1948. Rumo ao Oeste do Paraná, orientada pelo colonizador Alfredo Ruaro, sai da cidade de Farroupilha, na Serra Gaúcha, uma caravana de filhos de imigrantes.
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Estão interessados em aplicar bem o capital acumulado por suas famílias em meio século de trabalho nas colônias sulinas. Vivem em região montanhosa e as propriedades inicialmente obtidas pelas famílias se repartiram em minifúndios por herança passada em duas gerações de proles numerosas.
Puxada por dois táxis, a caravana passa por Erechim, Chapecó, Xanxerê, Laranjeiras do Sul, Mangueirinha e Cascavel, de onde segue com mais dificuldades para Foz do Iguaçu, onde estava concentrada a política regional, na Prefeitura e na Câmara do Município, que na época abrangia toda a região Oeste do Paraná.
Arlindo Mosé Cavalca, Benvenuto Verona, Armando Mangoni, Silvio de Cézaro, Italvino Colussi e outros pioneiros da Rota Oeste faziam parte da caravana.
“Passamos rios em balsas ou pontes em precárias condições”, contou Cavalca, mas até Cascavel a viagem foi normal, mesmo considerando os conhecidos contratempos em estradas de terra, que dependiam do clima e de eventuais trabalhos de conservação por parte dos governos estaduais.
A aventura de fato começou ao partir de Cascavel, contou Arlindo Mosé Cavalca em depoimento ao livro São Miguel do Iguaçu – Estórias e Histórias, de Hélio Pomorski e Neusa Benatti (Projeto Memória de SMI).
As sedutoras Cataratas
Mais lentamente que o previsto, a caravana costeou o Parque Nacional pela Picada do Benjamim, na época a única opção para seguir a Foz do Iguaçu sem amargar o dissabor de empacar velha na estrada militar.
“Não existia estrada que passasse por Matelândia e Medianeira e nem essas localidades existiam ainda. Existia sim uma floresta fechada, o caminho que levava à futura Gaúcha [São Miguel do Iguaçu] era precário, parecia um túnel verde e sombrio”, prossegue Cavalca em sua narrativa.
“Fizemos várias paradas, admirados pela exuberância e planície das terras isentas de pedras. Jamais havíamos visto uma mata tão levantada e com tanta madeira de lei: cedro, louro, cabriúva, ipê, marfim e muitas outras”.
Tudo era maravilha, novidade, atração. “Havia muitos animais: onças, jaguatiricas, tamanduá bandeira, antas, capivaras e uma infinidade animais menores. Nas águas cristalinas, lindos peixes, e não faltavam as temíveis serpentes, cascavel, urutu, jararacuçu e outras. Havia também inúmeras aves, entre as quais jacu, jacutinga, macuco, tucanos, araras e papagaios”.
“Tudo era muito bonito: o canto das aves, a algazarra dos papagaios, mas existiam também insetos minúsculos que infernizavam a vida, entre eles, principalmente os mosquitos borrachudos, que só deixavam de atacar de noite”.
Apesar dos incômodos que no futuro iriam atrapalhar o rápido desenvolvimento do projeto, uma visita às Cataratas do Iguaçu arrematou a sedução lançada por Alfredo Ruaro, que colheu dos viajantes admirados com a beleza e exuberância da flora e da fauna e a fertilidade do solo a concordância a participar da sociedade proposta pelo experiente colonizador.
Neto de colonizador italiano
A volta ao Sul começou seguindo a Curitiba, para um encontro com Alberto e Luiz Dalcanale Filho, sócios de Ruaro na colonizadora Pinho e Terras Ltda, intermediária da venda das terras do antigo projeto de Miguel Matte.
“Nesta ocasião foi documentada a transação de 900 colônias, ou 9.000 alqueires, formando o patrimônio da recém formada Colonizadora Gaúcha Ltda”, contou Arlindo Cavalca.
A viagem ao Oeste, a passagem pela capital paranaense e o encontro com os Dalcanale representaram uma inflexão decisiva na vida de Arlindo Cavalca. Seu pai, Alcides, tinha apenas seis meses de idade quando veio para o Brasil em 1877, trazido da Itália pelo pai, Júlio Cavalca e mãe Melani, no navio Isabella.
