Nascido em Catanduvas, Aírton Pompeu Reis (1932–2007), que seria advogado, líder político oestino e secretário do governo do Paraná, declarou ao pesquisador Sérgio Antônio Thomé (A Primeira Escola Primária em Cascavel) ter estudado em Aparecida dos Portos entre 1940 e 1941, fazendo a segunda e terceira séries na Casa Escolar dessa vila.
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Que “Aparecida dos Portos” é essa, que não figura sequer em antigos mapas? Oficialmente, a vila citada por Reis tinha o nome de Cascavel. Era a sede de um importante distrito de Foz do Iguaçu desde 1938, mas os religiosos insistiam em chamar o lugar de “Aparecida dos Portos”, nome cunhado erroneamente pelo prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, em 1931. Afinal, Cascavel possuía muitas nascentes e riachos, mas nenhum com portos, que estavam no Rio Paraná.
A briga pelo nome da cidade
Para os viajantes, de passagem, o lugar continuou sendo “Encruzilhada dos Gomes” até a criação do Território Federal do Iguaçu, em 1943, quando a ditadura tentou sem sucesso mudar o nome do lugar para “Guairacá” (Alceu e Regina Sperança, Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada).
Antes residentes em Guarapuava, a mãe de Aírton, Alvina Pompeu Reis (1913–2008), era professora e o pai, Horácio Ribeiro dos Reis (1912–1987), prestava serviços aos Correios e Telégrafos.
A família Reis (Preto no Branco, 4/4) se transferiu para a vila porque Horácio foi designado para trabalhar em Cascavel, que era como os Correios consideravam o nome da vila.
Para Aírton, os professores chamavam a localidade como “Aparecida dos Portos” porque o nome oficial, “Cascavel”, não era bem aceito por muitos e principalmente pelos mais religiosos.
“Aírton contou que no cabeçalho do caderno escreviam o nome da comunidade (hoje Cascavel), Aparecida dos Portos” (Sérgio Thomé, A Primeira Escola Primária em Cascavel).
Biografias entrelaçadas
O ano de 1940 foi o auge da ditadura Vargas. Os partidos e entidades da sociedade civil estavam abolidos, os direitos suspensos, o Congresso Nacional fechado, a imprensa e as artes sob censura obrigadas a estabelecer o controle ideológico da população por meio do ufanismo, em vertente brasileira do fascismo europeu.
Para conhecer o país que emergiu da revolução de 1930, o governo chamou um novo recenseamento nacional da população, que passaria a ser decenal. O encarregado de fazer o Censo na região de Cascavel foi Manoel Ludgero Pompeu, pai de Alvina Reis e avô de Aírton.
Manoel, ligado aos getulistas, trouxe os filhos para Cascavel, dentre os quais Amadeu, então com treze anos, que viria a ser um dos fundadores da Acic. Com isso, passou a compartilhar o comando de Cascavel com Jeca Silvério.
Há uma impressionante correlação entre as biografias dos dois, como se fossem personalidades destinadas aos mesmos propósitos. Eram amigos, correligionários e agiam de acordo.
Jeca Silvério nasceu em 21 de março de 1888, em Candói (PR).
Manoel Pompeu, em 26 de março de 1888, em Nonoai (RS).
Silvério foi subprefeito distrital de Cascavel e seu sucessor foi Pompeu.
As famílias dos dois participaram ativamente da afirmação de Cascavel como cidade, associadas às famílias de seus filhos, genros e noras.
Manoel morreu em 24 de dezembro de 1966, na véspera do Natal. Silvério, em 31 de dezembro, na véspera do Ano Novo.
Com vidas paralelas, ao se estabelecer em Cascavel eles foram complementares.
A explosão do Norte
O Censo Demográfico de 1940 registra o Paraná com 1.236.276 habitantes. Em todo o Oeste, havia uma irrisória população de apenas 7.645 habitantes, equivalente a um bairro de qualquer cidade média da região.
Pelo censo de 1940 a vila de Cascavel constava com 404 habitantes, 80% desta população residentes na zona rural.
