Os imigrantes chegavam ao país em crescente número no fim do século XIX. O sucesso da atração de braços estrangeiros se devia à Superintendência do Serviço de Imigração na Europa, instalada em Paris sob a direção do cônsul-geral José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845−1912), o Barão do Rio Branco.
A formação das novas colônias no vale do Iguaçu constituía fator de ânimo, apesar da tragédia causada pelas enchentes, mas a situação nacional também era desfavorável: todo o País mergulhava em crise financeira, que sequer era a primeira desde a instauração da República, em 1889.
Sofrendo pressões dos republicanos progressistas, o marechal Deodoro da Fonseca não tem mais condições de se sustentar no poder. É forçado a renunciar em 23 de novembro de 1891, em plena crise econômica e institucional, quando assume o marechal Floriano Peixoto, seu vice – e adversário.
Lendas e verdades
Nesse início da década final do século XIX, contavam-se lendas fantasiosas e verdades inacreditáveis sobre essa região já parcialmente explorada por estrangeiros mas desconhecida pelas autoridades brasileiras.
Verdades incríveis como a extrema fertilidade do solo, que depois os técnicos comprovariam ser similar à da Mesopotâmia, o vale bíblico dos rios Tigre e Eufrates. E lendas fantasiosas sobre fortunas em ouro em pó que os jesuítas teriam deixado ocultas quando foram expulsos pelos bandeirantes.
Logo depois da Guerra do Paraguai, um empreendedor ainda mais de olho na hipotética fortuna dos jesuítas que nas riquezas reais organizou expedições e saiu farejando o tesouro que os padres e os índios teriam deixado para trás.
É Norberto Mendes Cordeiro, que se intitulava “comendador amansador de índios”, um fazendeiro de Guarapuava a quem o Cacique Bandeira, esperto e manipulador, comunicara a localização de um certo Campo do Abarrancamento ou Campinas Vitorianas, onde a riqueza estaria à sua espera.
Da ilusão à conquista
A sugestão interessou ao ambicioso “Comendador Marcondes”, como Norberto era conhecido, que com mais quatorze companheiros guarapuavanos saiu em expedição para tomar posse dos campos anunciados como sítios de maravilhosas riquezas.
Foi assim, em 1893, que esses fazendeiros de Guarapuava registram no Juízo Distrital de Colônia Tereza a posse de 60 mil hectares do Imóvel Mourão, para criação de gado. A área foi denominada “Campos de Criar”.
A declaração de posse, que servia como registro de propriedade, relacionou trinta nomes de pecuaristas guarapuavanos donos dessa vasta área em comum. Ela estava na região que o futuro conheceria como Campo Mourão.
A partir daí passam a ser legitimadas as futuras posses e registros oficiais de terras no remoto interior do Paraná.
Choque de realidade
A ideia de um Eldorado araucariano, seja pelo suposto ouro, seja pelas terras promissoras, animava muitos espíritos ambiciosos. Mas chegar ao Rio Paraná era extremamente penoso.
“No sertão e nas restingas, a largura da picada é de 20 metros, mas pela extrema uberdade do solo, o mato limita o caminho a um pequeno trilho, zombando em seu rápido e precoce desenvolvimento, das foices e machados das turmas de conservação” (José Muricy, A Foz do Iguassú — Ligeira Discripção de uma Viagem Feita de Guarapuava à Colônia da Foz do Iguassú em Novembro de 1892).
Quem finalmente conseguia chegar à região encontraria raros brasileiros, mas muitos estrangeiros que haviam descoberto o verdadeiro “ouro” daquela época: o contrabando de erva-mate e madeira para a Argentina.
Um estrangeiro, por exemplo, como o francês Raymond Robert de Blasset. Ao pedir às autoridades da Colônia Militar do Iguaçu uma concessão de terras “para criação e cultura”, Blasset declarava ser morador do local desde 1887 (Cecília Maria Westphalen, História documental do Paraná: primórdios da colonização moderna na região de Itaipu).
Blasset empregava mais de cem pessoas. Não era um simples colono, mas um empreendedor fincado no remoto interior, ignorado pelas autoridades paranaenses e até então a salvo dos impostos oficiais.
Leis corretivas
Relatos como o de Blasset causavam surpresa entre os militares, que se consideravam os “desbravadores” da região. Por conta dessa ocupação desconhecida das terras do interior, o governo do Paraná edita em dezembro de 1892 a Lei 68 – o primeiro regulamento regional de terras.
Com a Constituição de 1891, as terras devolutas haviam passado ao domínio dos Estados, mas a Lei 68 ainda seguia os princípios da lei agrária imperial, de 1850, “notadamente quanto ao conceito, apuração física e destinação das terras devolutas” (Antenor Bonfim e Francisco Pereira Muniz, Comentário à Lei de Terras do Paraná).
Nesse mesmo sentido, a Lei n° 1 do Paraná já havia criado, em abril de 1892, a Secretaria de Estado de Obras Públicas e Colonização do Paraná, um reforço importante na documentação das terras ocupadas.
A autonomia concedida à Colônia Militar ocorreu em outubro de 1892. Agora a Comissão Estratégica passará a se encarregar exclusivamente dos trabalhos de conservação da “estrada estratégica” Guarapuava−Foz do Iguaçu.
Entre rodovias ou ferrovias
Nesse momento, a prioridade era impor o controle oficial por um fio transbrasiliano, ou seja, cortar o Brasil de Leste a Oeste no eixo paranaense por essa rodovia “estratégica”.
Na prática, era o arquivamento dos vários projetos ferroviários do Império. Mas no sentido Norte−Sul a integração pretendida estava mantida: ela seria ferroviária.
As terras do interior paranaense foram classificadas em geral como de “terceira ordem” pelo governo estadual, o que correspondia a um preço mais baixo.
Não era uma depreciação negativa sobre a fertilidade da terra: a baixa classificação alcançava sobretudo as áreas localizadas em matas fechadíssimas, sem estradas de acesso.
“As terras devolutas do Estado do Paraná estavam classificadas em três categorias − de primeira, segunda e terceira ordens − conforme sua situação relativa a centros urbanos e portos marítimos, fertilidade e fins a que se destinavam” (Pedro Calil Padis, O Paraná: uma Visão de Conjunto).
Um valor, na verdade, estipulado pela distância dos centros abastecedores e a disponibilidade de meios para o transporte dos produtos. Valor que só mudaria quando mais rodovias e novas ferrovias rasgassem o Paraná.
Brasileiros contra brasileiros
Mas um novo fator veio retardar a ocupação do interior do Paraná: a Revolução Federalista consumiu recursos e ocupou homens que poderiam cobrir o interior da infraestrutura mínima para o aproveitamento da região.
Enquanto os combates aconteciam, em 1º de março de 1894 o paulista Prudente de Morais (1841−1902) vence a primeira eleição direta para presidente, pondo fim à tumultuada República dos Marechais.
Finda a Revolução Federalista, em 1895, começam a transitar pela Estrada Estratégica, ainda muito precária, colonos do Rio Grande do Sul, de Guarapuava e de Ponta Grossa tendo como destino a Colônia Militar do Iguaçu, onde havia a distribuição de propriedades em troca de serviços prestados.
Os argentinos ainda eram a maioria dos negociantes do lugar e também trataram de obter a posse de terrenos coloniais. Essa primeira população iguaçuense dedicou-se à pequena agricultura e à suinocultura, principalmente os caboclos, naturais do Paraná, que chamavam os imigrantes gaúchos de gringos.
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