A grande produção de café obtida pelo Paraná em 1941 não pôde ser repetida por obra das arrasadoras geadas de 1942, embora tenha facilitado a sustentação dos preços em alta no mercado interno.
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Mesmo com as geadas, portanto, o café paranaense manteve forte a economia estadual nesse início de década. No entanto, as condições sociais da maioria da população eram deprimentes.
Se a realidade que o médico Altamiro Vianna encontrou em Foz do Iguaçu era de miséria e abandono sobretudo pela expulsão dos colonos de origem alemã e italiana, nas demais regiões também assoladas pelas geadas de 1942 a pobreza dos colonos e posseiros foi piorada pela ação dos jagunços* das companhias colonizadoras, enviados para lhes tomar as terras e destruir as benfeitorias.
Com o governo federal e o estadual em conflito jurídico, o que mais preocupava no interior paranaense não era a guerra na Europa, já estendida à África, mas a crescente violência pela posse de terras aqui mesmo.
*Jagunço: civil ostensivamente armado
Briga Estado x União estimulava corrupção
Havia intrusões documentadas pelo governo do Estado em quase um terço do território paranaense. Só no Norte Novo havia cinco grandes grilos* registrados: Bandeirantes (403.340 alqueires), Pirapó (369.570), Boa Esperança (255.980), Barra do Tibagi (148.290) e Ribeirão Vermelho (45 mil).
A intrusagem, para o interventor Manoel Ribas, tornou-se uma indústria lucrativa “e tranquilamente exercida a apropriação indébita das terras pertencentes ao patrimônio do Estado, seja por processos violentos de invasão, seja ardilosamente arranjados, com aparência de legalidade, favorecidos, às vezes, pela complacência de altas autoridades administrativas” (Mensagem à Assembleia Legislativa, 1936).
Para as autoridades corrompidas, a confusão entre o grileiro, o sertanejo, o posseiro e o intruso criava condições para reprimir os humildes colonos como se fossem invasores, beneficiando os “senhores feudais”, na expressão do interventor Manoel Ribas.
Para as autoridades prevaricadoras, interessava nivelar as quadrilhas de intrusos aos movimentos de resistência dos colonos e posseiros: a criminalização de todos facilitava atacar os resistentes e abrir caminho aos grileiros, a pretexto de ação para “pacificar” o campo.
*Grilo – Manobra cartorial fraudulenta. A escritura era posta em gaveta com grilos mortos que davam ao papel a aparência de antigo
Golpe militar na Argentina trouxe medo
Nessa confusão generalizada, o Estado do Paraná sofria o confisco de suas terras por parte do governo federal e perdeu vastas áreas, griladas e invadidas pelas quadrilhas de intrusos.
Tentou reagir, mas timidamente: era tempo de ditadura, mandava quem podia. Mesmo com a ditadura dividida e em fim de feira, o Paraná foi vencido nas duas frentes de batalha.
Enquanto fermentava o conflito de terras ao Norte, a primeira locomotiva da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná alcançava Apucarana em 19 de abril de 1943 e Foz do Iguaçu ganhava sua primeira usina hidrelétrica: a Usina Rio São João, construída no interior do Parque Nacional do Iguaçu.
Do outro lado da fronteira, na Argentina, a tensões vinham do golpe militar desfechado em junho de 1943. Temia-se no Brasil uma ofensiva platina sobre o Sul brasileiro.
Tal ação, aliás, faria pouco sentido, já que a feroz disputa entre dois grupos pelo poder em Buenos Aires e a precária conjuntura econômica argentina inviabilizariam uma aventura guerreira.
Vantagens para Cascavel
Com as agitações fronteiriças, o impedimento da presença de imigrantes italianos nessas áreas é responsável pelo grande salto de Cascavel: em 1943, a pequena vila recebe um grupo de famílias dessa etnia provenientes do Rio Grande do Sul, puxadas pelas famílias de Pedro Zandoná e Pedro Dal Prá.
