O castigo pela ousadia dos farroupilhas, que ainda em novembro de 1839 preparavam um ataque à Ilha do Desterro (Florianópolis), foi um contra-ataque fulminante das forças imperiais.
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Mais de três mil homens por terra e por mar uma frota de 13 navios retomaram Laguna em 15 de novembro, expulsando os rebeldes e pondo fim à República Juliana.
Mas a possibilidade de um avanço consistente dos farroupilhas ao Paraná, na virada para 1840, abriu os olhos do governo imperial para a importância estratégica desta região, seja para conter a rebeldia fortemente organizada no Sul, como para conter o expansionismo argentino.
Desenha-se a marcha para o Oeste
Nomeado em 20 de novembro de 1839 pelo governo paulista para a espinhosa tarefa de dissuadir conflitos na frente de ocupação dos Campos de Palmas, o comandante da força de Municipais Permanentes, capitão-mor Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira, chegou em 20 de abril de 1840, não sem dificuldades, aos Campos de Palmas.
Ali “implanta seu abarracamento dentro de uma região de campo, nos lajeados chamados de Caldeira e Cachoeira, lugar que deveria se estabelecer a povoação” (Joaquim José Pinto Bandeira, Notícia da descoberta do Campo de Palmas).
O interior do Paraná estabelece agora sua nova frente de ocupação – o Sudoeste. A conquista do Oeste se desenha: avançará acompanhando o Rio Iguaçu.
Presentes e militarização indígena
A missão pacificadora de Hermógenes Ferreira em Palmas era dupla: conter os índios e mediar os conflitos de interesses empresariais dos dois grupos rivais de colonos brancos.
Para acalmar de vez os índios a tática adotada foi reprisar a fórmula consagrada de oferecer presentes e estimular os nativos a obedecer para ganhar utensílios e bens dos quais não dispunham na mata.
Ferreira foi além: decidiu conceder postos de chefia militar aos caciques da região para enquadrá-los aos propósitos do projeto paulista de colonização.
Com isso, a região passou a contar com um cacique indígena na plenitude de seu poder sobre a área: Vitorino Condá.
O habilidoso comandante Hermógenes combinava ações militares e entendimentos com os líderes indígenas ao mesmo tempo em que impunha a presença da autoridade militar do Império e do governo paulista na região.
Golpe da Maioridade
Em 23 de julho de 1840, o adolescente Pedro II tem sua maioridade declarada, embora esteja ainda com apenas 14 anos, sete meses e 22 dias.
O Golpe da Maioridade tinha o objetivo de preparar a imediata coroação do imperador e transformar qualquer rebeldia frente ao governo regencial em ato de lesa-majestade.
Nas Eleições do Cacete, como ficou célebre o pleito de 1840, os liberais venceram com violência e artimanhas, o que não impediu os conservadores de reagir para em breve regressar ao controle do Império.
No interior, a tática do comandante Hermógenes funcionou e manteve meses de boa convivência com os índios, mas em maio de 1841 tudo também mudou.
O capitão Domingos Ignácio de Araújo, um dos árbitros das pendengas no interior, indicou outro notório desbravador do interior paranaense – Pedro de Siqueira Côrtes – para assumir o comando da Companhia de Permanentes da Polícia em Palmas, substituindo o capitão Hermógenes Ferreira.
Coroação conservadora
Côrtes, líder de um dos grupos empresariais que disputavam a exploração econômica da região, teria como segundo comandante José Joaquim d’Almeida, furriel da Guarda Nacional.
Os dois tinham interesse na povoação e já estavam acampados no local. Seus nomes foram avalizados pelo comandante superior das Legiões da Guarda Nacional do Sul da Província, coronel João da Silva Machado.
Tão ou mais importante que o grupo no comando, assinalava Machado, era a questão estratégica: o controle do território entre os rios Uruguai e Iguaçu e a fronteira com os “estados espanhóis [Argentina e Paraguai] com quem um dia deveremos estabelecer divisas certas e permanentes, visto que por ali não cruzaram as demarcações no tempo em que, entre as coroas de Portugal e Espanha, se fizeram naquela fronteira”.
Machado mirava o quadro internacional, mas a polarização política nacional trazia tudo para o corpo a corpo interno. Nele, coroação do imperador adolescente Pedro II, em 18 de julho de 1841, fez o pêndulo do poder se inclinar novamente para os conservadores.
O pêndulo paranaense
Os liberais não se conformam com o retrocesso e ameaçam pôr abaixo a nova legislação, se preciso até com o recurso às armas.
O padre Diogo Feijó, um dos mais importantes líderes liberais, dirá: “Não é crime pegar em armas para restaurar a Constituição”.
Diante do acúmulo de tensos acontecimentos, o ano de 1842 seria decisivo para o propósito paranaense de se emancipar de São Paulo.
A partir daí as lideranças do Paraná vão sair de uma posição subalterna e secundária para agir com desenvoltura também na cena principal do Império.
Se eles aderissem à Revolução Farroupilha e à iniciante Revolução Liberal paulista causariam uma nova e perigosa situação para o Império: o risco de perder São Paulo e o Sul talvez para sempre.
Assim, de uma só penada as vilas de Curitiba e Paranaguá sobem à categoria de cidades com a lei provincial nº 5, de 5 de fevereiro de 1842. A agora Cidade de Curitiba possuía nessa época apenas 5.819 habitantes.
Dois dias depois, em 23 de março de 1842, forma-se o Ministério Regressista, encabeçado pelo mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão (1801–1856), futuro Marquês de Paraná.
Fora do poder, liberais se agitam
O cenário nacional muda e a Província de São Paulo, ainda governada por liberais, agita-se.
Carneiro Leão, à frente do Conselho de Estado, governo político do Brasil sob o reinado de Pedro II, recomenda ao imperador dissolver a nova Câmara dos Deputados, eleita com maioria liberal em eleições fraudulentas.
Isso acontece em maio de 1842, acendendo o estopim da Revolução Liberal.
O líder revolucionário, Tobias de Aguiar, não era nenhum estranho aos paranaenses. Tinha relações com os fazendeiros dos Campos Gerais e quando governou São Paulo criou a Prefeitura de Curitiba, depois extinta pelas manobras dos conservadores.
Foi ele quem levantou a necessidade de ocupar os Campos de Palmas para fazer frente aos interesses anglo-argentinos e paraguaios no Oeste e Sudoeste do Paraná de hoje.
Agora Aguiar era um revolucionário. Para onde o Paraná penderia: para os conservadores que voltavam ao poder ou para os liberais de Aguiar e do padre Feijó?
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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