9 de novembro de 1952. Nesse dia, os eleitores de Cascavel, Toledo e Guaíra iriam às urnas pela primeira vez. Cascavel e Guaíra eram ex-distritos de Foz do Iguaçu. Toledo pulou diretamente de um empreendimento particular, gerido pela Companhia Maripá, para uma unidade administrativa do Estado do Paraná.
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Toledo, mesmo virando município e tendo um prefeito, continuaria sob o comando da empresa colonizadora que fez prosperar a antiga Fazenda Britânia com um excelente projeto de colonização e reforma agrária.
Guaíra também havia sido o domínio de uma empresa: a Matte Larangeira*, desde 1902. Em 1938 a área foi anexada ao Município de Foz do Iguaçu e em 1943 a empresa perdeu direitos sobre a região.
Permaneceu distrito de Foz do Iguaçu até a eleição do dia 9 de novembro de 1952, dia em que elegeu seu primeiro prefeito, Gabriel Fialho Gurgel, que era quase um estranho em Guaíra. Até recentemente ele morava em Cascavel.*Grafia original: refere-se ao proprietário, Tomás Larangeira https://x.gd/dj6gN
Fundador do Tuiuti
Gurgel, entretanto, era um líder. Reunia carisma e uma oratória animada que o levaram a fundar o Tuiuti Esporte Clube. Além de orador oficial do clube, Gurgel liderou a comissão que construiu a primeira sede do clube, na qual foram feitas as reuniões que iniciaram a formação do Município de Cascavel.
Cearense, formado em Odontologia, Gurgel veio para Cascavel depois de trabalhar na Prefeitura de Curitiba. Foi eleito em 1952 para a Prefeitura de Guaíra pelo PTB, mesmo partido pelo qual também se elegeram os primeiros prefeitos de Cascavel e Toledo, sinal da força do getulismo no país.
Fialho elegeu uma superbancada para apoiá-lo na Câmara Municipal: oito dos nove vereadores eram também do PTB – Alexandre José da Silva; Arnaldo Bacchi; Osíres Soley; Gody Werner; João Campos Lopes; Fernando Maciel Foster; Joaquim Dornelles Vargas e Vicente Augusto Brilhante, o presidente.
Só o vereador Otacílio Amaral dos Santos pertencia ao Partido Republicano. Com tanto apoio, fez aprovar uma lei polêmica para facilitar o custeio da administração: criou uma taxa por árvore derrubada – 20 cruzeiros (a moeda vigente) por árvore de madeira de lei abatida, a metade para pinheiros e outras árvores.
Gurgel também viveu em 1953 o início das cogitações para a construção de Itaipu, que inicialmente resultaria da exploração das Sete Quedas. Vieram estudar a área engenheiros da Alemanha, EUA, Inglaterra, Japão e União Soviética.
Dall’Oglio, carreira brilhante
O primeiro prefeito de Toledo, eleito na mesma data, também era um profissional da área de saúde. O médico Ernesto Dall’Oglio (https://x.gd/lqaqo), referendado pela Maripá, mas ligado ao PTB, não teve oponentes, recebendo 737 dos 824 votos válidos.
Para a Câmara, prevaleceu o Partido Libertador, por conta das ligações de chefes da empresa com esse partido no Sul. O Partido Libertador (não confundir com o PL de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro) foi criado por Assis Brasil, apoiador da Revolução de 1924, e Raul Pilla. Defendia o parlamentarismo e teve como grande destaque depois de sua dissolução o senador e ministro da Justiça Paulo Brossard, que também foi membro do STF.
O PL elegeu oito dos nove vereadores toledanos: Guerino Viccari, Alcebíades Formighieri, Rubens Stresser, Clecio Zeni, o historiador Ondy Niederauer, Wilibaldo Finkler, Leopoldo Schmidt e Waldi Winter, ligado à futura Marechal Cândido Rondon. O PR, do governador Bento Munhoz, elegeu apenas José Ayres da Silva.
Acusado de descumprir a Lei Orgânica Municipal, Dall’Oglio foi cassado em abril de 1953, mas recorreu, sendo reconduzido à Prefeitura em dezembro. Eleito para a Câmara em 1956, voltou mais uma vez à Prefeitura em 1962, em condições extraordinárias.
Os três candidatos de Cascavel
Em Cascavel, até o início de novembro de 1952 era dada como certa a vitória do farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos (https://x.gd/etOTg) para a Prefeitura, com a Câmara formada por vereadores ligados à indústria madeireira e ao comércio.
Comunista, com o PCB posto na ilegalidade pelo governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, Tarquínio concorreu pelo PR (Partido Republicano), controlado pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto.
