Um dos mais precisos memorialistas da colonização da Rota Oeste, Arlindo Mosé Cavalca, recordou que os primeiros sócios da Colonizadora Gaúcha, além dele, foram Alberto e Luiz Dalcanale, Benvenuto Verona e Alfredo Paschoal Ruaro, que deu início ao projeto e seguiu adiante em novas frentes.
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Para o grupo, era mais um negócio, sem a intenção real de deixar o conforto do Sul, conquistado por décadas de trabalho dos avós e pais italianos desde a chegada ao Brasil, em fins do século XIX.
Dos primeiros associados à Gaúcha, só Cavalca foi logo morar na região, desviar de cobras e aguentar picadas de mosquitos.
Em 1949 os diretores da Gaúcha foram Benvenuto Verona, que depois também veio se instalar na região, e Luiz Dalcanale Filho, que a exemplo de Ruaro também repartia as atenções com outros projetos de colonização e atividades correlatas.
Em lugar de Luiz Dalcanale entrou Frederico Zilio, cuja família é também uma das mais importantes da história da colonização no Sul do Brasil.
Foi com Bernardo Zílio que Alberto Dalcanale pisou pela primeira vez no solo da Fazenda Britânia, em novembro de 1945. Eles vieram para conhecer e vistoriar a gleba, oferecida pelos proprietários anglo-argentinos, valendo-se do único meio de transporte existente na época: o lombo de burro.
Gleba da Gaúcha tinha muitos donos
Apesar de haver vários sócios e diretores da Colonizadora Gaúcha, o primeiro colono a realmente efetivar moradia na região da futura São Miguel do Iguaçu e deixar raízes na economia e na formação do lugar foi a de Vitório de Toni, que acreditou no lugar ainda sem nada.
Só em 1953 a direção da Colonizadora Gaúcha passou a ser exercida por colonizadores com planos mais estruturados, como Henrique Ghellere, unido ao traquejado Afonso Marin, que em 1946, com sucesso, também começou a formar São Miguel do Oeste (SC).
A Gaúcha resultava da compra de 9.073 alqueires registrados anteriormente em nome de João Emílio Matte.
A maior parte dessas terras pertencia originalmente ao Município de Foz do Iguaçu, mas no decorrer dos anos também teve partes transferidas a outros proprietários, como o Banco da Província do Rio Grande do Sul, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco), a Caixa Econômica Federal e a União Popular de Venâncio Ayres.
Criada pelo padre suíço Theodor Amstad, a UPVA tinha a finalidade de incentivar os descendentes de imigrantes a promover atividades de desenvolvimento econômico, dentre os quais a abertura de novas fronteiras agrícolas, como no Oeste do Paraná.
Cobra sugeriu a necessidade de estrutura
Os mapas projetados no período de 1948 a 1954 pela Colonizadora Gaúcha apresentaram um total de 907 colônias, loteadas e medidas em alqueires por engenheiros como Adolpho Strabel e Hercílio Felippi.
Em pleno trabalho de campo, Felippi foi atacado por uma cobra, morrendo em seguida pela ausência de soro antiofídico e dificuldade para se mover na mata cerrada até buscar socorro médico.
Com eles estiveram os topógrafos João Félix Rolim de Moura, José de Moura Torres, Marciano Batista, Leodato Fernandes e Euclides Felippi, irmão de Hercílio.
João Félix resistiu a todos os obstáculos e perigos encontrados, teve uma vida longa e cheia de realizações junto aos pioneiros, morrendo só em 2021, em Foz do Iguaçu, aos 88 anos.
A sentida perda do engenheiro Felippi em 1948 fez com que nesse mesmo ano o governo do Estado elaborasse um plano para estender postos de saúde pelas regiões de desbravamento para prestar socorro em caso de acidentes como esse.
Em lugar de Felippi, o trabalho de divisão e loteamento das colônias de terras foi concluído pelo engenheiro militar Anísio Paim da Rocha.
Paim, agente da estruturação regional
Não se pode contar a história da região Oeste desde a década de 1940 sem reservar um capítulo à polêmica Estrada do Colono e menos ainda sem lembrar o engenheiro militar Anísio Paim da Rocha, cuja equipe fez a abertura do caminho entre o Rio Iguaçu e Capanema.