Enquanto Estado e União se enfrentam na Justiça pelo domínio das terras do Sudoeste, no Norte do Paraná a colonização se acelerava sem obstáculos. Paralelamente à inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná, várias outras empresas menores atuaram na região, nos anos seguintes também em direção ao Oeste, antecipando o boom imobiliário do pós-guerra.
Eram elas Boralli e Held (Alto Paraná), Cobrinco (Santa Cruz do Monte Castelo), Leôncio de Oliveira Cunha (Paraíso do Norte), Armando Chiamulera e sócios (Nova Londrina), Tarquínio Ferreira e outros (Santa Isabel do Ivaí), Spinardi e Sebastião Delfino (Loanda), Gutierrez Beltrão (Tamboara), Organizações Ademar de Barros (Terra Rica), Imobiliária São Paulo-Paraná (Querência do Norte), Sivas Pioli (São Carlos do Paraná), Almeida Prado (Itaúna do Sul e Diamante do Norte).
“As imobiliárias recebiam do Estado áreas de 10 mil alqueires e deveriam abrir estradas e patrimônios e se incumbir da venda dos lotes. Depois desta fase, pagavam uma cota determinada ao Governo do Paraná, que expedia, então, os títulos definitivos de propriedade. (…) a maioria girava em torno de uns 250 hectares” (Ana Yara D. P. Lopes, Pioneiros do Capital – A Colonização do Norte do Paraná).
Posse, venda e roubo de terras
No início da década de 1940 já estavam concentrados na região Norte do Estado 340.449 habitantes, “o que correspondia a nada menos que 27,5 por cento do total do Estado” (Fernando Antonio Sorgi, Desenvolvimento Econômico Regional: Um Estudo do Norte Pioneiro do Paraná).
Essa população responde por uma crescente produção de café no Estado, que em 1940 já é responsável por 7% da safra nacional. Mas o Oeste ainda continuava desafiador.
O Estado não podia agir e a União pouco agia, mas um novo estímulo à procura por terras no interior começou a se apresentar em 14 de fevereiro de 1941, quando as sempre anunciadas mais ainda indefinidas colônias agrícolas federais foram regulamentadas por decreto-lei.
Em meio à multidão de aventureiros que se deslocam ao Paraná há desde colonos com algum dinheiro e posseiros sem eira nem beira até colonizadores desonestos e grileiros.
“A grilagem de terras no Paraná fica clara no Relatório da Interventoria Federal do Paraná ao Presidente da República – relativo ao período de 1932 a 1944, quando relaciona 20 grandes grilos de terra no Paraná, perfazendo uma área total de 2.434.567 alqueires, quase 20% de todo o território do Estado” (Valdir Izidoro da Silveira, Os Comunistas e a Reforma Agrária no Paraná).
Epidemia abalou a ditadura
Sabendo que a maior parte das áreas griladas pertencia a milhares de posseiros cujo pioneirismo de fato desbravou o interior do Paraná, o interventor Manoel Ribas afirmou, frente à gravidade da situação: “Precisamos acabar com esses senhores feudais”.
As viagens dos colonos em busca de terras no remoto sertão sofreu então um forte obstáculo: no primeiro trimestre de 1941, chegando ao auge em março, uma epidemia de malária grassou nas regiões de colonização recente.
O governo acabara de festejar a erradicação do mosquito transmissor no Nordeste quando a realidade superou a propaganda e mostrou sua gravidade no interior paranaense, obrigando à reorganização, já em 2 de abril, do Departamento Nacional de Saúde, do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, incluindo o Serviço Nacional de Malária.
A propaganda ufanista desmoralizada pelos fatos foi uma das causas da crescente rejeição ao regime ditatorial, que ainda se aguentou até a guinada de Vargas para o lado dos Aliados na II Guerra Mundial, quando o anseio por democracia se tornou incontrolável.
Foi a necessidade de vencer a malária, aliás, que empurrou o Brasil para a influência estadunidense e, assim, para o lado que venceria o conflito.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.
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