Foi como guia de um atleta cego que o cascavelense Edelson Ávila viveu uma das maiores experiências da sua vida no esporte. Em 2024, ele esteve na Paralimpíada de Paris, conduzindo o fundista Júlio César Agripino à medalha de ouro nos 5.000 metros. Embora não tenha recebido medalha, os guias não sobem ao pódio nem ganham premiações oficiais, Edelson carrega com orgulho o feito. “Foi uma realização. Estar naquele momento, em uma competição daquele nível, é algo que vou levar para sempre”, afirma.
Atleta de alto rendimento, Edelson lembra que a rotina como guia é intensa, exigente e vai muito além da corrida. “É uma missão difícil. Você precisa estar acima do desempenho do atleta, resistir à prova e, ao mesmo tempo, narrar tudo o que está acontecendo. O guia é os olhos do atleta. Tem que saber exatamente o que dizer, quando dizer, e ainda correr em alto nível”, explicou em entrevista ao podcast De olho no esporte, que vem destacando histórias de atletas cascavelenses.
Ele explica que, nos 5.000 metros, a prova é dividida entre dois guias, com cada um percorrendo metade do trajeto ao lado do corredor. “É uma prova disputada a seis pernas e três corações. Exige entrosamento, sintonia, confiança. É quase como uma amizade de irmãos. O sucesso de um depende do outro.” Para atingir esse nível de conexão, Edelson treinou durante meses com Júlio César. Os treinos incluíam não só correr lado a lado, mas também repetições de comandos verbais, simulações de provas e situações imprevistas. “Durante a prova, você precisa dizer tudo: onde está a curva, se tem buraco na pista, se pode acelerar ou se deve controlar o ritmo. Tudo isso enquanto corre no mesmo tempo e no mesmo passo. Não é fácil.”
A convivência nos bastidores também deixou marcas. A experiência de viver o clima de uma Paralimpíada, de se hospedar com atletas de diferentes deficiências e nacionalidades, e presenciar o esforço de todos para competir em alto rendimento, foi transformadora. “Ali, percebi o quanto o rendimento paralímpico é tão alto quanto o olímpico. A dedicação dos atletas é impressionante. São pessoas que superam limites todos os dias. É outro mundo, outro olhar sobre o esporte e sobre a vida.” Além de Paris, Edelson também participou de competições internacionais no Japão e na França, conquistando medalhas de ouro nas duas.
Carreira solo e futuro
Mesmo com todas as conquistas como guia, Edelson decidiu virar a página. Hoje, ele voltou a focar na própria carreira como atleta de fundo. Corre nos 5.000 metros, treina todos os dias, duas vezes ao dia, e participa de provas em todo o país. O objetivo agora é manter o alto nível e buscar pódios com as próprias pernas.
Sobre o futuro, mantém os pés no chão. “O nível olímpico é altíssimo. Ainda estou distante disso, mas sigo treinando com dedicação. A gente precisa sonhar. Nunca imaginei que iria um dia para a França como guia, muito menos conquistar uma medalha mundial. Mas aconteceu. Agora quero me testar como atleta solo.” Se surgir uma nova convocação para guiar nas Paralimpíadas de Los Angeles, em 2028, Edelson não descarta. “Foi uma experiência única.. É um ciclo que se fechou, mas que pode se reabrir.”
No momento, no entanto, o foco é outro. Edelson quer voar com as próprias pernas — agora como atleta solo — e continuar representando Cascavel nas pistas. Se antes era os olhos de outro, agora ele corre com os próprios sonhos no horizonte. A vida de guia muda tudo: rotina, visão de mundo, prioridades. Tive que abrir mão de muitas coisas, mas valeu a pena”, concluiu.
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