Foz do Iguaçu foi idealizada como Colônia Militar desde a descoberta de diamantes no centro do atual Paraná, no século XVII.
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A ordem partiu do Conde de Oeiras (futuro Marquês de Pombal), que determinou em 1765 ao governador paulista, o Morgado de Mateus, a fundação de um estabelecimento militar na fronteira com o Paraguai.
Os assuntos de governo já não costumavam ser rápidos naquela época e só um século depois começaram os estudos concretos em torno da fundação de Foz do Iguaçu.
Criada finalmente em 1889, a Colônia Militar fracassou no início do século XX por ineficiência, corrupção e contrabando, levando a União a entregar a área ao governo do Paraná, que em 1914 criou o Município de Foz do Iguaçu.
O prefeito designado, coronel Jorge Schimmelpfeng (1876−1929), descendente de alemães, tinha grandes projetos para a região. Em 1907, representando capitais ingleses, iniciou a formação da Fazenda Britânia, que futuramente resultaria na bem-sucedida colonização da Companhia Maripá (origem de Toledo, Marechal Cândido Rondon e municípios derivados).
Em 1922, na até então desprezada Encruzilhada dos Gomes, ele projetava uma futura “grande cidade”.
De onde vinha o dinheiro
Para tirar a Vila Iguaçu, como era chamada, de sua situação de abandono e falta de perspectivas, o coronel Jorge jogou com todas as armas de que dispunha.
Jorge era habituado à luta. Militar, sempre envolvido em disputas (chegou a ser expulso da Academia Militar em 1895), destacou-se como vereador em Curitiba no início do século XX por seu empenho na atividade política.
Foi nessa atividade, também conflituosa, que recebeu a missão de fazer a transição da Colônia Militar para um Município paranaense.
Seguiu para a fronteira e investiu de todas as formas, como em 6 de abril de 1905, ao comprar 250 mil hectares de terras devolutas que viriam dois anos depois a constituir a Fazenda Britânia.
Em tempos de penúria, na I Guerra, o coronel Jorge assumiu a Prefeitura sem nada e de saída mandou construir uma Prefeitura com dois andares, em alvenaria, em imóvel pessoal e com seu dinheiro, mas também avisou aos ricos sonegadores que a partir de agora teriam que pagar os impostos.
Da vila abandonada à cidade iluminada
“A cidade, construída em terreno bastante acidentado, a cavaleiro do rio Paraná tem suas ruas niveladas, e algumas arborizadas, e é iluminada a luz elétrica”, surpreendeu-se Jayme Ballão (A Foz do Iguaçu e as Cataratas, 1921).
Para Foz do Iguaçu progredir, Jorge Schimmelpfeng fazia coisas inacreditáveis. Ia para a Argentina e Paraguai e tentava convencer famílias empreendedoras a se mudar para o Brasil.
E não apenas isso, mas também caluniava outras regiões, para as quais pretendiam seguir os atraídos por ele que não foram bem-sucedidos aqui logo de início.
Para Schimmelpfeng, o Mato Grosso era “terra de bandidos” e voltar ao Sul seria uma demonstração de fracasso e vergonha (Alceu A. Sperança, Quem Manda no Paraná Livro 2: A Era Camargo–Munhoz).
Até a estrada para Catanduvas, então intransitável na época em que Cascavel nem existia, ele reparou com seu próprio dinheiro, apoiado pelos cidadãos com mais posses.
Desde a origem, muito sofrimento
Schimmelpfeng morreu em 1929 e não viu a emergência da ditadura do Estado Novo nem a criação do Território Federal do Iguaçu, período em que Foz do Iguaçu viveu enormes dificuldades e os imigrantes e seus filhos passaram dias de horror.
No livro Filha de Imigrantes, a professora Elizabeth [Nieuwenhoff] Neumann recorda o que a família passou, instalada às margens do Rio Carimã, próximo ao local onde hoje se encontra o hotel do mesmo nome, no caminho das Cataratas do Iguaçu.
Os holandeses Nieuwenhoff chegaram à região em 1928, quando o coronel Jorge ainda era vivo, acompanhando um grupo de 29 famílias que se arrastaram em demorada caravana vinda de Cruz Machado, no Sul do Paraná, também origem das famílias Gurgacz e Wypych.
Antes de chegar a Cruz Machado já haviam sofrido maus bocados. Uma viagem de navio sem recursos, nenhuma assistência de saúde nem preparação para a vinda ao Paraná. “Pegaram piolhos, bichos-de-pé e outras pragas que não conheciam”.
Produzir alimentos, vocação e destino
Chegar a Foz do Iguaçu e ser bem recebidos foi o melhor que aconteceu a eles desde que, sofrendo uma realidade de desemprego e pobreza, saíram da Europa seduzidos pela propaganda das maravilhas da América.
“Foz do Iguaçu precisava de alimentos, por isso, os colonos foram bem-vindos, mas o que mais preocupava era a malária, uma doença grave e com poucos recursos para tratamento na época”.
Instalados na região das vilas Yolanda e Carimã, eles participaram da criação da primeira cooperativa do Oeste, em 1932, da qual um dos fundadores foi Manoel Ludgero Pompeu, que depois viria se tornar subprefeito de Cascavel, substituindo o iniciador da cidade, Jeca Silvério.
A Sociedade Cooperativista Agrícola Ltda, que eles chamavam de “Bauerferein” (Associação Rural) surgiu pelo esforço dos imigrantes e seus filhos.
A entidade contribuiu ativamente para a prosperidade da população da fronteira até que as agressões nazistas na Europa resultaram na II Guerra Mundial, que por medo à Argentina pró-nazismo resultaram aqui, embora longe do conflito, em perseguição insana aos colonos de origem estrangeira.
“Naquela época nosso contato maior era com a Argentina. As comunicações e o comércio com cidades brasileiras, quase impossíveis, em virtude das estradas intransitáveis, tornava Porto Aguirre, hoje Puerto Iguazú, o local para suprir nossas necessidades de mantimentos de compra e venda de produtos agrícolas” (Elizabeth Neumann).
Ida triste, retorno feliz
A informação era recebida por meio de um jornal impresso em alemão que eles compravam na Argentina. O pai de Elizabeth, Martin Nieuwenhoff, foi preso pelo “crime” de ler esse jornal e as famílias de imigrantes acabaram expulsas pela ditadura só por não saber falar corretamente o idioma português.
Escorraçado, tendo que deixar tudo para trás, Martin seguiu para Guarapuava, chegando um mês depois com a família em sua carroça, pois ainda não dispunha de veículo motorizado para o transporte.
Só depois da vitória dos Aliados na II Guerra e o fim da ditadura a família Nieuwenhoff conseguiu voltar para a fronteira, agora em condições melhores, na carroceria de um caminhão.
Encontraram uma cidade em dificuldades, sofrendo fome e desabastecimento, mas ao retornar se integraram de imediato ao trabalho de legar dinamismo econômico, organização comunitária e um futuro melhor à região escolhida. Era o que Foz do Iguaçu, cidade organizada por um filho de imigrantes, mais precisava.
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