Alcides era o primeiro filho de Júlio, que ainda jovem, aos 25 anos, instalou-se nas terras montanhosas de Bento Gonçalves. Lá Alcides cresceu e se casou com Eulália Umiltá, cuja família também veio no Isabella, formando sua própria família, que iria crescer em 5 de fevereiro de 1921 com o nascimento do filho caçula: Arlindo.
Em 1948, na aventura pelo Oeste do Paraná em companhia de Alfredo Ruaro, Arlindo estava com 27 anos e ainda era solteiro. Ele se casou em 1952 com Addy Maria Dall’Oglio, filha de Celeste Dall’Oglio e Irene Berlani.
Dall’Oglio, referência na colonização
Dall’Oglio era um dos sócios da Indústria Agrícola Bento Gonçalves, dirigida por Pedro Soccol e José Callegari, empresa que deu origem a Medianeira.
Celeste Dall’Oglio é também uma referência histórica de Santa Helena. O distrito de Vila Celeste é uma homenagem a ele, pioneiro também no interior daquele Município.
“A maioria dos diretores de outras colonizações liquidaram as vendas das terras ou dividiram entre os acionistas o saldo das mesmas, regressando para a terra natal”, segundo Cavalca.
“Isto não ocorreu comigo, minha esposa Addy e minha família. Fascinados pelos inúmeros trabalhos começados e pela bondade do povo da Gaúcha, vendo o progresso a passos gigantes e a vinda das Irmãs Franciscanas, acreditamos ser aqui o lugar ideal para criar uma família sadia de corpo e espírito”.
Embora os moradores chamassem o lugar de “Gaúcha”, nome da empresa colonizadora derivada da matriz Pinho e Terra, a influência religiosa determinou chamar ao lugar “São Miguel do Iguaçu”.
Vinha de uma antiga lenda que circulava na região, segundo a qual um cavaleiro chamado Miguel enfrentou sozinho um bando de saqueadores que prejudicava os colonos, mas seguiu seu caminho sem esperar agradecimentos.
Herói anônimo, santo público
A atitude generosa do valente Miguel logo foi considerada pela comunidade profundamente católica a ação de um santo. Uma das fazendas do lugar logo recebeu o nome de São Miguel, que passou a ser o padroeiro e por fim o nome da cidade e Município.
A lenda predileta na região, entretanto, era a da existência de tesouros deixados pelos jesuítas. O misterioso salvador Miguel também foi imaginado como o fantasma que vinha indicar tesouros aos pioneiros – os fazendeiros de maior sucesso em seus negócios eram acusados de ter recebido a suposta visita do espectro.
Na trilha da lenda sobre tesouros, o governo do Paraná se cansou dos aventureiros que vinham, esburacavam o solo e seguiam em frente sem participar do processo de colonização.
Foram criminalizadas as incursões que saiam levando relíquias e pedaços das ruínas da Ciudad Real del Guayrá, de onde no século XVII partiram os jesuítas para fundar no Sul os Sete Povos das Missões.
Só entidades voltadas ao resgate arqueológico ou pesquisadores e empresários autorizados a prospectar na região podiam cavar sem ser abordados pela polícia.
Diamantino se dizia chefe indígena
Autorizado primeiramente pelo próprio nome, Antônio Diamantino Néri (ou Nery) pediu licença ao governo federal para pesquisar minérios no Município de Foz do Iguaçu, ainda durante a vigência do território Federal do Iguaçu.
A autorização veio por um decreto presidencial datado de 14 de junho de 1948, depois do fim do TFI, assinado pelo general Eurico Gaspar Dutra.
Néri não recebeu licença para explorar toda a área do vasto Município de Foz do Iguaçu. Poderia buscar minério de cobre apenas em sua propriedade, no lugar denominado Córrego do Barreiro, no distrito de Cascavel.
Mas ele queria mais, e assim em 1952 outro decreto presidencial, desta vez de Getúlio Vargas, autorizava-o a procurar mais que cobre – também vanádio, titânio, ouro “e associados”.
A propriedade de Néri tinha cem hectares e ficava na confluência do Barreiro com o arroio Porvenir. Ali, por décadas, apresentando-se como chefe dos índios, Néri coletava erva-mate.
Depois não se ouviu falar mais nele. Supunha-se que achou o tesouro e partiu incógnito para gozar as riquezas encontradas.
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