Em janeiro de 1835, um exército de rebeldes toma Belém e assume o governo. É a vitória da Cabanagem, “o mais notável movimento popular no Brasil, o único em que as camadas populares conseguiram ocupar o poder em toda uma Província” (Caio Prado Jr, Evolução Política do Brasil).
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Na Bahia, ainda em janeiro, ocorre uma grande insurreição de escravos que une cativos de diversas procedências: malês, haussás, jejes e tapas.
Acontecimentos por todo o país e no mundo terão reflexos importantes para a colonização do Oeste paranaense. É um período de avanço revolucionário do liberalismo, que ao receber o apoio das massas oprimidas vai impondo o capitalismo rapidamente.
No Sul, a expansão do controle inglês sobre o Rio da Prata e os sinais de interesse na Argentina e Paraguai de aproveitar as áreas incultas do Oeste brasileiro soaram como um sinal de alerta para as autoridades brasileiras.
Aguiar defende a região
Ao se pronunciar na Assembleia Provincial de São Paulo, o presidente (governador) paulista, coronel Rafael Tobias de Aguiar, pediu apoio para o precário povoamento dos Campos de Guarapuava para que pudesse ir além, ocupando também os Campos de Palmas.
Isto, como disse, “para evitarem-se contestações com os vizinhos, que no volver dos anos podem suscitar as pretensões que tiveram sobre Vila Rica e Guaíra outrora destruídas pelos nossos antepassados” (José Jacinto Ribeiro, Cronologia Paulista).
Era uma proposta importante de aproveitamento do interior do atual Paraná, cuja população ainda reduzida passava a ampliar seus negócios e a intensificar sua força reivindicativa no âmbito institucional, sem armas, enquanto a Cabanagem derramava sangue no Norte e no Rio Grande do Sul os farrapos tomavam Porto Alegre.
Farroupilhas e esfarrapados
Declarando independência do governo central do Império brasileiro, a Revolução Farroupilha propõe a República e a abolição da escravatura. Arrastando-se por uma década, sua fase armada será o mais longo e sangrento conflito fratricida antes da afirmação do Brasil como nação unificada.
O ano de 1836 é de grande importância para o fortalecimento da Província de São Paulo, da qual faziam parte o atual Paraná e o Oeste de Santa Catarina. Contribui para isso o relato de um ataque rebelde na manhã de 1º de maio de 1836.
Uma tática de sucesso usada pelos coronéis era fazer pedidos de recursos financeiros e militares relatando ameaças indígenas. Os recursos que vinham serviam para expulsar os índios das terras que ocupavam e estruturar as grandes fazendas de criação.
O relatório do ataque a Guarapuava em 1836 chega a ser até risível: menciona que os participantes da ofensiva “eram em numero de 54 indivíduos, algumas mulheres e um recém-nascido”. Seriam os “esfarrapados” paranaenses.
Mais: o ataque foi delatado antecipadamente, todos estavam preparados para a ação e consta que nenhum militar se feriu, a não ser um voluntário que disse ter recebido flechada num braço.
O poder paulista
O ponto mais importante dos debates sobre o futuro Paraná travados no parlamento paulista se referia a opções ferroviárias. Já cogitado o trecho São Paulo–Santos, também havia estudos de mais trechos, também ao Norte, Sul e Oeste.
João da Silva Machado, o futuro Barão de Antonina, recebendo as notícias sobre movimentos rebeldes, intensifica a ação parlamentar, aproveitando-se do temor do governo imperial de que as revoltas de escravos ao Norte e a rebelião dos liberais farroupilhas no Sul contaminassem a Nação.
Machado defendeu a ocupação rápida do Oeste paranaense e o aperfeiçoamento da Estrada da Mata para a plantação de novos núcleos coloniais, ações que historicamente vão preparar a futura força econômica paulista.
“(…) estamos diante de um processo de fortalecimento do poder do grupo em torno de Vergueiro, Feijó, Paula Souza, Tobias de Aguiar e Machado. O período Regencial marcou a ascensão de membros deste grupo a nível nacional, na figura de Regentes. Aqui está a chave para se compreender de que maneira a elite política de São Paulo começou a se destacar e ultrapassar as fronteiras de sua província” (Luiz Adriano Gonçalves Borges, Senhor de Homens, de Terras e de Animais).
Colonização ou guerra
Diante do descaso das autoridades do Império com as demandas locais, de Norte a Sul fermentavam focos da futura Revolução Liberal. A resposta do governo foi a ofensiva militar imperial contra a Cabanagem na Amazônia, depois de um domínio rebelde de vários meses sobre a região, iniciado em abril de 1836.
Todos os movimentos populares serão esmagados pela força do Império, mas no Sul o conflito se prolongaria sem dobrar os rebeldes porque havia interesses elitistas aliados à força popular.
Mesmo perdendo Porto Alegre em 15 de junho de 1836, os farroupilhas ainda resistiriam por vários anos. A longa duração do conflito traria consequências positivas para o Paraná, reafirmando sua posição estratégica.
O governo provincial paulista decidiu no início de 1837 que a melhor forma de evitar invasões estrangeiras e o controle do interior pelos revolucionários liberais seria ocupar rapidamente o território.
A decisão referente à conquista da porção paulista do atual Paraná foi tomada na sessão da Assembleia paulista de 16 de março, determinando a “descoberta” dos Campos de Palmas, aproveitando informe elaborado por Joaquim José Pinto Bandeira, vereador curitibano requisitado pelo Império para fazer relatórios sobre a realidade do interior despovoado.
Era Vitoriana
A coroação da rainha britânica Vitória Regina (1819–1901), em junho de 1837, será o marco da extensão de um largo período de domínio inglês sobre o mundo. Logo no início da Era Vitoriana, que vem coincidir com o apogeu do império britânico, os ingleses já preparavam a extensão de seu controle pelo atual Oeste do Paraná.
Seu cônsul no Prata, Woodbine Parish, dava conta à rainha do grau de controle que a Inglaterra já havia estabelecido sobre a América do Sul, ao descrever um gaúcho dos Pampas:
“Tomem-se todas as peças de sua roupa, examine-se o que o rodeia e, excetuando-se o que seja de couro, que coisa haverá que não seja inglesa? Se sua mulher tem uma saia, há dez possibilidades contra uma que seja manufatura de Manchester. O caldeirão ou panela em que cozinha, a peça de louça ordinária em que come, sua faca, suas esporas, o freio, o poncho que o cobre, todos são levados da Inglaterra” (Buenos Aires y las provincias del Rio de la Plata).
A Argentina, que recebia da Inglaterra até as pedras das calçadas, já estava dominada. Mas os ingleses queriam mais. Iriam estender seu poder também ao Paraguai depois que se livrassem de Solano López e ao Oeste do Paraná.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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