos tropeiros.
Eram conhecidos como Coroados, pelo corte raso do cabelo formando uma roda (ou coroa) acima da nuca.
Desse latifúndio – a Fazenda Fortaleza – e do horror aos massacres patrocinados pelo coronel José Félix para eliminar os obstáculos à sua expansão territorial viria o projeto de ocupar o interior pela presença militar combinada com o esforço pelo aldeamento dos índios.
Esse plano teria como protagonistas o padre curitibano Francisco das Chagas Lima e o militar lusitano Diogo Pinto de Azevedo Portugal (1750–1820).
Os índios resistiam bravamente às incursões das forças militares, limitadas pela fidelidade do trono luso ao papado, contrário ao massacre dos índios.
A rainha Maria I era uma católica fanática, mas em fevereiro de 1792 os médicos a atestaram como incapaz de gerir o reino.
Com a morte do primogênito José, preparado desde criança para herdar o trono, o reinado caiu nas mãos do débil príncipe João, que sob outras influências teria os índios como inimigos.
Sem as amarras que prendiam os militares, os grupos paramilitares de José Félix ousavam ocupar novas áreas enquanto clamavam por autorização real para promover “guerra justa” aos índios.
Maior império do mundo
A França tentou sem sucesso, mais de uma vez, tomar conta de todo o Brasil e nessa época o Oeste do Paraná quase acabou nas mãos de Napoleão.
As pressões sobre João cresciam. Sua esposa, a princesa espanhola Carlota Joaquina (1775–1830), queria que Portugal abandonasse os ingleses e se aliasse às forças napoleônicas.
Carlota formou um partido secreto com a intenção de declarar João incapaz de governar, como já havia acontecido com a mãe, Maria I, a Louca. Se assumisse o trono em lugar de João, Carlota seria a líder do maior império do mundo, constituído pela Península Ibérica e América do Sul.
O projeto foi proposto pelo chefe militar português, Marquês de Alorna. Teria como protagonista o próprio príncipe João. Começaria a partir do momento em que a família real se transferisse para o Brasil.
Com a rainha afastada, João governaria o novo grande império a partir do Rio de Janeiro. Mas se Carlota triunfasse, o Oeste voltaria a ser espanhol, agora submetido à influência francesa.
Com as manobras britânicas em favor do submisso João, o Brasil continuou português, mas agora sob ampla influência inglesa.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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