O padre curitibano Francisco das Chagas Lima, o membro da expedição de conquista ao Oeste encarregado de comandar o esquema de catequese dos índios, logo no primeiro contato com os nativos abriu uma guerra com os soldados.
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Quando os índios abordados pelo padre, em sinal de boa vontade, deixaram suas mulheres no forte Atalaia e se recolheram às aldeias, Chagas Lima proibiu os carentes soldados de aceitar a generosa oferta.
Para o severo padre, o contato íntimo com as nativas, além de desobedecer às ordens régias, afrontava os preceitos da religião. Nem os soldados nem os índios gostaram da decisão do padre, mas os militares nada podiam fazer a não ser obedecer à ordem superior.
Os índios, porém, com seus costumes bem diferentes do que o religioso podia supor, entenderam a proibição do padre como uma afronta e decidiram atacar o forte para expulsar os invasores.
“Negócios da guerra”
A rejeição às mulheres, tomada como ofensa pelos índios, “deu azo a um cerco de seis horas ao fortim, depois do qual os índios derrotados se refugiaram na mata”, segundo o padre Chagas Lima (Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava.
“Os Campos de Guarapuava já tinham sido conquistados, com trezentos homens e peças de artilharia, com muita pólvora e canhões da doce e pacífica sociedade nacional, que destroçavam os inimigos bárbaros e cruéis, armados de flechas, lanças… e porretes” (Almir Antonio de Souza, Brincando nos Campos do Senhor. A Invasão das Terras Indígenas nos Campos de Guarapuava [1809-1820]).
Pelo relato do padre Chagas Lima, a tropa de soldados luso-brasileiros travou por três meses “negócios da guerra contra os selvagens”, vencendo-os ainda no curso de 1810.
Conclusão da primeira estrada
A exploração do território continuou, apesar das “grandes dificuldades, chuvas e frios rigorosos”, enquanto se escolhia um local para a plantação da roça. Oficialmente, o comandante Diogo Pinto comunicava a seus superiores a conclusão da nova estrada e a chegada da Real Expedição aos Campos de Guarapuava:
“No final de 1810, chefiando um agrupamento de cerca de 500 homens, finalmente tomamos definitivamente todo o Guarapuava, este amplo terreno de vital importância para civilizar os índios e dar início ao projeto de uma nova estrada para o Rio Grande. Com os progressos de nosso feito será permitido se fundar grandes arranchamentos ou quartéis com roças para sustentar a guarnição”.
O projeto português de conquista do interior paranaense, porém, vai sofrer um abalo com o início de uma disputa de poder entre a autoridade militar e a autoridade religiosa.
Complô com o cunhado
A divergência entre o comandante português Diogo Pinto e o padre curitibano surgiu já na definição local para o aldeamento de catequese dos índios. Chagas Lima pretendia que eles vivessem em aldeia autônoma, separados da tropa.
Prevaleceu a força: Diogo Pinto impôs a mistura dos índios com os soldados e escravos, considerando que assim seria mais fácil vigiá-los.
O padre começou a manobrar para que o chefe militar fosse logo transferido para outra missão. Com isso, convenientemente, ficaria no comando o tenente Antônio da Rocha Loures. Casado com Joana Maria de Jesus Lima, irmã do padre, Loures era seu cunhado.
Para os portugueses, não se tratava mais de escravizar índios ou vendê-los como escravos, mas sim de conquistar suas terras, começando pelas áreas de campos que podiam imediatamente servir como pastagens para os rebanhos que acompanhavam as expedições.
“Depois de três meses de guerras e batalhas sangrentas, os Kaingang dos Koran-bang-rê foram derrotados pelas tropas comandadas por Diogo Pinto de Azevedo” (Kimiye Tommasino e Ricardo Cid Fernandes, Povos Indígenas do Brasil).
Confissão: trabalho era escravo
Diogo Pinto terminara o ano de 1810 com a satisfação de ver construída a estrada ligando os Campos Gerais aos de Guarapuava, mas reconheceu que a ocupação do interior do Paraná, desde o início, não foi espontânea:
“A abertura da estrada para Guarapuava foi feita pelos moradores, que eram obrigados a trabalhar gratuitamente e tratados com severidade. Eram sacrifícios indispensáveis, pois de outra forma, sem vias de comunicação, a conquista de Guarapuava fracassaria, como a anterior”.
Padre Chagas Lima ia continuar na Atalaia, marco inicial de Guarapuava, mas para o comandante Diogo a posição fincada no interior do Paraná era parte do trabalho de desbravamento do ainda desprezado interior do Rio Grande do Sul, especialmente suas regiões Norte e Noroeste.
Os atritos entre militares e religiosos deixavam sem solução a segunda finalidade da Real Expedição: abrir um novo caminho para as Missões.
Agora, rumo ao Rio Grande
Embora com atraso, e apenas como ação militar, de Atalaia/Guarapuava partiriam no futuro várias missões encarregadas de plantar povoados/fortins no Noroeste do Rio Grande do Sul.
Em apoio ao projeto de alcançar o Norte gaúcho, “os capatazes dos grandes fazendeiros dos Campos Gerais ocuparam os Campos de Guarapuava, cortados pelo Rio Jordão, subafluente do Rio Iguaçu e, em 1840, alcançaram os Campos de Palmas” (Nilo Bernardes, Expansão do povoamento no Estado do Paraná).
Os relatórios enviados aos ministros do Reino pelas autoridades curitibanas e pelo comandante da conquista do Oeste, Diogo Pinto de Azevedo, informavam que a tarefa de ocupar os Campos de Guarapuava havia sido cumprida à risca.
Para fortalecer a conquista do interior e extrair progresso dessa atividade, no entanto, era fundamental enviar mão de obra para trabalhar nas áreas de colonização recente.
O governador paulista, Antônio Franca e Horta, sugeria que fossem despachados para a exploração e povoamento do Oeste “alguns vadios e facinorosos que na sua Comarca perturbam o sossego público, os criminosos e criminosas que sentenciar a degredo”.
Os degredados eram principalmente militares caídos em desgraça por se envolver em atividades ilegais. Ninguém queria vir para o Oeste. Nem os condenados.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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