Tarquínio era amado pela população da cidade, que seguia do atual Terminal Rodoviário até a Rua Sete de Setembro, e tinha o apoio da primeira família que se instalou em Cascavel.
A matriarca Laurentina Lopes Schiels, desde os anos 1940 já estabelecida na área urbana de Cascavel, procedente do Cascavel Velho, morava na mesma rua que Tarquínio: a Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro.
Concorriam também à Prefeitura o agropecuarista José Neves Formighieri (https://x.gd/xM7tq), pelo PTB, com maior apoio no interior do distrito, menos no Cascavel Velho, e pela UDN o respeitado Ramiro de Siqueira, pioneiro que acompanhou José Silvério na formação da vila de Cascavel, em 1930.
Na correria, a falta de ar
Choveu, o que prejudicou o acesso à urna localizada na cidade, mas os caminhões que puxaram eleitores do interior conseguiram chegar a tempo. Na época os candidatos eram autorizados a transportar os eleitores às seções eleitorais e lhes davam as cédulas para depositar na urna.
Tarquínio Santos estava no interior para reforçar a campanha onde estava mais fraco, mas seu veículo enguiçou, ficando retido pela chuva. Quando conseguiu chegar à cidade, a votação estava encerrada e ele não conseguiu votar.
Fechada a votação à tarde, os votos partiram em comboio para Foz do Iguaçu, sede da Comarca, onde seria feita a apuração.
Santos saiu de imediato no encalço da comitiva que se dirigia a Foz do Iguaçu para a contagem dos votos entre os quais não estava o seu, pois não conseguiu votar.
Chegando quase sem ar a Foz do Iguaçu, a contagem dos votos já em andamento o mostrava com dezenas de votos na dianteira.
Sentindo-se mal, saiu para tomar um ar e quando retornou ouviu o alarido: José Neves Formighieri havia vencido por um voto.
Refletiu que se chegasse a tempo de depositar o voto estaria eleito, pois provocaria o empate com o candidato José Neves Formighieri e seria proclamado eleito por ser o mais idoso entre os postulantes.
Perdeu, mas não complicou
Tarquínio recorreu à Justiça Estadual por conta de dezenas de votos dados a Formighieri apresentando pingos de barro. No entanto, naquela época os eleitores traziam as cédulas distribuídas pelos candidatos. Os pingos de lama se deviam ao transporte em estradas de terra em tempo chuvoso e não a qualquer irregularidade.
Assim, o candidato José Neves Formighieri, do Partido Trabalhista Brasileiro, estava eleito com 383 votos, apenas um a mais que Tarquínio Santos, que não conseguiu votar em si mesmo.
Formighieri assume em 14 de dezembro o cargo de prefeito no prédio de madeira destinado por Jeca Silvério à subprefeitura. Com ele assumem os componentes da primeira legislatura da Câmara Municipal.
O PTB, além do chefe do Executivo, elegera quatro vereadores: Francisco Stocker, Helberto Schwarz, Antônio Massaneiro e Jacob Munhak. O Partido Republicano, todavia, alcançou a maioria, assegurando cinco vagas: Dimas Pires Bastos, Adelar Bertolucci, Adelino André Cattani, Donato Matheus Antônio e José Bartnik.
Tarquínio tentou obter o mandato com recurso na Justiça Estadual. Seu partido tinha maioria na Câmara e poderia embaraçar a administração, mas ao concordar com as primeiras medidas tomadas por Formighieri decidiu apoiar as iniciativas do novo prefeito.
O acordo da governabilidade
O secretário municipal Celso Formighieri Sperança foi o encarregado de fazer os contatos com Tarquinio, que por motivos de saúde se transferiu para Foz do Iguaçu. Os vereadores do PR concordaram em fazer a administração fluir sem embaraços.
A decisão de Tarquinio de apoiar a gestão Formighieri se deveu ao empenho da administração municipal em criar escolas no interior e preparar bem os professores. Por sua vez, Formighieri se filiou à Associação Rural de Cascavel, criada por Tarquinio.
Os três prefeitos oestinos eleitos em 1952 também se elegeram em 1956 para suas câmaras municipais, mas só Ernesto Dall’Oglio fez carreira política nacionalmente, chegando à Câmara Federal.
Antes, porém, Dall’Oglio foi reeleito para a Prefeitura de Toledo em 1962, em corrida apertada contra Lamartine Braga Cortes no pleito suplementar determinado para substituir o prefeito Willy Barth, morto no exercício do cargo.
Presidente da Associação Rural de Toledo, o médico se elegeu deputado estadual pelo MDB antiditatorial em 1974 e deputado federal em 1978. Morreu em 2006.
Seu herdeiro político foi o genro Nelton Friedrich, igualmente com uma brilhante carreira na área federal, notabilizando-se como secretário estadual do Interior e gestor do programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional.
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