A partir daí, até o fim da guerra, famílias que vieram do Rio Grande do Sul para a região de Santa Helena conseguiram passar de Cascavel por falta de estradas carroçáveis e ali se estabeleceram, iniciando a transformação do lugar em uma das cidades mais importantes do interior brasileiro.
Na medida em que o Paraguai não atrapalhava e a Argentina se mantinha neutra na guerra, a providência de fortalecer a presença militar na fronteira passou a ter o objetivo de estruturar o já decidido mas ainda não criado Território Federal do Iguaçu.
O novo Território Federal, supunha-se, deveria ter Foz do Iguaçu como capital. Mas essa definição jamais viria: a cidade da fronteira foi considerada remota demais, uma espécie de fim de mundo para os funcionários federais que deveriam se transferir do Rio de Janeiro para administrar a nova unidade da Federação.
Frustração em Foz, trapalhada no RJ
Em 13 de setembro de 1943, quando o decreto-lei 5.812 finalmente cria o Território Federal do Iguaçu, com uma área de 65 mil km², o Paraná perdia mais 44 mil km² de suas terras. Outros 21 mil km² que Santa Catarina já havia tomado na batalha judicial do Contestado também se somaram ao TFI.
O Território Federal do Iguaçu aparece no mapa do Brasil formado por quatro municípios: Foz do Iguaçu, Clevelândia, Mangueirinha e Chapecó.
Em 16 de dezembro de 1943, o decreto-lei 6.117 vem estabelecer as normas para colonização a ser seguidas no Território Federal do Iguaçu. A autoridade paranaense, que já era muito limitada, desaparecia completamente da região Oeste.
O Oeste do Paraná, agora, ficaria em Laranjeiras do Sul. Mas os burocratas do Rio de Janeiro deram um jeito de tomar também esta cidade paranaense, a mais bem estruturada a Oeste de Guarapuava, e fizeram dela a capital do TFI, por ser o ponto mais “civilizado” e com boa estrada até o Rio de Janeiro.
A frustração dos militares e civis de Foz do Iguaçu só não foi maior que a trapalhada feita na capital da República (o RJ): Laranjeiras foi escolhida para ser a capital, mas não fazia parte do território do Iguaçu.
Garcez, o primeiro governador
Houve então apressado esforço burocrático para esticar a área do TFI e tomar do Paraná também Laranjeiras do Sul, para atender aos interesses dos burocratas federais.
Com a trapalhada e o contorcionismo para corrigi-la, atrasou-se a vigência do Território Federal do Iguaçu. Criado em setembro de 1943, só foi instalado em 6 de janeiro do ano seguinte, quando o ditador Getúlio Vargas nomeou o primeiro governador – João Garcez do Nascimento (1893−1971).
Ter sido ajudante-de-ordens de Vargas garantiu ao major Garcez do Nascimento a confiança do chefe para a tarefa de governar o Território Federal do Iguaçu.
De origem paranaense, membro de uma família tradicional das Araucárias, a primeira missão de Garcez foi fazer um levantamento confiável da região compreendida pelo Território Federal do Iguaçu, já criado oficialmente mas ainda não instalado.
Precisava ser um documento confiável porque o relatório forçado pela Comissão de Zeno Silva, apreciação negativa que atribuiu ao Paraná o papel de vilão da história, foi encomendada para facilitar a tomada do território Oeste.
Por sua vez, os relatórios paranaenses, na tentativa de evitar que o Estado perdesse ainda mais áreas depois do desastre do Contestado, davam destaque a providências cujos resultados não pareciam consistentes com a realidade.
Sendo Garcez natural de Curitiba, onde serviu no antigo 9° Regimento de Artilharia Montada, ao designá-lo o arguto Vargas passava a impressão de que o Território não havia sido perdido pelo Paraná, como lamentavam as tradicionais lideranças políticas paranistas.
O Território Federal do Iguaçu nasceu mal e iria durar pouco, mas ao ser divulgado como Terra Prometida trouxe alento às famílias do Sul que fugiam da crise confiando que o Oeste do Paraná seria seu Eldorado.
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