Em 1946, já decidida a transferência da Fazenda Britânia ao grupo de colonizadores gaúchos formado por Alberto Dalcanale, Alfredo Ruaro e seus associados, o primeiro fixou sua base de operações em Curitiba.
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Foi já da capital do Paraná, exercendo influência política sobre o governo do Estado, que além de Toledo o grupo iniciou também a colonização de áreas da Rota Oeste, na qual se situariam no futuro os municípios de Céu Azul (nome escolhido pela filha Ivete [Bornhausen] Dalcanale), Matelândia, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e mais tarde também Palotina.
A colonizadora Pinho e Terra começou a Rota Oeste trazendo agricultores de Farroupilha para formar Céu Azul, com Reinaldo Biazus e Emílio Gomes, e de Flores da Cunha e Caxias do Sul para criar Matelândia, com Benjamin Biazus.
O nome Matelândia, na verdade, não se deve ao esgotado ciclo da erva que deu riqueza ao Paraná antigo. Homenageia o colonizador Miguel Emílio Matte, o empresário que tentou povoar a região mas perdeu as terras por não conseguir saldar o empréstimo de cem mil pesos que tomara junto ao argentino Alfredo Giombelli.
Depois, a Pinho e Terra participou da urbanização de áreas nas cidades de Foz do Iguaçu e Cascavel, promovendo grandes loteamentos. A presença da Pinho e Terra ainda é notada em Cascavel: o terreno em que se ergue o amplo parque do Tuiuti Esporte Clube, no bairro São Cristóvão, foi doado pela colonizadora.
Planos rural e urbano
Mais tarde, em Palotina, a Pinho e Terra seria severamente criticada por não avisar os colonos de que estava em conflito com o governo do Estado, mas na Rota Oeste seu comportamento foi amplamente elogiado.
“A estruturação das colônias, chácaras, vilas e cidades foram pensadas, desenhadas e implementadas. Estas afirmações podem ser verificadas na atualidade, se se observar o espaço urbano e rural das áreas colonizadas por essas empresas colonizadoras. Com o passar dos anos houve alterações, mas os sinais do planejamento ordenado evidenciam a sua força orientadora e influenciadora sobre o espaço” (Valdir Gregory, Os Euro-Brasileiros e o Espaço Colonial).
“[A colonizadora Pinho & Terra] Foi um exemplo de colonização. Abria uma gleba, loteava e dotava de infraestrutura mínima, com igreja, escola, praça, um núcleo populacional que passava a ser embrião de uma cidade. Assim surgiram Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Matelândia…” (João Samek, depoimento a Juvêncio Mazzarollo, Gazeta do Iguaçu, 19.7.1993).
No relatório apresentado ao governo pela Pinho e Terra está a razão dos elogios gerais recebidos: o desenho de um plano de reforma agrária combinado com sua correspondência urbana.
“Os lotes coloniais, medindo em torno de 25 hectares, formariam perímetros de áreas diferentes de acordo com o relevo e a hidrografia. Ao redor dos núcleos populacionais foram criados lotes de 2,5 hectares, chácaras destinadas ao cultivo de hortigranjeiros”.
A rede que se tece
“Enfim, Alberto Dalcanale tinha visão das coisas e desenvolveu, com a experiência, um leque de atividades empresariais que fizeram dele, sem favor, um dos nomes mais importantes e destacados da colonização do Oeste de Santa Catarina e Sudoeste [sic] do Paraná” (Luiz Alberto Dalcanale, o Neno).
Nessa ampla rede de famílias e negócios, o pioneirismo de Willy Barth teve igual destaque. Barth já havia trabalhado também com Carlos Sbaraini na venda de madeira, que era embalsada e exportada através do rio Uruguai.
Foi Barth quem convidou o amigo Alfredo Ruaro, procedente de São Marcos e comerciante em Farroupilha, para ser seu corretor de terras, apresentando-o a Alberto Dalcanale.
