O Recenseamento Geral do Brasil de 1950 apontou para o Município de Foz do Iguaçu, com sua sede e dois distritos – Cascavel e Guaíra –, uma população oficial de 16.444 moradores. No Brasil, eram 51,9 milhões de habitantes, dos quais 2,1 milhões viviam no Paraná.
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O Anuário Estatístico do Brasil e algumas publicações terão números divergentes dos oficiais do Censo, indicando a cidade de Foz do Iguaçu com 2.949 moradores.
O Distrito de Cascavel teria 4.411 habitantes, dos quais cerca de 90% viviam na área rural, segundo Mariângela Alice Pieruccini, Shiguero Iwake e Olga da Conceição Tschá (Criação dos Municípios e Processos Emancipatórios), o que projeta para a vila de Cascavel uma população de cerca de 150 moradores.
Já na área da colonizadora Maripá, estabelecida na vila de Toledo, em fins de 1950 a população teria alcançado1.236 habitantes (Dados Estatísticos da Cidade de Toledo, Companhia Maripá, 31/12/1950).
Seria um salto importante, considerando que a população toledana era de 130 moradores em 1948, subindo para 240 em 1949 para entrar em 1950 com 615 habitantes (Oscar Silva, Rubens Bragagnolo e Clori Fernandes, Toledo e Sua História), ainda não incluso o resultado do Censo de julho de 1950. Saltaria para 2.095 moradores em 1951.
Tomaz começa Cafelândia
A forma de atração de colonos pela Maripá era selecionar seu público-alvo entre famílias de imigrantes com interesse em investir as economias acumuladas. Cascavel, entretanto, não tinha um eixo único de recepção de novos moradores.
Eles vinham para ocupar terras devolutas, para comprar terras vendidas pelo Estado ou por diversas empresas de colonização, situação que vai determinar no futuro uma população maior para Cascavel, por sua situação especial de entroncamento de estradas que a condicionou como a cidade-polo do Médio-Oeste.
“Para os agricultores que na maioria das vezes se deslocavam de Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, restavam apenas duas alternativas: quem detinha dinheiro poderia comprar um pedaço de terra através das colonizadoras, porém, quem não tinha condições para tal, restava ocupar as terras devolutas, ou comprar ‘posses’ a um custo menor” (Luiz Carlos de Oliveira, Luta pela posse da terra em Cafelândia durante a década de 50).
Passado o recenseamento, feito em julho de 1950, em setembro terá início a corrida para a ocupação do interior distrital de Cascavel, sobretudo ao Norte, com a vinda do primeiro colono à região de Cafelândia, Honoríbio Tomaz, que veio de carroça desde Palmas.
Atraídos pela fertilidade da terra, colonos de Santa Catarina foram convencidos pela forte propaganda da região, que fazia um retrato paradisíaco da região, destacando a topografia suave, bem diferente das áreas escarpadas em que viviam.
Pfeffer e a Cobrinco
A propaganda, o estímulo do Estado à colonização e comparação permitiram à Companhia Brasileira de Imigração e Comércio (Cobrinco) vender a primeira de várias chácaras na região de Anahy, no interior de Cascavel, adquirida por Ricardo Pfeffer.
Nos treze alqueires das terras compradas, Pfeffer, catarinense de Itaiópolis, logo começou o plantio de café, com a esposa Matilda Hake Pfeffer e os filhos Júlio, Rosalina, Jovino e Joventin.
Desde que Manoel Ribas ofereceu as terras devolutas do Paraná a quem quisesse ocupá-las, quem viajava pela região sempre encontrava carroças, carroções e comboios de colonos em êxodo ao Oeste do Paraná.
Aproveitando a oportunidade aberta para ocupar terras gratuitamente, não imaginavam que ao se estabelecer e produzir seriam assediados pelos jagunços dos grileiros que se diziam donos das terras, apresentando documentos falsos envelhecidos artificialmente com datas fraudadas cartorialmente para parecer anteriores à chegada dos colonos.
Os posseiros reagiram de armas na mão, o que favoreceu aos grileiros invocar o apoio da polícia estadual denunciando “banditismo” nas áreas em que os colonos se organizavam e reagiam.
As mortes se multiplicavam e a situação de insegurança era propagada pela imprensa nacional lembrando as crueldades do Contestado.
“Sois os que tendes direito”
Diante dos conflitos agrários, já com muito sangue derramado, propaga-se com amplitude a voz confiante de alguém que sabia discursar e encantar plateias:
“Vós, que ocupais as glebas e que as desbravastes, sois os que tendes direito a ficar nas terras”, dizia o ex-deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha Neto, candidato derrotado por Moysés Lupion ao governo do Estado em 1947 e agora candidato à sua sucessão.
É uma declaração surpreendente, vindo de um parlamentar conservador, filho de um oligarca da indústria ervateira.
