Paraná é a esperança para trabalhadores que enfrentam desastres econômicos em seus estados e países

Especial Empregabilidade – Uma esperança diante de tragédias diversas, que obriga muitos trabalhadores a deixarem tudo e procurarem um lugar seguro, próspero e acolhedor para reconstruírem suas vidas. Essa é a realidade de milhares de refugiados e migrantes que já preenchem mais de 12 mil vagas de trabalho só na região Oeste do Estado. A informação é da OSC Embaixada Solidária, que acolhe e direciona refugiados e migrantes de mais de 38 países e de todos os estados brasileiros. Os trabalhadores desalojados miram nas vagas geradas no Paraná, através do agronegócio e das cooperativas, que apresentam um superávit de mais de dez mil vagas.

No último mês, a atenção foi voltada para a tragédia registrada no Rio Grande do Sul, provocada pelas fortes chuvas e outros fenômenos no começo de maio. Além do povo gaúcho, centenas de refugiados e migrantes que foram acolhidos para trabalhar nas fábricas do RS foram desabrigados e seus locais de trabalho foram interditados pela enchente. Sem casas para alugar e sem perspectiva de uma renda rápida e segura, a vinda para o Paraná tem sido uma das decisões mais comuns entre eles.

Os primeiros contatos foram feitos horas depois do incidente que vitimou brasileiros e migrantes. A Embaixada Solidária tem articulado a vinda de muitos refugiados para diversas cidades do Paraná. O fator determinante é a ampla oferta de vagas de trabalho e a experiência do Estado do Paraná no acolhimento desse público. A realocação tem sido feita de forma planejada e conjunta, garantindo o acesso à moradia, trabalho, educação, saúde e integração social com a comunidade local.

A Globalização do Trabalho 

Neste contexto, o recém-lançado projeto da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) chega em boa hora e será imprescindível para humanizar e colaborar de forma efetiva com o momento. Hugo Molina, superintendente do Sesi Paraná, destaca que desde 2021 o Programa Indústria Acolhedora busca agir em conjunto com seus parceiros para promover a empregabilidade da população de refugiados, migrantes e apátridas. “Nossa missão é preparar as empresas e aqueles que buscam uma oportunidade de trabalho. A globalização é um caminho sem volta. Pesquisas apontam que os ambientes diversos são mais prósperos. Diante desse cenário, ofertar amparo, acolhimento e oportunidades é o que de mais importante podemos promover para que a jornada pelo mundo seja mais justa e digna para todas as pessoas”, completa Hugo, que é colombiano e tem feito uma importante contribuição para a pauta migratória. 

De acordo com os dados da Câmara Técnica de Empregabilidade do Programa Oeste em Desenvolvimento, só na Região Oeste do Estado do Paraná, mais de 12 mil vagas seguem abertas na indústria, e esse número pode aumentar com os novos investimentos realizados pelas empresas mais importantes. O estudo é recente e também buscou traçar o perfil dos trabalhadores da região, revelando a ampla e decisiva participação dos migrantes neste processo.

Cooperativismo será decisivo para a empregabilidade das vítimas

Desalojados e sem trabalho, migrantes tentam deixar o cenário da tragédia após reviver traumas causados por desastres naturais e guerras em seus países de origem.

“O impacto do que aconteceu no Rio Grande do Sul atingiu o cooperativismo em todos os sentidos, muito além dos negócios. O cooperativismo é construído de maneira integrada e solidária, isso quer dizer que ao atingir uma região cooperativista, todas as demais sentem todos os impactos, inclusive o emocional, pois o sentimento de fraternidade e união compõem a base de princípios e valores que norteiam toda e qualquer ação”, declarou Elias Zydek, Diretor Presidente Executivo de uma das maiores cooperativas do estado, a Frimesa. 

