O começo da década de 1940 foi uma época extremamente difícil para o mundo. Em plena II Guerra Mundial, o Brasil estava asfixiado pela ditadura, havendo intensa perseguição aos filhos de imigrantes, sobretudo, no Sul, aos italianos e alemães.
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Neste último caso, pela suposição de que todo alemão fosse nazista, como atualmente há quem suponha, sem noção da realidade, que todo russo apoie a ocupação da Ucrânia.
O estopim para a perseguição se deu em março de 1941, quando o navio brasileiro Taubaté foi atacado por um avião de guerra nazista no Mediterrâneo, causando comoção nacional.
No remoto interior paranaense, longe do conflito mas já trabalhando para a necessária reconstrução das áreas destruídas, a dedicação aos serviços madeireiros era recompensada por um rápido desenvolvimento.
O estudo das atividades desenvolvidas pelas famílias já constituídas ao chegar à vila de Cascavel na primeira metade dos anos 1940 aponta uma diversidade de iniciativas.
Sendo em geral numerosas, as famílias dividiam seus membros entre atividades rurais (lavoura, criação e tarefas com madeira) e urbanas (comércio e prestação de serviços). Alguns também serviam a órgãos do Estado.
A parteira que teve muitos filhos
Foi a diversidade de trabalhos prestados à comunidade que fez da família Zandoná uma das que participariam de forma decisiva e dinâmica na formação da cidade.
Pedro e Gemma Barbieri Zandoná, a Mamãezinha, travaram contato com Cascavel em 1941, ao cabo de uma penosa viagem que durou 16 dias. Filhos de imigrantes italianos, Pedro e Gemma nasceram em Lagoa Vermelha (RS), onde também constituíram família e depois se transferiram para Concórdia (SC), cidade cujo nome harmonizava Paraná e Santa Catarina para dar fim aos atritos do Contestado.
Gemma teve nove filhos: Laura (Miotto), Adelino, Vivaldino, Osvaldo, Elia (Lopes), Maria (Fávero), Dorivaldo, Donarino e Neli. Ganhou o apelido de Mamãezinha por ser parteira e assim chamar as jovens pioneiras que davam à luz na região.
A maioria dos cascavelenses nascidos nos anos 1940 e 1950 viu a luz pelas mãos de Gemma Zandoná.
A importância do Hotel Gaúcho
A família logo se destacou, estabelecendo-se com loja, serraria e negócios com erva-mate, além de adquirir um terreno junto ao líder da comunidade, Jeca Silvério, para ali abrir o Hotel Gaúcho.
Foi nessa hospedaria que o madeireiro Florêncio Galafassi morou por dois anos, até construir residência na cidade enquanto estruturava a Industrial Madeireira do Paraná (Imapar), da família Festugato.
O Hotel Gaúcho foi também a base da família Zanato para iniciar a cidade de Corbélia e da família do alfaiate Ítelo Webber, que pretendia seguir para a região do Rio Piquiri mas decidiu não prosseguir por conta dos conflitos de terras entre Cafelândia e Nova Aurora.
Ali o futuro vereador, prefeito e deputado estadual Fidelcino Tolentino também teve seu primeiro emprego na cidade, ainda bem jovem, trabalhando com o pai José, que comprou o hotel.
Pedro Zandoná tinha muita influência na comunidade. Seus filhos Vivaldino, Osvaldo e Dorivaldo participaram da fundação e diretorias do Tuiuti Esporte Clube.
Pedro foi um dos líderes da comunidade que convenceu José Neves Formighieri a se candidatar à Prefeitura de Cascavel em 1952.
Como toda família numerosa, sobretudo famílias que participam diretamente de suportaram o pior dos tempos pioneiros.
Os irmãos nervosos
Dorivaldo Zandoná, o Vesgo, tinha 9 anos quando a família veio para Cascavel. Adulto, foi motorista da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, tarefa na qual ganhou a fama de jagunço* perigoso.
Sua péssima fama piorou ao ser preso por se envolver em briga na Churrascaria Maracanã, em 1956. Dela resultou a tragédia conhecida como o “Crime do Espeto”, na qual foi morto o proprietário do estabelecimento, Antônio Cirilo Perboni. Vesgo foi condenado a seis anos de prisão.
O gerente bancário Rubens Nascimento, no livro Histórias Venenosas, conta que sabia da fama de jagunços de Dorivaldo e do irmão Donarino, o Bernardão, mas se surpreendeu no contato pessoal:
“Vesgo não era vesgo, e até bem apessoado, embora ambos se mostrassem um tanto arredios, recatados, sem muitas palavras, mas se mostraram educados e respeitosos, até algo tímidos, como avessos à fama que gozavam”.
A serviço da Fundação, na condição de guardas patrimoniais, Vesgo e Bernardão foram considerados heróis em diversas ocasiões.
Técnica de convencimento
Rubens Nascimento conta que certa vez os irmãos Zandoná foram chamados para apaziguar um posseiro de nome Danton, que impedia os topógrafos do governo de atravessar suas terras para prosseguir com a medição.
O posseiro ameaçou os funcionários do Estado com uma espingarda junto à cerca e eles chamaram o apoio de guardas patrimoniais para dar sequência ao trabalho. Eram os irmãos Zandoná. Nunca se soube exatamente o que eles fizeram nessa diligência, mas os agrimensores relataram que logo ao chegar eles tranquilizaram facilmente o valentão.
Inquiridos sobre como conseguiram a façanha, Vesgo, o mais comunicativo, disse ter dito ao posseiro: “Se você impedir a passagem dos topógrafos ou disparar um só tiro contra os agrimensores vamos te comer vivo”.
A fama de bad boys do sertão, portanto, não era de todo injusta. Para os posseiros, embora os irmãos estivessem a serviço do Estado eram demônios humanos que “matavam só pra ver o tombo”.
*O termo “jagunço” designava qualquer pessoa ostensivamente armada.
Escapou vivo e fez história
A tristeza pelo envolvimento do Brasil na guerra foi amenizada por uma notícia festejada com muita alegria já em abril de 1941: a solução para o grave problema do transporte entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, que atrapalhava o comércio do médio-Oeste com os portos do Rio Paraná e nos dias de chuva atrasava por vários dias a recepção de mercadorias, estacionadas no centro do Estado.
O que havia, até então, era a antiga Estrada Estratégica, que aproveitava os melhores trechos das picadas ervateiras e militares até o divisor de águas em Cascavel, de onde seguia para Foz do Iguaçu.
A Estratégica veio projetar a então vila de Cascavel, pertencente a Foz do Iguaçu e até os anos 1930 apenas um ponto de passagem sem atrativos, como um futuro centro polarizador da região.
As obras da rodovia federal tiveram início em 7 de junho de 1941, tendo por trás da pressa alguém que correu risco de vida por sua passagem no Oeste do Paraná.
O coronel Juarez Távora era um dos soldados revolucionários que ocupou o Oeste do Paraná entre 1924 e 1925 e teria um triste destino se fosse capturado no cerco a Catanduvas. Do preso dois anos depois, mas fugiu da cadeia e continuou a lutar contra o governo.
Com a revolução de 1930, agora vencedor, sua carreira militar avançou, bem como sua influência junto ao Estado Maior do Exército. Sendo conhecedor da importância da região, o parecer de Távora sobre a importância estratégica de uma boa rodovia no interior paranaense prevaleceu.
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