Assim que a ditadura caiu, em outubro de 1945, ironicamente derrubada pelos mesmos generais que desfecharam o golpe de 1937, as lideranças paranaenses já podiam erguer a voz em liberdade e fustigaram fortemente o Território Federal do Iguaçu, insistindo em recuperar as perdidas regiões Oeste e Sudoeste.
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Para o Iguaçu nada ia bem, com Paraná e Santa Catarina pressionando pela retomada de suas áreas oestinas. O governo federal, inoperante, fazia a transição da estrutura autoritária, centralizada no Rio de Janeiro, para a concessão de mais poderes aos Estados.
Mas tudo conspirava em favor de Cascavel, apesar da perda de poder por parte do patriarca José Silvério de Oliveira, que via a ascensão dos filhos de imigrantes como a nova força dominante na vila. Nem o péssimo estado dos caminhos rumo aos portos do Rio Paraná prejudicava o crescimento do lugar.
Abandonados pelo governo federal, que impedia a ação do Estado do Paraná na área, tais caminhos eram impraticáveis para a marcha das carroças dos migrantes, que traziam suas mudanças e animais para criar. Só eram viáveis por meio de cargueiros.
Culto ao empresariado
O governo de Frederico Trotta à frente do Iguaçu começou antes de ele ser nomeado oficialmente, limitada ao culto à sua personalidade, proveniente da bajulação de subalternos em busca de nomeações privilegiadas.
O historiador Oscar Silva, líder toledano que viria a apoiar o movimento pró-criação do Estado do Iguaçu, observou que a incompetência da gestão territorial na ditadura foi notória:
“O governo do Território do Iguaçu, como os de outras unidades congêneres, tinha atribuições para promover o povoamento e localização de colonos em sua área administrativa, mas não se sabe de nenhuma gestão nesse sentido por parte de Frederico Trotta [o governador]. E a colonização do Oeste teria de vir, como veio, em virtude da iniciativa privada e não em consequência de atividades oficiais ou governamentais” (Toledo e Sua História, de Oscar Silva, Rubens Braganolo e Clori Fernandes Maciel).
O caso de Érico Francisco Pruner é exemplar dessa iniciativa. Ele, que foi vereador e presidente da Câmara de Foz do Iguaçu, naquele mesmo ano de 1945, à frente de um grupo de trabalhadores paraguaios, começou a abrir caminho na mata já fechada em direção ao Leste.
O “Rancho dos Gaúchos”
Supostamente ligado aos interesses ingleses já desmobilizados na região, Pruner partiu de Foz do Iguaçu com sua turma abrindo cerca de 50 quilômetros quando ao abrir a estrada encontrou a família Honeisser, que vinha de Carazinho (RS) aproveitando trechos viáveis.
Os que chegavam decidiram aproveitar o novo caminho aberto para se fixar em um trecho da estrada com a intenção de abrir uma serraria.
O acampamento em que a família de migrantes que chegava e a turma de trabalho liderada por Pruner ficaram juntos foi anotada nos croquis como “Rancho dos Gaúchos”. Estava iniciada mais uma cidade oestina – Gaúcha, que viria a ser oficializada como São Miguel do Iguaçu.
Adiantando-se à retomada das obras da estrada Guarapuava–Foz do Iguaçu, a CER-1 se instalou em Cascavel, de onde marcharia para a etapa final, rumo à fronteira. Com essa obra anunciada e a presunção de que o Território do Iguaçu conseguiria a atenção necessária do governo federal, o Oeste paranaense se tornava foco das atenções dos interesses imobiliários gaúchos.
É nesse quadro histórico que o colonizador Alberto Dalcanale passou a se interessar pela área da Fazenda Britânia, desde a II Guerra já fora dos planos ingleses para o Brasil.
Barrow, Lockwood, Bell, Davis…
A saga da formação de Toledo, Marechal Cândido Rondon e municípios derivados será também a crônica do fim das experiências coloniais inglesas no Oeste paranaense, que a guerra interrompeu e as exigências nacionalistas brasileiras inviabilizam em definitivo em 1945.