Assim que a tragédia no Rio Grande do Sul aconteceu, as cooperativas paranaenses se mobilizaram rapidamente e enviaram todo tipo de ajuda possível na fase aguda do episódio, que pode ser o maior desastre natural em território brasileiro. Elias Zydek explica que o auxílio envolve várias fases e ações: “Desde mantimentos e água potável até amortização e renegociação com os fornecedores. Não mediremos esforços para que o Rio Grande do Sul se recupere e sabemos que isso vai exigir um esforço muito grande de todos. Quem vive no espirito cooperativista conhece o caminho e mesmo diante de um desafio jamais vivenciado antes, precisamos reagir e somar forças”, declarou em solidariedade ao povo gaúcho. 

O diretor também falou sobre os trabalhadores que estão chegando ao Oeste do Estado do Paraná em busca de segurança e trabalho. Elias Zydek lembrou que, de imediato, cerca de duas mil vagas operacionais estão abertas. “Nossa ajuda precisa ser efetiva na reconstrução do Rio Grande do Sul, mas também precisa acolher aqueles que não conseguirem reconstruir suas vidas nas regiões mais afetadas. O tempo acompanhado de muito trabalho será o balizador deste processo. Muitas pessoas não podem esperar por isso em abrigos”, destacou. 

É com essa oportunidade que centenas de trabalhadores migrantes e refugiados contam para recomeçar suas vidas. O advogado haitiano Pierre Erik Bruny relata que, para quem vem de outros países, como o Haiti, não será a primeira vez que terão que lutar para sobreviver e reconstruir. “Os nativos estão vão ficar e precisam reconstruir, mas o migrante vai em busca de trabalho em outras regiões, pois ele tem o trauma de já ter vivido isso tudo em outros desastres. O Paraná é uma esperança para quem precisa superar mais essa tragédia. Não temos palavras para agradecer”, disse o advogado, emocionado ao lembrar que o Rio Grande do Sul é um dos estados que mais recebe migrantes para o trabalho.

Uma empresa que acolhe o mundo e compartilha sua experiência reconhecida por órgãos internacionais

Mudanças simples possibilitaram que a empresa se adaptasse aos novos trabalhadores, trazendo crescimento, dedicação e a vontade de recomeçar suas vidas longe de casa.

Therody Estimable, Mohammed Abdullah Hussain, Milagros Andreína. Esses são apenas alguns nomes que compõem o corpo laboral de uma indústria de fiação que tem chamado a atenção pela maneira harmônica e produtiva de lidar com uma rotina cheia de diversidade, com pessoas de vários países do mundo. Os nomes com pronúncia diferente não foram as únicas mudanças. A Fiasul passou por uma transformação nos últimos anos e já emprega pessoas de mais de 15 países. Até na cozinha da empresa, o aroma e os ingredientes já mudaram. O motivo? Respeitar os mais diferentes paladares e costumes. Um gesto de carinho com quem veio de longe para contribuir com um grande propósito.

O esforço deu tão certo que a empresa tem sido modelo de boas práticas em outras regiões. Recentemente, o Ministério do Trabalho e agências ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceram o esforço e a trajetória da fiação, que também é uma das mais tecnológicas do país. Brasileiros dos mais diversos estados compõem o quadro laboral da Fiasul.

Karen Regina Brinker é a Gerente de Gestão de Pessoas que viu a mudança nascer e agora se orgulha de constituir a equipe que multiplica a experiência com outras empresas e regiões. “Eu não emprego nacionalidades, nem pessoas jovens e maduras, empregamos pessoas e isso envolve olhar com justiça, fraternidade e esperança. É uma troca muito linda, pois cada trabalhador, assim como eu, traz o seu melhor e leva para si o nosso melhor também. Isso equilibra nossa relação, estabelece uma relação de confiança e respeito por parte de todos, inclusive dos líderes. Todos Pertencem e fazemos absoluta questão que saibam disso em todos os momentos”, acrescenta. 

Therody Estimable, Mohammed Abdullah Hussain, Milagros Andreína e centenas de outros migrantes colorem a empresa com sua cultura e criam um ambiente rico em criatividade e experiências de vida junto aos brasileiros, que também são tantos e tão distintos entre si.

MODELO REPLICADO COM SUCESSO!

Primeiros migrantes venezuelanos chegam em Ampére para solucionar a ausência de mão de obra na indústria local.

