Luís de Almeida Mascarenhas, o Marquês de Lavradio (1729–1790), assume o Vice-Reinado do Brasil em 4 de novembro de 1769, substituindo o tio Rolim de Moura, que governava desde 1767. Lavradio fez um governo concentrado nas obras militares para a defesa do Rio de Janeiro e por priorizar a remessa de tropas e armamentos ao Sul.
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Durante seu período, Portugal recuperou o Rio Grande, sofreu a ocupação temporária da Ilha de Santa Catarina pelos espanhóis e começou a perder para eles a Colônia do Sacramento. O mapa do Brasil continuava inacabado.
Coube ao vice-rei Mascarenhas uma providência que no futuro viria também beneficiar o Paraná: ele deu atenção ao incremento da agricultura, levando para o Rio de Janeiro o cafeeiro, até então cultivado só no Norte, trazido da Guiana Francesa via contrabando.
Os cafezais em seguida iriam se alastrar para o interior de São Paulo até fazer a fértil terra roxa dar fim à incômoda percepção do Paraná como simples região de passagem para as tropas de gado, bandeirantes caçadores de índios e aventureiros em busca de ouro e diamantes.
Prioridade militar
A década de 1770 poderia ter assinalado a arrancada definitiva para a ocupação do atual Paraná. Isso não aconteceu por um fator político: a prioridade dada pelo reino luso ao controle fluvial do Prata.
Antes dessa definição, porém, houve uma disputa entre o vice-rei, Marquês de Lavradio, e o governador da Capitania de São Paulo, Luís Mourão, o Morgado de Mateus.
Mourão queria povoar o interior do Paraná. O vice-rei preferia fortalecer a Capitania de São Pedro (RS) para não ser engolida pela Espanha depois da ruína do Tratado de Madri.
Abria-se o equivalente a uma guerra pela destinação de recursos entre os atuais Paraná e Rio Grande do Sul.
Lavradio criticava Mourão por investir na ocupação militar como base para povoar o interior do futuro Paraná. Para o vice-rei, o Morgado desviava para a região governada por seu parente, Afonso Botelho, os recursos financeiros e humanos que julgava necessários à defesa do Sul.
De qualquer forma, o embate entre os dois projetos resultou em avanços para a força militar terrestre no Brasil.
Sucessão de expedições
O desbravamento do Terceiro Planalto e a resistência à Espanha foram as duas grandes tarefas militares da época. A primeira, ocupar o Oeste, esbarrou na resistência indígena, mas defendeu as posições lusas no Mato Grosso. A segunda, rechaçar as forças espanholas que ocuparam o Rio Grande, esbarrou na perda de Sacramento.
O desbravamento estimulado por Mourão começa em 20 de junho de 1769, quando o comandante Estêvão Ribeiro Bayão, de São José dos Pinhais, acompanhado pelo tenente Francisco Lopes da Silva, parte do Porto de São Bento, no Rio Tibagi, e vai encontrar o Ivaí, que a expedição batizou como “Rio Dom Luís de Mateus”, nome pelo qual o governador Mourão também era conhecido.
Por sua vez, Francisco Nunes Pereira, capitão de Auxiliares (futura polícia) da Vila de Iguape, desce o Rio Paraná em 12 de agosto 1769 com a missão de explorar as correntezas do Rio Piquiri. Trazia 80 soldados.
Tinha como auxiliares dois alferes, um sargento, quatro cabos, um tambor (militar encarregado das sinalizações) e 71 praças: dois curitibanos, dois parnanguaras e os demais de Iguape e Cananeia.
Mais geógrafo que guerreiro
Depois de explorar o Piquiri, Francisco Nunes Pereira subiu novamente o Paraná, alcançou a foz do Tietê e retornou a São Paulo para fazer seu relatório, pontilhado de sinais da antiga presença jesuítica espanhola.
Por sua vez, a expedição de Bruno da Costa Filgueiras partiu do Porto de Nossa Senhora da Conceição do Rio Registro (Iguaçu) em 28 de agosto de 1769. Ele não deixou boa memória na crônica militar, mas sua expedição foi tecnicamente importante, explorando o Iguaçu até a foz do Rio Potinga.
Tinha, segundo Romário Martins, ordens para “explorar os sertões da margem direita do Rio do Registro até a sua barra no Paraná”.
Teria, portanto, que ir além dos saltos que interromperam a trajetória de Domingos de Cascais. “Levava 25 camaradas, entre os quais 18 curitibanos, são-joseanos e paranaguaras*”, relata Martins:
“Entrou Bruno da Costa pelo Iguaçu até ao Potinga em 3 canoas e rompendo pelo sertão à direita daquele rio, como lhe fora recomendado, avistou à esquerda grandes espirais de fumo, supondo-se por isso à vista dos Campos do Aputerebu (Palmas) e assim nas vizinhanças dos castelhanos, pelo que voltou a dar parte”.
*Soldados de Paranaguá.
Preso por ser prudente
O tenente Bruno repetiu Domingos de Cascais ao decidir não ir além dos saltos que barravam a navegação, mas por evitar o confronto com os espanhóis foi acusado de lhe faltar coragem.
Em novembro, a quinta expedição rumo ao Tibagi trouxe mais reforços e embarcou no Iguaçu se dividindo em duas partes.
A primeira seguiu em sete canoas, em 17 de novembro de 1769, sob o comando geral de Antônio da Silveira Peixoto, negociante na Vila de Paranaguá e alferes de Auxiliares. A segunda, no dia 28, em nove canoas, dirigida pelo tenente Manoel Teles Bitencourt.
Silveira Peixoto chegou à barra do Rio Potinga e dali seguiu por terra, encontrando a expedição de Bruno Filgueiras, que regressava.
Peixoto prendeu o tenente, acusando-o de covarde por não cumprir a missão. Ficou com seu pessoal e o remeteu preso a Paranaguá. Não chegou a voltar, morrendo afogado no Iguaçu durante uma tempestade.
Peixoto e a curva do rio
Navegando o Iguaçu até os primeiros saltos que interceptavam a navegação, Silveira Peixoto escolheu uma “paragem apropriada”, onde acampou e estabeleceu a fundação de um porto, que denominou Nossa Senhora da Vitória.
É a origem das atuais cidades de União da Vitória e Porto União. Peixoto deixou no local uma guarnição de vinte camaradas e seguiu viagem por terra até sair da zona dos saltos. Novamente em canoas, navegou o Iguaçu abaixo e nunca mais voltou.
Depois de alcançar as Cataratas do Iguaçu, o grupo se deparou com uma inesperada tropa espanhola. Preso pelos castelhanos e remetido a Buenos Aires, ali Peixoto ficou detido por sete anos. Quando retornou a Paranaguá estava doente e falido.
Há quem suponha a conquista do Oeste como espontânea, mas a cada passo as provas atestam o contrário. Pode-se apagar os heróis e até diminuir seus feitos, mas é impróprio inventar uma espontaneidade que não houve.
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