A Fazenda Britânia pertencia à Companhia Madeireira del Alto Paraná, que se formou na Argentina com a finalidade específica de desenvolver seu projeto colonial e madeireiro no Paraná.
Nas voltas que a história dá, quem abriu as portas para a empresa na região foi o coronel David Carneiro, pai do historiador do mesmo nome que viria a ser um encarniçado inimigo do Território Federal do Iguaçu.
A Madeireira del Alto Paraná, que viria a resultar 40 anos depois no acrônimo “Maripá”, começou em 6 de agosto de 1906, em Buenos Aires, em reunião dos sócios Roberto Chemburn, Frederico Barrow, Harry Loveday, Nathan Wormser, Carlos Lumb (filho), Carlos Lockwood, Carlos Manifold, David Simson, Santiago Brian e Alfredo Gumpert.
Na verdade, ação público-privada
A finalidade da empresa, uma sociedade anônima, seria “adquirir e explorar, com todos os direitos e obrigações correspondentes, uma concessão de uma superfície de 250.000 hectares de terras florestais situadas no Estado do Paraná, na República dos Estados Unidos do Brasil, tendo sido concedida (…) pelo Governo do referido Estado a favor do Sr. Jorge Schimmelpfeng (…), e havendo o dito concessionário (…) transferido a referida concessão a favor dos Srs. Henry Bell e Walter G. Davis”.
O coronel Jorge Schimmelpfeng, na época, havia deixado o cargo de vereador em Curitiba para dar início ao esforço do Estado pela colonização do Oeste, começando por abrir um posto de fiscalização na fronteira para combater o contrabando de madeiras.
A companhia teria duração de 50 anos, com a intenção de pôr em prática projetos de criação e agricultura, além de “explorar, povoar, colonizar”, construir e explorar serrarias, negociar madeiras, explorar minas e recursos minerais – inclusive direitos sobre águas –, construir edifícios, formar fábricas, ferrovias, abrir estradas, explorar a navegação fluvial, criar represas, moinhos, fornos e instalações elétricas e hidráulicas.
O passo seguinte se deu em 18 de julho de 1907, quando o presidente Affonso Pena concedeu por decreto autorização à empresa para atuar no Brasil.
Menos pinheiros do que se imaginava
Quando Alberto Dalcanale foi conhecer a área da Fazenda Britânia, bastou-lhe observar um pedaço da enorme área total de 274.846 hectares ou 2.748 Km, “coberta por intensa vegetação de mata latifoliada e de algumas manchas de pinheiros” (Valdir Gregory, Os eurobrasileiros e o espaço colonial).
Mesmo supondo haver mais pinheirais na área do que havia, Alberto Dalcanale e Bernardo Zílio* eram experimentados avaliadores de novas frentes de colonização e chegaram à área da antiga propriedade inglesa em novembro de 1945.
Eles vinham conhecer e vistoriar a gleba valendo-se do melhor – e único – meio de transporte existente na época para devassar a mata: o lombo de burro.
Exaustos, mas entusiasmados com o que viram – uma imensa mata virgem cheia de riquezas – voltaram a Porto Alegre e no Natal de 1945 relataram ao sócio Alfredo Ruaro a vistoria na Fazenda Britânia como favorável aos interesses do grupo de empresários gaúchos, que por diferentes iniciativas se dedicavam à colonização e empreendimentos madeireiros.
Viram que a região estava abandonada, já eram visíveis os sinais negativos do conflito entre os governos federal e paranaense mas perceberam facilmente a cereja do bolo: o que os ingleses já haviam tentado na região não era pouco nem desprezível.
Em 40 anos de atividades, suas iniciativas avançavam de instalações portuárias e habitacionais até experimentos industriais e a construção de uma pioneira ferrovia.
*A família Zílio já tentara a colonização da Santa Helena Velha, em 1921.
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