O movimento teve auxílio do Programa Oeste em Desenvolvimento e da Operação Acolhida, além do apoio dos empresários locais e do envolvimento da sociedade organizada.

A pujança da indústria local e a ausência de trabalhadores para ocupar as vagas nas mais diferentes frentes de trabalho levaram a cidade de Ampére a buscar saídas para manter seu crescimento e desenvolvimento. Incentivar a vida de um grupo de migrantes foi o caminho encontrado pelo grupo após um intenso planejamento e a articulação de uma rede de apoio e atendimento. Os primeiros venezuelanos chegaram na última semana e foram recebidos com alegria pela comunidade local. A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) é parceira da iniciativa através do Programa Indústria Acolhedora.

Um grupo de empresários visitou o Oeste do Estado e conheceu a experiência bem-sucedida da contratação de mão-de-obra de pessoas vindas de outras regiões. O contato gerou uma intensa troca de experiências. A Operação Acolhida, desenvolvida pelo Exército Brasileiro e outras forças de paz, auxiliou nas tratativas e na locomoção dos trabalhadores. A base da operação fica em Boa Vista e Pacaraima, na divisa com a Venezuela, país que amarga uma das piores crises de sua história, levando seus cidadãos a um processo de migração forçada em busca de subsistência.

O presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento e CEO da Fiasul, Rainer Zielasko, esteve pessoalmente em Ampere com sua equipe e realizou a sensibilização dos empresários e gestores da cidade. “A falta de mão-de-obra é algo que apenas uma Região que já venceu enfrenta. O desafio agora é solucionar esse problema de forma ordenada, planejada e ofertando oportunidades para quem precisar. Estamos dispostos a compartilhar nossa experiência com todos aqueles que entendem que nossas empresas podem ser decisivas nestes momentos para a sociedade e em especial para ofertar oportunidades para aqueles que precisam deixar seus Estados e Países em busca de trabalho e segurança”, destacou o presidente, que conta com um motivo muito especial para se preocupar com a causa migratória. Zielasko é filho de um migrante alemão que precisou deixar seu país na pior crise que a Alemanha viveu, pós-guerra e durante uma intensa miséria.

O grupo que chegou em Ampere foi acolhido em um abrigo organizado e planejado pelos empresários locais, poder público e sociedade civil. Uma demonstração de solidariedade e apoio da comunidade local. Em alguns dias, eles estarão nas fábricas e logo em casas individuais com suas famílias. 

SUPERAÇÃO E ESPERANÇA

“Em alguns segundos você perde tudo e não sabe o que fazer. Não tem comida, nem água, algumas pessoas desaparecidas ou mortas e você se pergunta se será o próximo. Eu queria dar um abraço em cada brasileiro que está passando por esse momento e dizer que nós vamos superar.” A frase é da migrante haitiana Iscardely Nicolas, que migrou após o terremoto que atingiu seu país e agora trabalha na Região Oeste.

Quando viu a tragédia, Iscardely conta que lembrou do desastre em seu país. “Eu nunca pensei em ver isso no Brasil. Eu vi as notícias chorando, pois sabia que depois que a água baixasse, nada mais seria igual, pois tudo fica destruído. É uma dor que nunca passa, mas precisamos reagir e enfrentar os problemas que ficam”, destacou a jovem, que tem muitos amigos haitianos no Rio Grande do Sul. 

“Eu queria acolher todos eles na minha casa, mas fico feliz em saber que alguns conseguiram sair e já estão recomeçando suas vidas. Muitos deles vão ajudar a reconstruir o Rio Grande do Sul, pois sempre fomos recebidos com carinho por eles. Eu desejo que Deus e as pessoas ajudem os brasileiros e que juntos possamos superar essa coisa difícil que aconteceu aqui”, desabafa. 

Iscardely vive em Toledo, e a comunidade haitiana realizou na última semana um evento alusivo à Bandeira e à Independência do Haiti. No evento, o primeiro ato foi uma homenagem ao Rio Grande do Sul, que contou com um minuto de silêncio em solidariedade à comunidade gaúcha e a todos aqueles que vivem na região afetada.

 

Fonte: Edna Nunes da Silva

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