Desse encontro histórico resultou que Ruaro e Dalcanale se empenharam na aquisição da Fazenda Britânia, propriedade começada por Jorge Schimmelpfeng, militar e ex-prefeito de Foz do Iguaçu.
Ao se aprofundar nessa rede encontra-se uma história ampla, tecida de nomes que se associam para vencer obstáculos, que não foram poucos por conta do desinteresse federal pelo Território do Iguaçu e pela impossibilidade do Paraná de intervir na região enquanto a proposta de reintegração da área não fosse aprovada pelo Congresso Nacional.
É no vão entre a inoperância do Iguaçu e a ausência do Paraná que se constituiu a companhia Maripá, à qual Barth primeiro se integrou como associado e depois viria a comandar.
Na terra e no cartório
Segundo o filho Neno, Alberto Dalcanale comprou a totalidade das ações da Cia. de Madeiras Del Alto Paraná S.A., uma sociedade com sede na Argentina, mas de propriedade de um grupo inglês.
Esta empresa era proprietária da Fazenda Britânia, no Oeste do Paraná, com uma área de 124 mil alqueires. É quando Dalcanale lidera, então, a incorporação desse latifúndio pela empresa que fundou com seu grupo de associados: a Industrial e Colonizadora Rio Paraná S.A. (Maripá).
O primeiro grupo de pioneiros trazido por Zulmiro Ruaro em março de 1946 já trabalhava duro junto ao arroio Toledo quando, em 7 de abril, Dalcanale se reuniu em Porto Alegre com os sócios Alfredo Ruaro (o maior), Willy Barth, Júlio Gertrum, Azevedo Bastian, Curt e Egon Bercht para efetivar a compra da área da antiga Fazenda Britânia e constituir oficialmente a Maripá logo em 13 de abril.
No trabalho árduo de abrir a mata os colonos eram atacados pelo mosquito borrachudo. Não aguentando, muitos se “boleavam de volta, muitas vezes a pé, até Farroupilha” (Alfredo Ruaro, depoimento ao jornal Mensageiro, 17/10/2013).
Os pioneiros coincidem em afirmar que não encontraram resistência nem violência humana, mas poucos suportavam os ataques maciços e coordenados tanto dos borrachudos quanto de incômodos carrapatos.
O tripé da colonização
O que levou o projeto colonizador a deslanchar foi a atração focada em famílias, já que os aventureiros, em busca de lucro rápido e vida melhor que no Sul, logo desistiam da aventura.
Para Ruaro, o que deu consistência aos projetos de colonização do grupo foi a infraestrutura montada para atender às necessidades das famílias, com base no tripé igreja/escola/hospital.
Surge, assim, o bem-sucedido megaprojeto de colonização da Maripá, que espelhou no interior paranaense, ex-Território do Iguaçu, a transição do domínio britânico para o estadunidense, por exemplo, ao colher o interesse do Ponto IV, programa de cooperação técnica internacional criado pelo presidente americano Harry Truman em janeiro de 1949.
Os acordos em torno do Ponto IV permitiram aos técnicos norte-americanos meter o dedo em tudo que acontecia no interior do Brasil nos campos da economia, gestão pública, administração orçamentária e financeira, agricultura, recursos minerais, energia nuclear, saúde, educação, transportes etc.
No setor de agricultura, diversos programas de ensino e pesquisa foram implementados por um órgão misto brasileiro-norte-americano denominado Escritório Técnico de Agricultura (ETA) sob a promessa de ampliar a produtividade, expandir o poder aquisitivo e melhorar a saúde das populações.
Para o bem ou para o mal, começava assim a arrancada oestina para se tornar um dos centros do agronegócio mundial, mas isto só aconteceria realmente depois de vencer os ditatoriais anos de chumbo, que levaram os colonos ao endividamento entre a década perdida (1980) e o quinquênio da asfixia (1991-95).
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