Veio procurar petróleo e fundou um clube

Acima, José Bartnik, Sebastião Alves Krassuski e a gaiota usada no apoio à construção de estradas e aeroportos. Abaixo (PAR-T), áreas que a Agência Nacional do Petróleo ofereceu em leilão no Oeste e Sudoeste do Paraná

Na queda de braço entre União e Estado para comandar o esforço de desenvolvimento e colonização no Oeste, em 1940 a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, criada em 1924 por lei federal e instalada em 1933 como estadual, em 1940 foi recriada como Capitania Fluvial dos Portos do Rio Paraná por decreto do presidente Getúlio Vargas.

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Os atritos entre União e Estado iriam dar em uma arrastada pendência judicial e conflitos sangrentos pela posse da terra, mas com a II Guerra em pleno curso e aumentando a destruição na Europa, a necessidade de reconstrução faz a década de 1940 começar altamente promissora para o Oeste do Paraná, por conta de suas matas cobertas de madeira.

O movimento madeireiro abriu um leque de oportunidades para os aventureiros que vinham para a região. Os relatos indicam que eles chegavam, ocupavam uma área e partiam em busca das famílias. Na volta corriam o risco de encontrar outra família no local – ou, pior, os jagunços dos grileiros de terras.  

Lavoura, moinho, mel, loja, hotel, ônibus…

A história de José Bartnik, filho do marceneiro e carroceiro polonês Valentin e de Maria Galeski Bartnik, é um caso exemplar de sucesso entre os pioneiros. Nascido em 21 de junho de 1908 em Colônia Vieira, no Município catarinense de Canoinhas, José uniu as famílias Galeski e Bartnik à Tfardoski, de sua esposa Bertha, de origem austro-alemã, que vivia em Catanduvas.

A família Bartnik pertence ao núcleo inicial de colonos poloneses e ucranianos que se deslocou de Santa Catarina ao Paraná na década de 1920. Os Bartnik se instalaram inicialmente em Catanduvas e depois em Formiga (Cascatinha).

Até por volta de 1939 ele trabalhou na lavoura, vindo depois a montar um moinho para arroz, fubá e trigo, possuindo, ainda, cerca de 400 caixas de abelhas, vendendo os produtos da apicultura em Ponta Grossa e Guarapuava.

Em 1940, vendendo essa propriedade “por 18 contos”, veio morar em Cascavel, montando uma loja de secos e molhados. Marceneiro, carpinteiro, comerciante, hoteleiro, também atuou no setor de combustíveis e teve uma empresa de ônibus na linha Cascavel-Corbélia.

Além de fundar o Tuiuti Esporte Clube ao lado de outros pioneiros em 1949, Bartnik foi eleito vereador para a primeira legislatura, em 1952, e foi secretário da Câmara quando o Município começou a funcionar, em 1953. José Bartnik e Bertha tiveram nove filhos: Atacília, Ercílio, Valdir, Gládis, Ivone, Loudi, Zita, Neli e Judite. Ele morreu em 22 de setembro de 1968.

Avião apoiava avanço dos colonos

O cenário em que Bartnik se movia era a arrancada do ciclo madeireiro regional, favorecido pelo Correio Aéreo, que aproximava os colonos do contato com as famílias nas regiões de origem.

A movimentação de correspondências, remédios e artigos perecíveis pelo ar aumentou, determinando em 1940 as reformas dos campos de aviação de Cascavel, Pinheirinho e Vinte-e-Quatro, tarefa entregue pelo Departamento de Aviação Civil ao feitor Floriano Borissa.

Sebastião Alves Krassuski, que viria a ser um dos fundadores do Tuiuti Esporte Clube ao lado de Bartnik, dos aviadores e famílias ligadas a Florêncio Galafassi e Manoel Ludgero Pompeu, começou a se fixar na região de Cascavel em novembro de 1945, quando partiu de Laranjeiras do Sul, então capital do Território Federal do Iguaçu.

