Um venceu na diplomacia, outro na Justiça

Os vereadores Dimas Bastos, Adelar Bertolucci e Adelino Cattani deram os nomes das ruas de Cascavel. Os governadores Moysés Lupion e Bento Munhoz foram varridos do mapa urbano quando começaram as brigas políticas

A primeira lei de Toledo, depois das medidas protocolares de instalação do Município, tratou de posturas sobre o comércio de carne verde. A de Cascavel foi a criação do primeiro quadro do perímetro urbano da sede do Município, pois as ruas distritais não tinham nomes, com exceção da Avenida Brasil, que era dividida em duas partes e tinha dois nomes diferentes.

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As primeiras leis eram iniciativas necessárias por parte dos prefeitos e exigiam pouco debate político. Focados apenas em aspectos técnicos e administrativos. De resto, sem maioria na Câmara, os prefeitos eleitos em novembro de 1952 não poderiam administrar apenas com as próprias forças.

O prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, sabia que se não negociasse com a maioria ligada ao governador Bento Munhoz ficaria ofuscado pelo presidente da Câmara, vereador Dimas Pires Bastos, que em caso de empate nas votações daria o voto de minerva. 

Por sua vez, o prefeito de Toledo, médico Ernesto Dall’Oglio, sem os mesmos cuidados diplomáticos de Formighieri, foi afastado do cargo logo no início do mandato e só retornou ao final de uma longa batalha judicial.

Isso permitiu ao presidente da Câmara, Guerino Antônio Viccari, passar à história como chefe do Executivo e como o artífice da criação da Comarca de Toledo, que parecia impossível antes que ele e o vereador Rubens Stresser articulassem a conquista em Curitiba.     

Acima do partidarismo

Com os prefeitos dependentes dos vereadores, além de Viccari e Stresser em Toledo, ambos do majoritário Partido Libertador, em Cascavel outros dois vereadores se destacaram além de Dimas Bastos, o presidente da Câmara: Adelar Bertolucci e Adelino André Cattani – os três do Partido Republicano.

Em Toledo, tanto os vereadores quanto o prefeito eram ligados de alguma forma à colonizadora e madeireira Maripá. Dall’Oglio veio do Sul para prestar assistência médica ao pessoal da Maripá e colonos que chegavam. 

Viccari era o encarregado pelas estradas e Stresser, engenheiro agrônomo, foi designado para abrir uma estação experimental de cereais e horto florestal em Quatro Pontes, distrito de Toledo e depois de Marechal Cândido Rondon que se tornou Município em 1990. 

Em 11 de agosto de 1953 o prefeito José Neves Formighieri sancionou a lei 26, matéria facilmente aprovada que dava os nomes oficiais às ruas então existentes na cidade, compreendendo os dois patrimônios. 

Ao contrário do que seria lógico, ou seja, o prefeito encaminhar o projeto de lei nesse sentido à Câmara, os dois vereadores mais ativos dentre os eleitos em novembro do ano anterior, Adelar Bertolucci e Adelino Cattani, pegaram o mapa da cidade e escolheram nele os nomes das ruas com a concordância do prefeito.

As regras para as ruas

O leito antigo rodovia federal, hoje canteiros e estacionamentos da Avenida Brasil, durante a vigência do Território Federal do Iguaçu teve dois nomes: Avenida Iguaçu (nome do Território) e Avenida Frederico Trotta (nome do governador). 

Foi com a Lei 26 que passou a ter definitivamente um nome só: Avenida Brasil. O artigo 19 da lei definia os nomes:

a) – Avenida Brasil – o trecho da Estrada de Rodagem Federal em todo o seu percurso dentro dos Patrimônios;  

b) – Rua Paraná – a rua que partindo das proximidades do campo de aviação local, defronte a casa onde atualmente reside o sr. Eurides Formighieri passa defronte a sede do Tuiuti Esporte Clube e segue rumo ao Patrimônio Novo, paralela à Avenida Brasil; 

c) – Rua Pernambuco – a rua que partindo das proximidades da estrada que vai para Toledo, passa defronte a casa onde atualmente reside o sr. Joel Sanwais, seguindo rumo ao Patrimônio Novo, paralela à Rua Paraná; 

d) – Rua Minas Gerais – rua que sendo paralela à Rua Pernambuco passa nas proximidades da casa onde atualmente reside o Sr. Sandálio dos Santos seguindo rumo ao Patrimônio Novo; 

e) – Rua Rio Grande do Sul – a rua que partindo do aeroporto local passa defronte a residência dos srs. Florêncio Galafassi, João Miotto e segue rumo ao Patrimônio Novo paralela à Avenida Brasil; 

f) – Rua São Paulo – a rua que partindo defronte o portão da 5ª secção de Estradas de Rodagem segue paralela à Rua Rio Grande do Sul rumo ao Patrimônio Novo;  

g) – Rua Santa Catarina – a rua que passando ao lado da casa onde atualmente reside o sr. Vitorino Sartori segue paralela à Rua São Paulo rumo ao Patrimônio Novo; 

h) – Rua Rio de Janeiro – a rua paralela à Rua Santa Catarina passa nas proximidades da casa onde atualmente reside o sr. Servino Campagnolo e segue rumo ao Patrimônio Novo;  

