Pitt, o inglês que planejou o Brasil

O Paraná antes da conquista do Oeste era a parte Sul de São Paulo

Com a influência inglesa sobre Portugal crescendo no período das Guerras Napoleônicas, o chanceler britânico William Pitt II (1759–1806) propunha construir um “império” para acolher colonos de todo o mundo para povoar o “país das amazonas”, os “confins do Paraguai” e as “vizinhanças do lago Xaraés” (Araguaia-Tocantins).

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Só estavam proibidos os revolucionários franceses. William Pitt, alcunhado “o Jovem” por ter o mesmo nome do pai, era uma personalidade singular. Simpatizante da Revolução Francesa, como chefe no governo inglês lhe coube combater os revolucionários. 

Foi ele quem sugeriu o primeiro projeto de grande nação para o Brasil anglo-lusitano: aproveitar a navegabilidade dos rios, fundar uma “Brasília” (à qual sugeriu o nome de “Nova Lisboa”), onde passariam a viver o rei português e sua Corte, ramificando “estradas reais” ao Pará, Rio de Janeiro, Olinda, Salvador e portos do Pacífico.

Declaração de guerra 

Dando sequência a esse projeto, os ingleses escoltaram o príncipe João de Bragança e a família real ao Brasil e de imediato foi providenciada a expedição de conquista ao interior do Paraná, que daqui estenderia seus caminhos à região missioneira do atual Rio Grande do Sul.

A ordem veio com a Carta Régia de 1° de abril de 1809, determinando uma nova expedição “ao descobrimento dos Campos de Guarapuava, a catequese, e declaração de guerra àqueles índios Botocudos”. 

Os índios do Paraná compunham na verdade uma ampla diversidade étnica, sem relação específica com os Botocudos, designação que para Portugal, nessa época, definia a totalidade dos índios de sua colônia sul-americana. Depois prevaleceria o termo “bugres”, que designava os índios sem catequese.

“Entre os diversos agrupamentos indígenas existia rivalidade e desacordo de ideias, mas também momentos em que os líderes se entendiam. Entre esses índios relatados nos chamados sertões estavam Camés, Votorões, Dorins e Xocrens – todos do tronco Jê” (Afonso d’Escragnolle Taunay, Os índios Kaingang). 

Imigrante de preferência militar

Para ocupar as terras dos índios e suprir a redução da mão de obra negra, consequência imediata da proibição do tráfico escravista, os ingleses propunham trazer europeus. 

Ocupar os espaços despovoados do interior do Brasil utilizando a mão de obra dos europeus empobrecidos pelas guerras foi a estratégia sugerida a Portugal por William Pitt em 1809, proposta que está na base da substituição da mão de obra escrava. 

A preferência por famílias de militares europeus se encaixava na meta de combater os índios. Além disso, as autoridades portuguesas pretendiam aproveitar o trabalho dos vagabundos – ou seja, recrutar quem não quisesse trabalhar segundo as normas capitalistas com a promessa de encontrar riquezas no interior. 

A preparação da mão de obra e a composição dos quadros militares, nesse caso, seria providenciada acionando os meios legais para direcionar a repressão ao crime e ao ócio como fonte de recrutamento para o trabalho forçado e ao adestramento militar. 

Criminosos e estrangeiros

Ao reprimir a vadiagem, a polícia estaria recrutando os desocupados para o trabalho semiescravo ou para as frentes militares de luta, abertas para a expansão do império ao Sul, Norte e Oeste.

Além de pôr a polícia para recolher vadios e pô-los a serviço na lavoura ou frentes de batalha, o chefe policial Paulo Fernandes Viana (1757–1821) executou um programa de atração de famílias açorianas para trabalhar nas áreas tomadas aos índios em atividades agropecuárias.

A polícia pagava as passagens e custos de transferência de jovens casais açorianos para o Brasil, fornecendo-lhes habitações, terrenos, ferramentas, carros e bois ou cavalgaduras. Benefícios, facilidades e instrumentos negados aos “vadios” – índios, negros e mestiços.

Essas táticas de ocupação do interior seriam os “justos motivos que fazem suspender os efeitos de humanidade”, afirmava o príncipe João, autorizando “a guerra contra esses bárbaros índios”, para favorecer a distribuição de sesmarias aos brancos obedientes ao Reino.

“Matam cruelmente”

Idealizada pelo coronel engenheiro português João da Costa Ferreira e pelo inspetor de índios paulista José Arouche de Toledo Rendon, a Real Expedição de Conquista dos “sertões” do Paraná foi desenhada passo a passo para ser executada como operação militar e religiosa.

Ferreira e Arouche elaboraram minuciosamente todo o procedimento que a expedição deveria seguir para tomar a posse definitiva da região e iniciar o aldeamento e catequese dos índios. 

Seria uma força especial: além de militares traquejados no comando e de um experiente catequista, levaria escravos para trabalhar na construção de estradas, roças, capelas, instalações civis e militares.

“Tendo presente o quase total abandono em que se acham os campos gerais de Curitiba e os de Guarapuava, assim como todos os terrenos que deságuam no Paraná (…) infestados pelos índios denominados bugres, que matam cruelmente todos os fazendeiros e proprietários que nos mesmos países têm procurado tomar sesmarias e cultivá-las em benefício do Estado; de tal maneira que […] maior parte das fazendas […] se vão despovoando”, rezava a Carta Régia de 1808 – Sobre os índios Botocudos, cultura e povoação dos Campos Gerais de Curitiba e Guarapuava.

A Vereda das Missões

Uma nova carta régia, em 19 de abril de 1809, determinava a abertura de uma via diretamente do interior do atual Paraná até as Missões. Será a origem de várias povoações ao Norte, Noroeste e Oeste do atual Rio Grande do Sul.

A operação seria iniciada com o envio do alferes Atanagildo Pinto Martins (1772–1851). Nascido em Castro e servindo na Cavalaria Miliciana de Curitiba, caberia a ele abrir a “vereda das Missões”, no período entre 1814 e 1819. 

Antes de enviar Martins rumo ao Sul, porém, o comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal precisava completar a tarefa de estabelecer uma posição fortificada em Guarapuava. 

Com as instruções detalhadas que recebeu em São Paulo, Diogo seguiu para Santos, ali chegando em 3 de junho de 1809, onde iniciou o rápido preparativo da “tropa de linha”, que levaria parte do material necessário – o restante seria providenciado em Curitiba. A conquista definitiva do Oeste iria começar.

CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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