Nascido em Guarapuava, Krassuski chegou para trabalhar na função de motorista de caminhão, empregado pela Comissão de Estradas de Rodagem, que prosseguia as obras da rodovia federal, futura BR-277, mas já conhecia Cascavel desde 1940, quando, aos 23 anos, fazia o transporte de operários para trabalhar na construção do segundo aeroporto cascavelense.

Gaiotas: presentes em todas as obras

A tecnologia para o transporte de material eram gaiotinhas puxadas por jumentos. A gaiota era um misto de carrocinha com vagonete, com mecanismo para deslizar sobre trilhos.

Os operários contratados para a empreitada de reconstrução, vindos de outras regiões, ao concluir o serviço tinham duas opções. Voltariam aos locais de origem para esperar novos trabalhos. Ou aceitariam a oferta de terras para ficar na vila, onde já havia oportunidades na indústria madeireira e prestação de serviços.

Mas Krassuski ainda voltaria a Guarapuava e só no final da II Guerra decidiu se radicar em Cascavel. O caminhão utilizado por Krassuski na época, segundo Antônio Coutinho, filho de José Coutinho, um dos operários que participou das obras do aeroporto, pertencia a uma companhia norte-americana de exploração petrolífera.

Era a Standard Oil, da família Rockfeller, que por meio da Companhia Geral Pan-Brasileira, ligada a Moysés Lupion, perfurou dois poços de petróleo na região de Cascavel.

Sinais dizem que há petróleo

Hoje essa lembrança parece fantástica e surreal, pois não há petróleo em Cascavel. No entanto, fala-se em petróleo no Paraná desde fins do século 19, quando uma equipe norte-americana foi contratada para explorar e abrir 124 poços na bacia do Rio Paraná.

Mapas geológicos estadunidenses da época apontavam para a existência de recursos minerais variados na região, inclusive petróleo. Isto se deve à presença de uma ampla camada de basalto, rocha firme resultante da existência de vulcões ativos na região na pré-história.

Para saber o que ela esconde, só perfurando. Por isso o interior do Paraná foi pioneiro também na exploração petrolífera nacional. O primeiro poço do Brasil foi aberto em Inácio Martins, próxima a Guarapuava e Irati.

Entre 1980 e 1982, a Paulipetro, estatal paulista criada pelo então governador Paulo Maluf, perfurou 69 poços sem achar jazidas viáveis. Entre 1998 e 2008, a Agência Nacional do Petróleo ofereceu em leilão 11 blocos para a exploração de petróleo, sem sucesso. Oito nem receberam lances.

Em 2010 a ANP voltou àquela região, com mais de 600 homens encarregados de achar petróleo e gás desde o Sul até a área de Itapejara do Oeste.

Foi mais uma das frustradas operações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas deixou como legado o estudo exploratório da Bacia Sedimentar do Paraná.

Das cartas ao ramo imobiliário

Quando veio se fixar em Cascavel, Sebastião Krassuski não imaginava que iria se tornar uma das pessoas mais conhecidas e estimadas da cidade depois de participar em 1949 da fundação do Tuiuti Esporte Clube, do qual foi ecônomo.

Em sua época, o Tuiuti funcionava como uma espécie de cassino informal. Sendo o jogo legalizado desde 1933 e proibido no governo Dutra em 1946, o clube, fundado em 1949, contava com um salão de jogos de cartas.

Mesmo atacado pelos religiosos, o carteado funcionava porque as autoridades estavam distantes, em Foz do Iguaçu, e os policiais do distrito de Cascavel fechavam os olhos para o jogo, que não tinha ligações criminais, ficando sob a vigilância do ecônomo e rigorosa obediência às regras do clube.

Com isso, eram permitidas as rodadas de pife-pafe e pôquer, que movimentavam a sociedade cascavelense. Com a instalação do Município, em 1952, e da Justiça Estadual, em 1954, os jogos de azar no clube não seriam mais aceitos.

A extinção dos jogos de cartas inviabilizou o trabalho de Krassuski na administração dos jogos de salão no Tuiuti, mas o transformou em corretor de imóveis. O Município tinha muitos lotes para vender e precisava dessa renda para tocar as atividades da Prefeitura.

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