“Ele iniciou sua carreira como deputado por uma coligação do Partido Republicano com a União Democrática Nacional, e, quando candidatou-se a governador, em 1950, foi apoiado por uma aliança envolvendo a maioria dos udenistas paranaenses, o Partido Republicano, o Partido Social Trabalhista e o Partido de Representação Popular” (José Henrique Rollo Gonçalves, Bento Munhoz da Rocha Neto, a reforma agrária e o norte do Paraná dos anos 50 e 60).
Em 1950, as propriedades rurais no Estado já ocupavam 8 milhões de hectares. São quase 90 mil estabelecimentos: 76,5 mil de pequeno porte, 7,5 mil médios e 5,5 mil grandes.
As pequenas propriedades perfazem então 85% do número total, com apenas 29% de toda a área, enquanto as médias e grandes, que não representam mais de 15%, detendo 71% da área total.
Guaíra puxa emancipações
O sucesso das colonizadoras, notadamente a Maripá, pela extensão da antiga Fazenda Britânia, somou-se à polarização eleitoral entre adeptos de Lupion e de Bento Munhoz para motivar as comunidades do interior a fazer reivindicações estruturais.
O Distrito de Guaíra pediu a emancipação de Foz do Iguaçu. A Maripá, atenta, pôs sua influência política em ação para reivindicar o mesmo para Toledo, que nem distrito era.
Diante desses fatos, dois líderes cascavelenses também agiram. O farmacêutico Antônio Alves Massaneiro e Horácio Ribeiro dos Reis, funcionário dos correios e telégrafos, propuseram a criação do Município de Cascavel, mesmo a vila-sede do Distrito ainda sendo minúscula, menos populosa que Toledo.
“[O processo de emancipação] começou em 1950 porque Toledo e Guaíra estavam fazendo a mesma coisa na intenção de se desmembrarem de Foz, que era a sede. (…) Quando saiu a nova divisão administrativa esses dois municípios foram criados, mas Cascavel não. Ficamos pertencendo a Toledo” (José Neves Formighieri, O Paraná, 29/07/1984).
Massaneiro tinha amizade com o deputado Antônio Anibeli, que havia conhecido em Foz do Iguaçu. Foi assim que começou a ser alinhavado o projeto de emancipação de Cascavel.
Força do PSD se dilui e oposição cresce
Mesmo contando com a administração estadual e a maior parte das Prefeituras, o PSD não teve força para sustentar as candidaturas de Cristiano Machado a presidente e Ângelo Lopes, a governador. Ambos seriam facilmente derrotados por Getúlio Vargas e Bento Munhoz da Rocha Neto.
Cristiano Machado, aliás, viu seu partido correr de volta aos braços de Vargas enquanto seus correligionários crucificavam sua candidatura no episódio chamado cristianização.
Ângelo Lopes, prefeito de Curitiba em 1947 e depois secretário da Fazenda, perdeu para Bento Munhoz, que enquanto deputado federal constituinte faz fama como o líder da recuperação das regiões Oeste e Sudoeste ao território paranaense.
Bento também se beneficia do vazio de liderança nas regiões de conflito agrário, nas quais o Estado era ausente e o PCB, que liderava os posseiros, foi posto na ilegalidade pelo governo Dutra.
Com uma ótima base eleitoral, escorando-se na tradição do pai, o médico e industrial Caetano, ex-governador no arranjo oligárquico urbano-rural de Affonso Camargo, Bento Munhoz da Rocha Neto é o catalisador dos grupos que abandonam o governador Lupion, forjando uma forte oposição.
Sob a direção de Bento Munhoz
Em 3 de outubro de 1950, Bento recebe uma votação consagradora no Paraná e Getúlio Vargas vence eleições arranjadas para permitir sua tranquila vitória.
Soma 49% dos votos, segundo a imprensa conservadora provenientes de “miseráveis, analfabetos, mendigos famintos e andrajosos, espíritos recalcados e justamente ressentidos, indivíduos tornados pelo abandono homens boçais, maus e vingativos, que desceram os morros embalados pela cantiga da demagogia (…) para votar na última esperança que lhes restava: naquele que se proclamava o pai dos pobres, o messias charlatão” (Paulo Duarte, em editorial na revista Anhembi).
Por todo o Brasil, a canalização das angústias e das esperanças dos despossuídos nos trabalhistas “salvadores da Pátria” garantiu a vitória dos candidatos populistas, tendência já verificada na Argentina, com o peronismo.
Já sem seu protetor Lupion, com o projeto de redivisão do Estado incluindo Toledo como sede do Município a ser criado na área do Distrito de Cascavel, a comunidade cascavelense ficou em polvorosa.
Era preciso unir a população, como se fez ao criar o Tuiuti Esporte Clube. E será na sede do Tuiuti que as reuniões para organizar a criação do Município de Cascavel vão começar.
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