Português “descobriu” a região, mas a Espanha levou

O Paraná repartido entre Espanha e Portugal, segundo o Tratado de Tordesilhas. No destaque, Aleixo Garcia

 A origem do Oeste paranaense está no Tratado de Tordesilhas, assinado em 2 de julho de 1494 pelo rei português João II (1455–1495) e os soberanos espanhóis Fernando II de Aragão (1452–1516) e Isabel I de Castela (1451–1504), chefes das grandes potências do mundo no final do século XV.

Cristóvão Colombo, um ano e meio antes, reclamou a posse do Novo Mundo (a América) para a rainha castelhana Isabel, a Católica. Portugal contestou e abriu negociações para definir os limites territoriais entre as duas potencias marítimas da época. 

Portugal e Espanha dividiam o mundo, assim, por uma linha imaginária a partir de 370 léguas das Ilhas de Cabo Verde. As terras a Leste dessa linha pertenceriam a Portugal. A Oeste, ao Reino de Castela (Espanha).

“A linha imaginária cortava o território brasileiro, especificamente, passando próximo às atuais cidades de Belém, capital do Estado do Pará, e Laguna, no Estado de Santa Catarina. Desta forma, o Brasil estaria dividido entre os dois reinos. Assim, do que é hoje o Estado do Paraná, somente parte do Litoral pertencia a Portugal. A partir do primeiro planalto, o território pertencia à Espanha” (Saul Goboni, O Discurso de Resistência e Revide).

Quase todo espanhol

Tratado assinado, mas nada resolvido, porque cada reino se baseava nos próprios mapas, feitos ao gosto do rei que os encomendava. Para a Espanha, a linha imaginária acertada pelos reis ibéricos passava por Iguape, no litoral paulista, e não por Laguna, na atual Santa Catarina, como queriam os lusitanos.

Apenas uma estreita faixa do litoral do Paraná de hoje era território português. Como todas as terras descobertas ou a descobrir a Oeste do meridiano definido pelos termos de Tordesilhas seriam de domínio espanhol, quase todo Paraná era espanhol. 

Nenhum espanhol ou português havia pisado na região, onde viviam “as populações Itararé/Casa de Pedra e Tupiguarani, relacionadas a antepassados do grupo linguístico Gê, de horticultores e ceramistas, são representadas por cerâmica utilitária de pequenas proporções, e surgem no Paraná há 2 mil anos. São grupos que habitaram o litoral atlântico e as florestas subtropicais de pinheiros, utilizando abrigos sob rochas, cavernas e casas subterrâneas. Seus vestígios são encontrados nos sítios históricos do vale do Iguaçu, nas reduções jesuíticas do século XVII, em aldeias descritas por viajantes dos séculos XVIII e XIX, e nas colônias militares do Chopim e Foz do Iguaçu” (Nivaldo Kruger, Paraná Central: A Primeira República das Américas).

Diversos pesquisadores, entre eles o arqueólogo Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, verificaram que curiosamente o Caminho do Peabiru “entrelaçava-se” com as estradas construídas pelos Incas. Além disso, as evidências sobre os contatos entre tribos brasileiras e os índios peruanos levaram à conclusão de que efetivamente havia um caminho terrestre fácil e conhecido.

Burguesia, a nova classe

Parte da palavra Peabiru por si só significa estrada ou caminho, mas não se sabe com certeza a exata definição – “caminho forrado”, “por aqui passa o caminho antigo de ida e de volta”, “caminho pisado”, “caminho sem ervas”, “caminho que leva ao céu”.

O Peabiru “passava em Castro e seguia pelas cabeceiras dos rios Ivaí e Cantu. Chegava ao médio Piquiri, indo pela margem esquerda deste até cruzar o Rio Paraná, acima de Guaíra” (Rosana Bond, revista A Nova Democracia, nº 10).

O início dessa história é tão confuso que a primeira expedição ao Oeste paranaense foi chefiada por um português, o navegador Aleixo Garcia de Lisboa, mas Portugal não a reconhecia como fato, porque Aleixo estava a serviço de interesses espanhóis.

Se o Tratado de Tordesilhas, de 1494, pode ser considerado uma “escritura” de propriedade do Oeste paranaense para o reino espanhol, o “cartório” em que se registrou a divisão do mundo entre Portugal e Espanha foi a Santa Sé da Igreja Católica.

O episódio fez parte da afirmação da burguesia europeia. O papa favorecia o feudalismo ao fortalecer os reis católicos da Espanha e de Portugal, mas a ascensão da burguesia levou à Reforma Protestante de 1517.

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