i) – Avenida Moysés Lupion – a rua que passa defronte ao Hospital Nossa Senhora Aparecida dividindo os dois patrimônios;  

j) – Rua Othon Mäder – a rua que passa defronte a casa onde atualmente reside, digo, está instalada a Coletoria Estadual, paralela à Avenida Moysés Lupion; 

k) – Rua Ademar de Barros – a rua que passa defronte a casa onde atualmente reside o sr. Emiliano, passando defronte a casa onde atualmente também reside o sr. António Saks e paralela à Rua Othon Mäder; 

l) – Rua do Governador Bento Munhoz – a rua paralela à Rua Ademar de Barros, passa defronte a atual Delegacia de Polícia; 

m) – Rua Manoel Ribas – a rua que paralela à Rua Governador Bento Munhoz, passa defronte ao portão da 5ª secção de Estradas de Rodagem passando o bar do sr. Pedro Zandoná e seguindo em frente; 

Art. 2°) – Fica estabelecido que para o futuro todas as ruas que forem abertas paralelas à Avenida Brasil, tomarão nomes de Estados e quando não mais houverem nomes de Estados, tomarão então nomes de Territórios Nacionais (…)

Ruas varridas do mapa

No futuro, algumas ruas teriam alteração nos nomes. A Rua do Governador Bento Munhoz, por exemplo, era indigesta para uma cidade dominada por Moysés Lupion, que disputava o controle do Estado com as famílias Munhoz e Camargo.  

Por isso, a rua com seu nome virou Rua Pio XII. Da mesma forma, a Rua Moysés Lupion era inaceitável para os seus adversários e foi mudada para “Rua Sete de Setembro”. As mudanças foram feitas em atenção à nova norma de não dar nomes de pessoas vivas a ruas e instalações públicas. 

A Câmara de Cascavel ficava em uma pequena sala junto à Prefeitura, onde não havia espaço para o público. Como não havia rádio, alto-falantes espalhados pelas esquinas faziam transmissões, tocavam música e veiculavam anúncios de utilidade pública. 

Criado em 1951 pelo sargento Oswaldo Hercílio de Oliveira, da equipe militar que construía a futura BR-277, o serviço de alto-falantes intitulado “A Voz do Comércio e do Povo de Cascavel” transmitia as sessões legislativas à população presente em algum ponto da Avenida Brasil no Patrimônio Velho. 

“Nas reuniões da época havia grandes debates”, recordou José Neves Formighieri. “E tanto eu como o Dimas Pires Bastos, presidente do Legislativo, fazíamos questão que o povo fosse lá e soubesse o que estava acontecendo”.

Sem polarização

Havia debates sobre aspectos técnicos, mas não polarização nem guerra entre os políticos. O entendimento e a diplomacia garantiam decisões corretas e viáveis. “Nenhuma mensagem minha, como prefeito, foi rejeitada pela Câmara, porque os problemas de interesse do Município eram discutidos com todos os integrantes do Legislativo”, contou Neves Formighieri. “Eu não interferia em nada”.

O prefeito nunca vetou as matérias aprovadas pela Câmara porque havia acordo entre as bancadas da situação e da oposição majoritária. 

“Só numa ocasião vetei uma palavra contida num projeto de regulamentação de venda de terras do município. Vetei a expressão à vista, por entender que as vendas de terrenos por parte do município não poderiam ocorrer dentro dessa modalidade e sim a prazo, de acordo com a própria lei estadual mediante a qual tais áreas foram doadas ao município”.

Nem mesmo com as mortes a tiros de dois vereadores da oposição – Adelino Cattani e Donato Matheus Antônio, do Partido Republicano – houve polarização aguerrida entre grupos divergentes. Isso, entretanto, mudou depois do suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.  

100 anos da revolução: Governo sabia do golpe

A espionagem do governo Bernardes era implacável e em março de 1924 ficou ainda mais ativa por conta de um informe reservado avisando que haveria uma tentativa de revolução em São Paulo no dia 29 desse mês.

O major Bertholdo Klinger (1884–1969) era apontado como o provável líder do golpe militar a ser desfechado nessa data. Gaúcho, filho de imigrantes, ser indicado pela espionagem do governo como o líder da revolução iminente lhe valeu depois a detenção pelas forças governistas.

Os informes dos agentes secretos explicaram que a revolução não começou em março porque “a munição de que dispunham em São Paulo era insuficiente e só daria para dois meses de luta, e eles precisavam ter munição para lutar seis meses”.

Relataram que havia uma disputa entre Klinger e Isidoro Dias Lopes pela chefia da rebelião. Os espiões não perceberam que Klinger, na verdade, estava a serviço do governo. Ele foi um dos mais ferozes combatentes contra os revolucionários, segundo Juarez Távora, um dos principais líderes rebeldes.

Era uma espionagem ainda sem tecnologia, mais baseada nos ódios dos delatores e em fofocas que em critérios bem definidos.  

O mistério de Bertholdo Klinger: combateu ferozmente a revolução, mas foi preso acusado de ser revolucionário

 

 

Fonte: Alceu Sperança

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