Desde essa época o trecho é motivo de intensa polêmica e frequentes batalhas judiciais entre desenvolvimentistas e ambientalistas. Os primeiros ganharam forte apoio popular e político, mas os ecologistas tiveram a seu favor importantes sentenças na Justiça.
Caso em aberto, apesar de receber parecer negativo do Ministério Público do Paraná o projeto deputado federal Vermelho (PSD-PR) pela reabertura está prestes a ser votado no plenário da Câmara.
Anísio Paim da Rocha nasceu em Vila Jary, então Município de São Martinho, hoje Julio de Castilhos (RS) em 8 de setembro de 1901, filho de Luiz Rocha dos Santos e Marfiza Paim dos Santos.
Ele e a esposa Ida Gomide, natural de Passo Fundo (RS), tiveram Cloé Zita (casada com Mário Hofmann), Nizo (casado com Guiomar Belotto), Suely (com Oscar Salazar), Aura Terezinha (com Joé Cechet), Cecy (com Eduardo Ferreira), Idilio (com Nilza Borghezan), Celi (com Clóvis Trevisan), Brasil (com Sueli Peres) e Elisabeth (com Lino Rodrigues).
Trabalhando com Festugato
Nas funções de agrimensor, Anísio Paim fixou-se na região desde 1951, medindo terras na Rota Oeste e na década de 1960 passou a trabalhar em apoio à estruturação do principal ramo da economia regional na época, a serviço da Industrial Madeireira de Cascavel, da família Festugato.
O engenheiro militar também participou da organização do próximo grande salto do desenvolvimento regional: com uma fazenda modelar em Cascavel, Anísio Paim da Rocha foi um dos pioneiros da mecanização agrícola na região e um dos fundadores da Coopavel, em 1970.
Também participou da formação da cidade de Brasnorte (MT) e morreu em 22 de maio de 1988. Foi uma jornada de quatro décadas de atuação em frentes pioneiras.
Por sua vez, instalada na região desde 1948, a Imapar de Renato Festugato veio encerrar de vez o ciclo dos latifúndios anglo-argentinos no Médio-Oeste.
A transferência à família Festugato das propriedades da família Lupion, restos do latifúndio do franco-argentino Domingo Barthe, completou-se em 1˚ de agosto de 1948, com a instalação em Foz do Iguaçu da Industrial Madeireira do Paraná, que viria a ser um dos motores da economia da fronteira e o principal elemento de apoio ao desenvolvimento de Cascavel na década de 1950.
A Imapar, com sede em Caxias do Sul, incorporava assim o patrimônio da antiga Companhia Domingo Barthe, reserva florestal que abastecia as duas serrarias de Moysés Lupion em Cascavel, embora o negócio só viesse a se completar em 1967.
Começa um novo ciclo
“O filho do sapateiro* ergue uma taça e anuncia o motivo de reunir a família naquela data: acabara de quitar a última parcela de uma longa transação imobiliária, que consumira as energias de seu grupo empresarial por 18 anos: a aquisição da maior floresta de araucária que já existiu sobre a Terra: 87 mil hectares entre Catanduvas e Santa Tereza do Oeste, incluindo franjas de Guaraniaçu, Corbélia e a joia da coroa, Cascavel” (Pitoco, edição 2.193, 19/4/2019).
As terras adquiridas pela Imapar contavam com cerca de 600 mil pinheiros, além de peroba, cabriúva, canjerana, cedro, marfim e outras espécies.
A Industrial Madeireira começou operando com um capital de Cr$ 26.000,00. Quando decidiu fazer o negócio, Festugato estava em Lages (SC), onde nasceu o filho Sérgio Mauro, em 1939.
Festugato instalou a Imapar em 1º de agosto de 1948 em Foz do Iguaçu e no dia 4 seu associado Florêncio Galafassi já começava a trabalhar em Cascavel, onde estavam as duas serrarias.
Florêncio Galafassi encontrou a vila de Cascavel tão pequena que sequer parecia ser a sede de um distrito, mas com a instalação da Imapar em seu centro tudo mudou.
Começava ali, ao redor da antiga Encruzilhada dos Gomes, a formação de uma nova metrópole.
*Renato Festugato.
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