Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público para preservar, através da aplicação da lei, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de Marechal Cândido Rondon quer tomar o caminho inverso e aplicar o tombamento na aplicação literal do verbo “tombar”, ou seja, derrubar, deitar ao chão.
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A matéria foi apresentada pelo jovem vereador João Eduardo dos Santos, o Juca (MDB). Ele propõe a revogação de uma lei de 1985, que declarou o prédio da primeira Prefeitura como patrimônio histórico rondonense. Defende que o prédio, construído há quase 70 anos, seja retirado do local para que o terreno tenha melhor aproveitamento.
Apesar de pisar no pescoço do nosso escasso patrimônio histórico, talvez a apresentação do projeto tenha seu viés positivo. Não pelo objeto do projeto. Mas, sim pela constatação que passados 35 anos desde seu tombamento como patrimônio histórico, o imóvel nunca foi devidamente restaurado e encontra-se em precária situação. Nisso o vereador está coberto de razão e já passou da hora de mudar isso. Mas, não simplesmente retrocedendo. Temos que avançar. E avançar significa preservar este patrimônio, que representa parte da história do município.
Esse prédio, em especial, representa muito para Marechal Cândido Rondon. Ele não foi apenas a primeira Prefeitura por quase 20 anos, foi também o escritório da empresa Maripá, companhia que promoveu a colonização de toda a região.
Qual é a cidade que tem este privilégio? Esse prédio é a materialização da cultura do nosso município, trazendo nas suas características e no estilo a história das pessoas que começaram a construir Marechal Cândido Rondon.

Se hoje o prédio já desperta o interesse e instiga a curiosidade por mais informações nas crianças em idade escolar que, antes da pandemia, seguidamente visitavam o local (mesmo que só externamente), imagine daqui a 50 ou 100 anos. Isso é impagável.
Infelizmente, em geral, a maioria dos patrimônios não é vista com bons olhos pelas autoridades. Por isso, o projeto apresentado pelo vereador não causa estranheza. Está pensando no desenvolvimento do município e não o podemos condenar por isso. Mas, o município já tem tantos terrenos baldios de sua propriedade e sem utilização alguma. Vamos descartar o patrimônio histórico pra criar mais um terreno vazio no centro da cidade?
É claro que não podemos ser contra o progresso, ou esperar que tudo continue para sempre como está. Mas o que não se deve nunca é deixar de lado a preservação do patrimônio histórico, pois ele representa a materialização da nossa história e da identidade cultural coletiva.
São conhecidas as histórias e frequentes os casos de descaso e abandono de prédios que são testemunhas da história local, e que fazem a ligação entre a população e sua identidade cultural. É o caso, por exemplo, da Casa Gasa. Enquanto teve voluntários que dela cuidavam, ela andou. Hoje é um restaurante, cujas alterações feitas modificaram amplamente a estrutura original do prédio.
É também de domínio público que o município pretende desenvolver uma revitalização da Praça Willy Barth, que igualmente está abandonada. Outro projeto é a readequação do antigo Fórum para virar a nova sede da Câmara Municipal. Então por que não ampliar isso aí e incluir uma restauração descente da primeira Prefeitura?
Seria louvável se os vereadores, ao debaterem a matéria, reconhecerem a importância do patrimônio remanescente do nosso município. E, ao invés de encontrar uma solução fácil para o abandono do prédio, encontrem alternativas para sua preservação e posterior aproveitamento pela sociedade, mudando a concepção antiga de que coisa velha não tem importância.
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